GARANHUNS - Nem só de shows de faz o Festival de Inverno de Garanhuns. Desde que começou a integrar, como carro-chefe, do chamado Pernambuco Nação Cultural, há quase dez anos, o FIG passou também a investir nas linguagens paralelas que compõem uma grade multiartística do evento. Como é o caso das ações de artes visuais, que ocupam a a Casa Galeria Galpão, ao lado da Esplanada Mestre Dominguinhos.
No espaço, com acesso gratuito, o público confere ações de moda, desenho, pintura, design e fotografia, além de apresentações de teatro e dança alternativas. São 13 exposições fixas e aproximadamente 30 ações, incluindo performances e até um estúdio de tatuagem.
A curadoria do ambiente foi feita a partir da convocatória lançada pela Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE), responsável pela gestão da galeria. O conteúdo também atende às demandas dos artistas de Garanhuns, como explica a assessora de Design e Moda da secretaria, Janaína Branco.
Entre os selecionados para expor no galpão do FIG 2016 estão artistas de todo o Estado, incluindo a própria cidade de Garanhuns. “Todos os anos, nós reservamos uma quantidade de vagas para artistas da cidade. Mas neste ano, eles nem precisaram recorrer a isso, porque os que se inscreveram tiveram pontuação tão alta, suficiente para entrar sem a cota”, diz Janaína.
DESCOBERTAS
No passeio pela Casa Galeria Galpão, o visitante vê estilos e linguagens diferentes que dialogam em si por uma temática impermeada por reflexões sobre o humano e as identidades.
A exposição A Imagem da Resistência, do fotógrafo Iezu Kaeru, uma das mais bonitas do espaço, é um mergulho na cultura afro de Pernambuco, a partir da biografia do babalorixá Tata Raminho de Oxóssi. “A exposição surgiu de um convite do Afoxé Omô Nilê Ogunjá, que fez uma homenagem aos 70 anos de Raminho no Carnaval deste ano. Fui chamado para fotografar a homenagem e esse material virou um álbum”, conta Kaeru.
As fotos, então, ganharam nova estrutura na galeria. Impressas em diferentes formatos, incluindo lambe-lambe, as imagens reúnem referências religiosas e sincréticas que estão presentes na vida do sacerdote. Há registros não só do Carnaval, mas também um ensaio com Raminho no meio mata, usando as veste do orixá que o rege.
A sala em que está abrigada a exposição reproduz símbolos do candomblé, com folhas, oferendas e tecidos relacionados a Oxóssi. “A ideia é também, através da fotografia, causar rupturas, quebrar paradigmas. É uma exposição para quebrar preconceitos também”, fala o fotógrafo.
'Cavani Rosas Vai ao Cinema'. Foto: Leo Caldas/Fundarpe/Divulgação
No Galpão ainda é possível ter contato com experiências sensoriais e afetivas. Nas obras expostas pelo artista plástico Cavani Rosas, por exemplo, os traços marcantes revelam a sensualidade da mulher e a sombria solidão. Em Cavani Rosas vai ao Cinema, ele expõe desenhos feitos para filmes os filmes Ex-Mágico e Deixem Diana em Paz.
A presença feminina também é marcante em Chacrona, de Priscila Lins, na qual a artista faz aquilo que ela intitula de “selfie” em desenho, para colocar em evidência o empoderamento da mulher. São desenhos pop, predominantemente em tons de vermelho, que recriam expressões femininas.
O SERTÃO UNIVERSAL
Há, ainda trabalhos sobre afetividade, como Admirável Sertão Novo, de Elias Roma Neto e Pedro Moreira. A exposição é uma viagem sentimental pelo Sertão universal, como o escrito por João Guimarães Rosa. Através de fotos, vídeos e frases, a dupla fala da aridez da saudade, da redescoberta da vida, de felicidades que surgem no inesperado e da contemplação pelo sertão.
Admirável Sertão Novo nos leva a uma viagem afetuosa pela caatinga relida -- relida em palavras que não reusam a rima, relida em músicas que nada têm a ver com o comum associado às veredas quentes do Nordeste. E, justamente pela sinceridade que há nos sentimentos ali colocados pelos dois amigos, o visitante se sente à vontade para escrever nas paredes, a giz, o seu Sertão.
>> O repórter viajou a convite da Secretaria de Cultura de Pernambuco.