“Marianne Perettti: uma artista que compreende o sentido das artes, da invenção das artes, para ser mais claro. É uma artista de excepcional talento.” A declaração encantaria qualquer um, certamente. Vinda de Oscar Niemeyer (1907-2012), transforma-se em tributo. Mais ainda: o arquiteto falava com absoluta propriedade já que os dois dividiram diversas criações. Marianne Peretti – A ousadia da invenção, livro com 348 páginas, conta parte desse casamento de arte e mais. A obra tem pré-lançamento, amanhã, na França, país natal de Marianne, dentro do Salão do Livro de Paris.
A artista celebrada se confessa feliz com o evento: “Ótimo que comece por Paris. Eu nasci ali. É a minha cidade. Sempre foi muito importante para mim”, afirma. Mas aqui já vale emendar com outra declaração dela, comprovando a importância do meio sobre a criação: “Se eu não vivesse no Brasil, minha obra seria totalmente diferente”.
Moradora de Olinda desde 1985, onde se mantém trabalhando em seu ateliê aos 87 anos, a artista, filha de pai pernambucano e mãe francesa, veio ao Brasil pela primeira vez aos 20 anos. O livro nos ajuda a desvendar outros capítulos da vida de Marianne: ela se chama Marie Anne Antoinette Hélène Peretti; quando vivia na França, passou fome e frio durante a Segunda Guerra; iniciou a sua formação artística aos 15 anos, na École Nationale Supérieure des Arts Décoratifs; fez, também em Paris, a sua primeira exposição individual, onde ouviu de ninguém menos do que Salvador Dalí: “você não é uma artista burguesa”; recebeu prêmio pela capa do livro As palavras, de Jean-Paul Sartre.
Mas é quando a vida de Marianne passa a marcar a arte brasileira, moldando esculturas, criando vitrais imprescindíveis e mudando a paisagem de nossas cidades que o livro ganha ainda mais importância.
Ela foi única mulher a integrar a equipe de artistas que acompanharam o arquiteto Oscar Niemeyer na construção de Brasília. Dezenas de suas criações estão espalhadas por pontos importantes da Capital Federal: Memorial JK, Câmara dos Deputados, Senado Federal, Superior Tribunal de Justiça, Palácio do Jaburu, Panteão da Liberdade... A principal delas, a Catedral de Brasília: “Os vitrais maravilhosos que criou para a Catedral de Brasília são comparáveis, pelo seu valor e esforço físico, às monumentais obras da Renascença,” declarou o mestre Niemeyer.
“Acho que Oscar gostava dos meus trabalhos porque quando estou criando busco fazer com muita liberdade”, reflete a criadora. “É preciso entender a liberdade da invenção.” As obras de Marianne também estão em diversas cidades do Brasil, incluindo o Recife, e no exterior.
Marianne Peretti – A ousadia da invenção traz textos de Jacob Klintowitz, Joaquim Falcão, Veronique David, Sonia Marques e Yves Lo-Pinto Serra. As fotografias são de Breno Laprovítera, Jarbas Júnior, Kadu Niemeyer, Saulo Cruz, Robson Lemos e Michel Moc. Na edição, B52 Desenvolvimento Cultural e Edições Sesc SP. Tactiana Braga e Laurindo Pontes dividem a produção. Ainda não há datas para o lançamento do livro no Brasil.