Quase 40 anos e sete mil peças depois, tantas que ele nem sabe quantas são, o arquiteto Carlos Augusto Lira é hoje um dos maiores colecionadores de arte popular brasileira do País. Tão grande, diversa e representativa é sua coleção que, além de abarrotar sua própria residência, tornou-se necessário alugar um galpão onde ele mantém a sua “reserva técnica”.
Carlos Augusto lembra que, nos anos 70, foi a Tracunhaém comprar um conjunto de barro para feijoada, se deslumbrou com o que viu e nunca mais parou.
Sob a influência de Janete Costa e Acácio Gil Borsoi, colegas de profissão, tornou-se um dos grandes militantes na missão de derrubar a fronteira invisível, mas às vezes intransponível, entre arte popular e erudita na arquitetura. “Essa diferença tende a acabar”, diz o arquiteto que, para o bem da memória brasileira, segue um compulsivo comprador. “Nunca terei a coleção dada como completa”, diz.
Embora possamos encontrar em sua compilação nomes de primeira grandeza que compõem a arte popular nordestina, como Vitalino, Eudócio, da primeira escola da Ilha do Ferro, em Alagoas, ou mestre santeiro Dezinho, do Piauí, o colecionismo de Carlos Augusto não se pauta (apenas) pelas grifes.
“Nunca me pautei pela compra de nomes consagrados”, diz ele. Na coleção, há, por exemplo, duas sereias-iemanjá de seis seios cada, mais de um metro e meio de altura. Foram compradas como de autoria anônima. Só depois de compradas, ele descobriu se tratarem de peças esculpidas por Doidão, Louco e Louco Filho, alguns os mais notórios artistas da escultura em madeira no Recôncavo Baiano. “Há peças cuja qualidade fala por si, nem precisamos saber de quem são”, diz o arquiteto.
“Nunca tive a preocupação de ser colecionador. Era apenas um comprador entusiasmado”, minimiza.