O ciclo da vida e da morte em Ventos de agosto

Filme de Gabriel Mascaro ganha estreia grandiosa partir desta quinta-feira (13/11)
Ernesto Barros
Publicado em 13/11/2014 às 6:00
Filme de Gabriel Mascaro ganha estreia grandiosa partir desta quinta-feira (13/11) Foto: Divulgação


Desde o fenômeno O som ao redor, de Kleber Mendonça Filho, que o cinema pernambucano não via um filme com tanta visibilidade internacional e nacional quanto Ventos de agosto, de Gabriel Mascaro, que estreia nesta quinta-feira (13/11), em circuito nacional. No Recife, o longa-metragem entra na programação do Cinema da Fundação e de três multiplex (Kinoplex Shopping Recife, Cinemark RioMar e Cinépolis Guararapes).

Tamanha atenção vem ancorada em prêmios e invejável recepção crítica em festivais de cinema mundo afora. Da Menção Especial no Festival de Locarno, em agosto, Ventos de agosto já passou por outros 22 (15 internacionais e 7 nacionais). Há menos de 15 dias, ganhou os prêmios de Melhor Diretor e Melhor Som no Janela Internacional.

Quinto longa-metragem de Gabriel, Vento de agosto é o primeiro em que ele se rende à ficção. Depois observar o País a partir de pontos de vistas econômicos, políticos e sociais – nos documentários KFZ-1348, este em parceria com Marcelo Pedroso, Um lugar ao sol, Avenida Brasília Formosa e Doméstica –, Mascaro desvia suas lentes para investigar noções de pertencimento numa pequena vila de pescadores, no litoral Norte de Alagoas.

Embora seja uma história de ficção, o filme carrega muitos elementos derivados da linguagem do documentário. A trama, por exemplo, é embasada numa tradição dos moradores de Porto de Pedras, que costumam enterrar seus entes queridos num cemitério à beira-mar. Para representá-los, Mascaro escalou atores profissionais e pessoas do lugar. O próprio diretor interpreta um dos personagens, um pesquisador que grava o som do ventos.

A história tem como principais personagens um casal de namorados. Shirley (Dandara de Morais, da novela Malhação), além de cuidar da avó idosa, trabalha numa empresa de extração de cocos e ajuda o namorado Jeison (Geová Manoel do Santos, um artesão da comunidade) na pesca. A primeira cena em que ela aparece é marcante: enquanto Jeison mergulha, Shirley ouve punk rock e passa refrigerante no corpo para se bronzear. Em outra cena, os dois aparecem nus e abraçados em cima de uma montanhas de cocos.

A partir de tais cenas, meticulosamente elaboradas, Mascaro desenvolve uma história muito original. Tudo começa a se desequilibrar quando Jeison pesca um crânio numa gruta marinha e depois resgata um cadáver na praia. Vida e morte se entrelaçam nas relações dele com a namorada, o pai e o resto da comunidade. Para Jeison, a presença da morte é tão perturbadora que ele vira uma outra pessoa.

Senhor absoluto de seu filme – além de dirigir, roteirizar e atuar, ele também foi o diretor de fotografia –, Mascaro entra em simbiose com o universo dos pescadores e traz à luz uma reflexão arguta e sensível sobre o inelutável ciclo da vida. 

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