O hábito de enviar cartas e postais sofreu uma queda vertiginosa nas últimas décadas, em especial com a popularização da internet. Às gerações mais recentes, o processo da escrita no papel, do preenchimento do envelope, colar o selo e até o tempo necessário para a chegada da mensagem e de uma possível resposta é estranho. No campo artístico, os Correios e os objetos relacionados a ele geraram um movimento de escala mundial, a arte postal (ou mail art), que, assim como o próprio meio, caiu em certo ostracismo após florescer entre as décadas de 1970 e 1980. Teia Postal, exposição que é aberta nesta terça-feira (18), às 19h, no Instituto de Arte Contemporânea (IAC), busca dar um novo fôlego ao movimento em Pernambuco, dialogando com criadores de diferentes áreas de conhecimento.
O artista visual e professor da Universidade Federal de Pernambuco Eduardo Romero cultiva há tempos uma forte admiração pela arte postal, que no mundo mobilizou nomes como Ray Johnson e, no Estado, representantes como Paulo Bruscky e Daniel Santiago. Desse interesse nasceu o projeto de extensão Teia Postal: Arte Postal e Fotografia Contemporânea com seus alunos da UFPE. A ideia encontrou afinidades com outra ação extensionista da instituição, o Núcleo Experimental de Curadoria, coordenado pela professora Renata Wilner, e resultou na exposição que conta com trabalhos de alunos de diferentes áreas como artes visuais, museologia, arquitetura, design, entre outras.
“Sempre fui apaixonado pela arte postal. Da década de 1990 para cá, já não se fala tanto nessa produção, e isso se intensificou com das redes sociais. Dentro desse contexto, achei apropriado trabalhar essa expressão com os alunos e confesso que fiquei surpreso com a resposta; a aceitação foi muito boa. Realizamos ações nos campi do Recife e de Caruaru e uma das coisas que me surpreendeu foi que, para além da fotografia, muitos participantes, naturalmente, se sentiram instigados a se comunicar através das palavras, escrevendo mensagens”, explica Eduardo.
Para Marina Soares, estudante de Design no campi de Caruaru, o processo artesanal, como o da criação de selos, provocou uma sensação nostálgica por algo que, confessa, não vivenciou. “Foi um processo de aprendizagem muito interessante. Nunca tinha enviado uma carta pelos Correios. Para mim, foi uma sensação quase como a de ouvir um vinil”, explica.
Renata Wilner pontua que a ideia de integrar o projeto de curadoria instiga a desconstrução de conceitos que foram sendo consolidados com o tempo e conta com participação ativa dos alunos na concepção do projeto expográfico.
“O interessante desse projeto é pensar uma curadoria que é feita durante a exposição, porque se trata também de uma arte processual, que você tem que esperar e não sabe o que vai chegar; é um tempo diferente. A ideia é que novos trabalhos cheguem e sejam agregados à exposição”, pontua Renata.
De fato, ao longo da exposição, que atualmente conta com 150 obras, o público terá oportunidade de realizar novas oficinas de produção de arte postal e essas produções poderão ser incluídas na mostra. Além disso, quem tiver trabalhos nessa linguagem poderá enviar para a Caixa Postal própria (Caixa Postal 706, Olinda (PE). CEP: 53030-970). As obras em arte postal podem ser em qualquer formato, técnica e tema, desde que sejam trabalhos originais e de autoria própria. No IAC também haverá uma caixa de correio para receber trabalhos, além de uma sala com a cronologia da linguagem no mundo e no Brasil.