Considerada pela Revista Zum, do Instituto Moreira Salles, do Rio de Janeiro, como uma das dez melhores publicações de fotografia publicados em 2016, o livro Ressaca Tropical (Ubu Editora, 2016), de Jonathas de Andrade, é lançado hoje no Recife, a partir das 19h, na Galeria Maumau, no Espinheiro. O artista também exibe O Peixe, com o qual participou, ano passado, na 32ª Bienal de São Paulo.
A programação faz parte do calendário do Cinecão, um projeto de resistência artística, com exibição de audiovisuais e artes plásticas, da Maumau. Ainda na mesma noite haverá performances orientadas por Luciana Freire D'Anunciação.
Antes de virar livro, Ressaca Tropical nasceu como fotoinstalação: cerca de 240 peças eram apresentadas em conjunto com fragmentos de um diário, na Bienal do Mercosul, em 2009. A obra de Jonathas parte de um diário anônimo, encontrado no lixo em 2003, que relata as aventuras de um jovem entre 1973 e 1977. O livro é intercalado por fotografias das coleções de Alcir Lacerda, da Fundação Joaquim Nabuco - Cehibra, Geraldo Delmas e do próprio artista.
Vistas aéreas do Recife, fotos pessoais, ruínas e prédios modernistas dividem espaço com os relatos de romances, idas ao Ritz, ao Art Palácio, à Livro7, encontros com amigos e elucubrações do autor do diário anônimo.
"Há no Ressaca Tropical um incontornável protagonismo do Recife e do lugar da ruína nesta cidade. Como o próprio artista escreve no livro, o projeto surge a partir do sentimento de viver “numa cidade-ruína; preciosa, violenta, saqueada, tropical”.
“Eu acho que o Ressaca Tropical sempre teve uma vocação para livro. Desde que pensei o projeto como uma exposição, ainda reunindo os vários acervos e tentando costurar isso com o diário encontrado no lixo, pensei que funcionava muito naturalmente como uma diagramação. A própria instalação funciona como uma linha do tempo, com os escritos dispostos em linha reta, as 140 folhas que são 140 dias, e as fotografias se articulando em vários tamanhos. É um processo muito natural ver este projeto virar livro, e que eu desejei desde 2009, então eu fico muito feliz de ver isso sendo realizado agora”, diz Jonathas.
Filmado em 16mm, com um grupo de pescadores de Piaçabuçu e Coruripe, na foz do Rio São Francisco, entre Alagoas e Sergipe, o filme O Peixe transita entre a ficção e a realidade, território sobre o qual o artista propõe um ritual fictício: homens abraçam suas presas acalmando e acompanhando-as na passagem para a morte. O filme já foi mostrado em exposições internacionais, como no New Museum em Nova Iorque, na Bienal de Sharjah e no Power Plant em Toronto. “O filme fala um pouco da relação do povo com a ancestralidade e com a tradição, mas também sobre a relação entre a dominação, o alimento, a natureza, e sobre como isso é naturalizado, mas também bastante violento”, explica Jonathas.
Ressaca Tropical e O Peixe, de Jonathas de Andrade, no Cinecão, da Galeria Maumau. Rua Nicarágua, 173, Espinheiro. Fone: 3221-7900.