Ao final do Janela Internacional de Cinema do Recife - o oitavo já e desta vez não somente nos cinemas São Luiz e da Fundação, mas esticado até a Zona Norte, no Cinema do Museu - o coordenador Kleber Mendonça Filho comemorou: "118 sessões, nenhuma cancelada. Sabe o que isso significa? Um milagre." De acordo com ele, 19.687 pessoas assistiram aos filmes nas três salas de exibição, número recorde de espectadores. O realizador brincou, mencionando tanto os clássicos, quanto os filmes finalizados há uma semana, igualmente importantes na construção do festival de cinema.
Por falar em filmes recém-finalizados, o longa-metragem Ramo, primeiro da Jacaré Vídeos (leia-se os realizadores Hugo Coutinho, João Lucas, Pedro Andrade e Rafael Amorim), ganhou uma sessão de estreia concorrida e superlotada no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, no Derby. Não deu pra quem quis, nem para o público (segundo a bilheteria, restrito a 60 entradas) nem para os que estavam credenciados. "Acabaram os ingressos, os convites. E ainda tinha gente de fora. Inclusive a gente, da Jacaré", contou Rafael. "Negociamos a entrada da equipe, só mais cinco pessoas. Entraram mais quinze no bolo."
A sessão se iniciou com a exibição de um curta-metragem, Catimbau, de autoria de Lucas Caminha, estudante de Cinema da UFPE. Ambas as sessões contaram com ampla divulgação prévia, no Facebook, o que pode ter impulsionado a badalação. Quem ficou sem ver os filmes - a repórter deste JC inclusa, portanto a ausência de considerações sobre as obras - vai ter de esperar outra oportunidade, talvez no próprio Sexto Andar (sede da Jacaré) ou mesmo, quem sabe, no São Luiz, agora que o programador Geraldo Pinho dispõe de projeção digital no equipamento.
Em 10 dias do 8º Janela, um novo recorde: 20 mil pessoas passaram pelos três cinemas durante o festival. Agradecemos ao...Posted by Janela Internacional de Cinema do Recife on Segunda, 16 de novembro de 2015
Quem não conseguiu ver os filmes supracitados, embora frustrado, teve como prêmio uma caminhada domingueira e ver o cair da tarde ao longo da Avenida Conde da Boa Vista até o Cinema São Luiz - templo maior do festival - que fica na Rua da Aurora, cujo brinde foi encontrar, a falar de si, o cineasta português Manoel de Oliveira em seu cinebiográfico Visitas ou Memórias e Confissões. O filme, um dos tantos frutos da parceria do Janela com a Cinemateca Portuguesa, ambientado na residência na qual viveu ao longo de quarenta anos ao lado de sua esposa Maria Isabel (para quem dedicou o filme) é fincado na Cidade do Porto, em Portugal, entre porta-retratos e campos de flores da agricultura tão estimada pelo casal.
Segundo Kleber, se tratava de uma das sessões mais especiais do festival, já que era um filme realizado antes e exibido postumamente ao autor, como entendimento da alma do realizador - cheia de reflexões reticentes, ora ficcionais, sobre a vida, a família, a história portuguesa etc.
Entre as muitas percepções metacinematográficas de Manoel de Oliveira, estava o cenário de cinema como aquele ambiente e técnica que mais se aproxima da Sétima Arte original. Segundo ele, é a ficção, nada mais que a ficção, que por não ser real, é o que tem de mais verdadeiro no cinema. É ela - a ficção - a realidade do cinema. Quem fez a dobradinha, saindo de Visitas e Memórias ou Confissões e emendando na sessão seguinte (última do Janela) pode encerrar o ciclo de 15 audiovisuais dias ficcionais e político; documentarista e fantásticos; artísticos e histórico; clássico e futurísticos.
Com seu chapeu coco, bengala rodopiante, 1/6 de bigode, passos em falso, dentes cerradinhos que fizeram outros tantos dentes espectadores reluzirem no escuro do cinema, o mestre Charles Chaplin fechou com chave de ouro o 8º Janela Internacional de Cinema do Recife com o seu longa-metragem Luzes da Cidade, rodado em 1931. Alguns lugares vagavam no balcão do Cinema São Luiz - quiçá o ambiente mais bonito e acolhedor da Rua da Aurora - o que fez com que as gargalhadas transitassem pela sala de exibição com ainda menos barreiras, ecoando democraticamente entre os solitários espectadores e os casais que se deslumbravam com o humor tão sutil quanto contundente de Carlito, precursor de humoristas das telinhas e telonas como lembrou o jornalista e também cineasta Neco Tabosa: "Didi Mocó, Mr. Bean, Cheech & Choong".
CINEMAS DE RUA DÃO VIDA ÀS RUAS
Antes da última sessão de 2015, duas pautas importantes foram colocadas à frente da tela do Cinema São Luiz. A primeira delas, recobra a discussão realizada na última sexta-feira (13), quando foi realizado um debate sobre Cinemas de Rua. Dois movimentos surgiram desta conversa que gerou uma Carta Aberta que teve entre seus signatários realizadores e programadores de cinema, produtores culturais, jornalistas e outras pessoas da sociedade civil. Primeiramente, foi divulgado o #CineRuaPE que - seguindo a tendência de reativação dos cinemas de rua na cidade do Rio de Janeiro - pretende reavivar as salas de exibição do Estado - a exemplo do Cine Polytheama (Goiana), do Cine Olinda e do Cine Guarany (Triunfo); partindo do Grande Recife, movimento que foi batizado de Circa (sigla para Circuito Recife de Cinemas Alternativos), que incluirá cinemas de rua recifenses como o Cine Teatro do Parque e Cine Apolo. A principal questão colocada é o fato de haver ênfase na produção de cinema que contrasta com a distribuição desses filmes, que quase sempre esbarram e são barrados nas salas comerciais, o que é contraditório visto a qualidade e pujança criativa que o cinema pernambucano vive ano após ano.
Como de costume, a fila para as sessões noturnas do São Luiz deram a volta no quarteirão
Foto: Victor Jucá/Divulgação
Veja, abaixo, a Carta Aberta entregue a representante da Secretaria de Cultura, tendo como como destinatário o secretário Marcelino Granja - que ficou de comparecer ao debate no Cinema da Fundação mas só deve ter encontrado o pessoal do Janela no restaurante Capitão Lima, em Santo Amaro, onde coincidente almoçaram no início da tarde.
REFORMULAÇÕES NO SIC
Produtores culturais apresentam carta de convocação para discutir sobre o novo SIC
Foto: Victor Jucá/Divulgação
Outro assunto que veio à tona, e que também teve o secretário Marcelino Granja como protagonista - quando deveria ser a sociedade civil e fazedores de cultura, por serem os maiores interessados e afetados - foi a leitura de uma convocação aos produtores para discutir as estratégias de oposição a reformulação do Sistema de Incentivo à Cultura (SIC). As mudanças propoem agregar a iniciativa privada como incentivadora dos produtos culturais, seja por meio de dedução fiscal do ICMS; ou aporte não-dedutível com anexação de marcas indiscriminadas aos projetos. Acontecerá, às 19h30 desta terça-feira (17), uma reunião no Sexto Andar do Edifício Pernambuco (Avenida Dantas Barreto, 324, Santo Antônio, em frente ao antigo prédio do INSS, atualmente privatizado pela Uninassau).