Cineastas causam polêmica em debate no Cinema da Fundação

Aparentemente bêbados, os pernambucanos Lírio Ferreira e Cláudio Assis causaram desconforto após sessão do longa "Que horas ela volta?"
Do JC Online
Publicado em 30/08/2015 às 17:53
Aparentemente bêbados, os pernambucanos Lírio Ferreira e Cláudio Assis causaram desconforto após sessão do longa "Que horas ela volta?". Foto: Foto: divulgação


Em debate após sessão do filme Que horas ela volta? (2015), da diretora Anna Muylaert, estrelado por Regina Casé e Maeve Jenkings, na noite deste sábado (29), os cineastas pernambucanos Lírio Ferreira e Cláudio Assis causaram indignação na plateia presente na sala de exibição do Cinema da Fundação, no Recife. Muylaert, Ferreira e Assis entraram juntos portando garrafas de cerveja no local.

O debate, entre a diretora e o curador do cinema, Luiz Joaquim, começou logo após o filme ser exibido, por volta das 22h. De acordo com o cineasta e crítico de cinema Felipe André Silva, presente na ocasião, logo no início do encontro, Cláudio Assis não deixou Anna sentar na cadeira do palco. Lírio Ferreira, durante toda a conversa - que durou cerca de uma hora -, ficou gritando "barbaridades". "Lírio estava gritando que o filme era maravilhoso. Quando alguém tentava fazer uma pergunta, ele interrompia. Claudio Assis chamou Regina Casé de gorda e o maquiador do filme de bichona", relatou.

O fato ganhou grande repercussão nas redes sociais. Pessoas presentes no debate escreveram textos e comentários indignados com o comportamento dos diretores. "Um show de machismo escandaloso de Lírio Ferreira e Claudio Assis que tentaram impedir uma mulher diretora de falar sobre seu próprio cinema (...). Show de machismo, sexismo, gordofobia. Não passarão", publicou o diretor de arte Thales Junqueira no Facebook. A jornalista Carol Almeida também se manifestou através das redes sociais. "O que tinha acabado de ser projetado naquela sala de cinema era um filme sobre protagonismo feminino, sobre dar à mulher o lugar de fala que historicamente lhe foi negado. E aí o filme acaba, se acendem as luzes da vida tal como ela é e neste momento surgem dois homens para interromper a fala de uma mulher diretora", comentou.

A diretora Anna Muylaert declarou, em entrevista ao JC, que o ocorrido serviu para abrir uma discussão maior sobre machismo e preconceito, mas que não tinha a intenção de "demonizar" dois amigos. "Eles estavam bastante alcoolizados. Agiram de maneira intantil e boba, numa atitude de egolatria comum aos homens. Quando viram uma mulher em evidência, precisaram atrapalhar o momento", falou. De acordo com ela, após intervenções da plateia, no meio do debate, os dois se acalmaram um pouco. "O machismo é um tema levantado recorrentemente em todos os lugares que frequento. Em países da Europa, em várias cidades do Brasil que tenho visitado, o assunto sempre vem à tona. As mulheres não aguentam mais. Estamos todas por um fio", desabafou.

O Cinema da Fundação Joaquim Nabuco pediu desculpas, através do Facebook e do Twitter, aos frequentadores incomodados no debate. "A situação desagradável e o constrangimento causados servirão de exemplo para novas medidas a serem tomadas pela Fundaj, instituição que não corrobora nenhuma expressão de preconceito. Ao contrário, vem trabalhando há mais de seis décadas para tornar a sociedade melhor", dizia a nota.

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