Arqueologia íntima e sertaneja de Carol Monteiro em exposição no Mamam

Artista constrói poética a partir de elementos encontrados e ressignificados no calor da terra
Bruno Albertim
Publicado em 06/12/2018 às 2:30
Artista constrói poética a partir de elementos encontrados e ressignificados no calor da terra Foto: Francisco Baccaro / Divulgação


Nos fundos do térreo do prédio, perto da entrada da Rua da União, o espaço envidraçado batizado de Aquário Oiticica, no Mamam, recebe outra individual assinada por uma artista. Um espaço aparentemente exíguo. Com cerca de 15 obras de dimensões relativamente pequenas, a mostra Coração de Pedra, da pernambucana Carol Monteiro, tem uma densidade poética para além de sua aparente concisão.

Também estilista e figurinista, a mostra parte da intersecção entre moda e arte na trajetória da Carol. Sim, a ideia surgiu a partir de uma coleção de biojoias. Mas, poeticamente, cruza duas geografias da artista: uma mais interna, subjetiva; e outra externa, a do mundo ao redor internalizado e objetivado por sua percepção.

PEDRAS

Ao lançar mão do expediente de garimpar ready-mades, ou objetos prontos, recolhidos ao acaso, Carol Monteiro reconta, em Coração de Pedra, uma narrativa muito particular do Sertão. Ao recolher elementos como pedras, resquícios de utensílios rurais como rodas de carros de boi, ossos de conformações intrigantes e até móveis abandonados, a artista cria uma série de totens que mostram a imanência poética dessa região ensolarada de contrastes.

Há quatro anos, Carol empreendeu uma pequena viagem. Quando descobriu o quanto o Sertão estava vivo dentro de si – e fértil o bastante para, a partir da parceria com a produtora e amiga Maria Rosa Pereira, ser materializado nesta série. Na viagem recente, o Sertão lhe ressurgia como em impulsos e lembranças da região apresentada por sua mãe, a educadora Dosa Monteiro, já falecida.

“Conheci o Sertão pelo olhar da minha mãe, sertaneja, que tinha a delicadeza de chamar minha atenção para a beleza de um aboio e, ao mesmo tempo, para a dureza da vida da gente daquele lugar ”, lembra. “Não sabia como tudo aquilo ainda estava dentro de mim”, diz ela que, tangida por preocupações também com sustentabilidade, rejeitou a possibilidade de comprar os insumos de suas obras. Como arqueóloga tanto do lugar como de si mesma, ia se apropriando dos objetos encontrados pelo chão agreste.

Arranjados pela sensibilidade da artista, elementos como pedras naturais e pedaços de ferro, por exemplo, nos desestabilizam, de alguma forma, pela constatação de que o Sertão está pleno de pepitas poéticas a serem talhadas.

Coração de Pedra. Exposição de Carol Monteiro. Abertura, hoje, às 19h. Na Sala Aquário Oiticica do Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães. Rua da Aurora, 265, Boa Vista. Fone: 3355-6871.

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