No quarto longa em que trabalham juntos, Steven Spielberg e Tom Hanks revisitam uma época – A Guerra Fria – que nasceu da divisão do mundo quando a Segunda Guerra realmente chegou ao fim, pondo de lado contrários os Estados Unidos e a União Soviética. Baseado numa história real, Ponte de Espiões, que estreia hoje em circuito nacional, se passa entre 1957 e 1962, quando parecia que o mundo iria acabar a qualquer momento, com as duas potências metidas em escaramuças para mostrar qual era a mais poderosa.
O poder é o grande tema que subjaz à trama do filme, um dos melhores do diretor. Com inteligência, Spielberg e Hanks se reúnem para contar uma história decidida por quem não tem quase poder nenhum. Ponte dos Espiões pode ser visto como uma fábula nos moldes das que Frank Capra fez, nas décadas de 1930 e 1940, ao moldar o caráter do cidadão americano.
Aqui, o homem comum em questão é o advogado James B. Donovan (Tom Hanks, sempre eficiente), que foi indicado pela justiça para defender o Coronel Rudolf Abel (o inglês Mark Rylance), acusado de fazer espionagem para a União Soviética. As primeiras cenas do filme acompanham o cotidiano dele, um homem metódico que mora no Brooklyn, em Nova Iorque, e dedica o tempo a pintar auto-retratos ou cenas da cidade.
Lutando contra o próprio sistema, Donovan defenderá Abel ferozmente. Sua atuação, ao livrar o espião da sentença de morte, vai fazer com que duas pessoas tenham suas vidas ligadas ao destino de Abel: um soldado americano, acusado de espionagem, quando tem avião abatido em território soviético; um estudante americano, que fica do outro lado do Muro de Berlin, aprisionado pela polícia da nascente Alemanha Oriental.
Assim como Lincoln, seu longa anterior – com que tem um certo parentesco –, Spielberg dá uma aula de decupagem em cada cena de Ponte de Espiões. Apesar de conter apenas uma cena de ação – um avião pegando fogo caindo dos céus –, o filme é um drama de espionagem vibrante em toda sua duração. A única coisa que falta é a trilha sonora de John Williams, que ficou de fora por motivos de saúde. Dos últimos 27 filmes de Spielberg, Williams musicou 26 (a exceção era A Cor Púrpura). Mas Thomas Newman, seu substituto, não decepciona.