Aconteceu com os mercados da Ribeira, em Lisboa, e o de Pinheiros, em São Paulo. Tendência nos tradicionais entrepostos comerciais das cidades antigas, o corredor gastronômico é realidade consolidada no Mercado da Encruzilhada, Zona Norte do Recife. Numa das alamedas do prédio modernista, comida de “chef” convive com a culinária tradicional de sempre.
A melhor e mais bem-sucedida surpresa do novo corredor gastronômico é o Meu Muquifo, que se sai muito bem em cada uma das frentes em que atua. Uma delas é a padaria – de cara, uma das melhores neste momento em que o Recife começa, de fato, a entender o que é pão. Nas prateleiras, a casa dispõe de pães leves e de sabor contundente como só os de fermentação leve conseguem. Para levar para casa, ciabbatas, baguettes e, também, croissants (R$ 7,50, cada), formidáveis, recheados ou não, doces ou não (creme cítrico, chocolate, Parma...), massa quebradiça e sem o excesso de manteiga que tem sido cometido em endereços famosos por aí e que deixa tudo meio enjoativo.
O Muquifo entende de massas: o que pode ser também comprovado no cardápio de pizzas, igualmente de fermentação lenta, leves, sob camadas de muçarela e ingredientes tradicionais. A partir de R$ 28,90.
Ali, se pode provar bons sandubas, como o de porco assado no pão e, feliz ideia, tomar café da manhã – a fatia de ciabatta com ovo ‘perfeito”, ou seja, de gema cuidadosamente gelatinosa (R$ 7) faz o dia começar bem.
Novos e, sobretudo, saudosistas, vão encontrar ali uma verdadeira pièce-de-resistence. Como prato único da casa, é servido um robusto espaguete ao pomodoro com um nada singelo filé à parmegiana (R$ 19), prato que marcou época na extinta pizzaria Flor de Cheiro, da família do proprietário do Meu Muquifo, Paulo Carvalho.
Ao lado, fica a pastelaria ReiNado com empadas e pastéis, bem recheados. Mas o que faz mesmo a diferença ali é o (estupendo) bolinho de feijoada, muito bem temperado e recheado (R$ 12, com seis).
No final do corredor, fica o Beberibe, um botequim estilizado que une, no ambiente, o melhor dos dois mundos: caixas de cerveja pelo chão convivem em harmonia com uma instalação do teto que traz um exemplo bem humorado da “arquitetice” contemporânea. Os belisquetes contam com linguiça alemã e bons escondidinhos (Macaxeira com camarão; jerimum com charque, entre R$ 20 e R$ 30.) No cardápio, pratos-feitos estilizados para o almoço (entre R$ 20 e R$ 30, cada). Escolhem-se os acompanhamentos, como feijão verde ou o bom purê de batata-doce. O ratatouille é boa opção vegetariana. Mas artigos principais como o camarão ao pomodoro ou o lombo na cerveja carecem ainda de um tantinho de mais cuidado com textura e temperos (marinar nunca é demais), ficam com algumas camadas aquém de sabor.
Fechando o corredor, está a Reciclo Bike, misto de oficina e loja moderninha – de preços e serviços bem justos – para os ciclistas da cidade. E que, é sim, um endereço foodie: a loja conta com torneiras de chopes artesanais e, a cada 15 dias, faz o povo dançar nas tardes de sábado com suas edições da festinha Radiola de Mercado.