Primeira experiência de Alceu Valença como diretor de cinema, A Luneta do Tempo, entrará em cartaz com exclusividade na rede Cinépolis, no Shopping Guararapes, no próximo dia 24/3. O filme é daqueles filmes que foram sonhados por muitos anos até serem feitos, quase um resumo do que os olhos e os ouvidos do poeta e cantador de São Bento do Una viram e ouviram desde a mais tenra infância. Narrado como se fosse um musical, o filme é ousado em sua estrutura livre, com o peso dos mitos fundadores da alma nordestina ressurgindo vivos como uma herança a que não se pode negar.
A herança do cangaço, com sua aura de banditismo e revolta social, foi uma das principais fontes do cinema brasileiro entre os anos 1950 e meados da década de 1970. Tanto o incipiente cinema industrial da Vera Cruz quanto os cineastas do Cinema Novo beberam da mesma fonte. Foram tantos filmes que a crítica precisou cunhar um termo para abrangê-los: o “nordestern”, numa clara analogia aos westerns americanos, que também surgiram a partir de uma mitologia marcada pela lei da bala e da expansão territorial.
O Lampião de Alceu, que Irandhir abraça com visível convicção, é antes de tudo o herói mitológico que lutou contra os poderosos e o autor das façanhas que impregnaram os lajedos e a caatinga do Agreste e do Sertão pernambucanos. Já morto, mas teimando em ficar vivo, Lampião vê o passado e o futuro com uma luneta que abole o tempo. Vivida com perceptível brilho por Hermila, Maria Bonita, tão espectral quanto verdadeira, luta para convencê-lo de sua morte e de que não há nada a fazer para evitar a tragédia dos destinos de Antero Filho (Charles Theoni) e Severo (Ari de Arimateia), os filhos bastardos do argelino Nagib Mazola (Cecéu Valença, a cara do pai), um sedutor dono de circo que parece não ter feito outra coisa a não ser botar filho no mundo.
Além de toda a engenhosidade narrativa, as músicas compostas por Alceu pontuam o filme do início ao fim, dando-lhe uma roupagem sonora ímpar a partir da rica herança musical do Nordeste e de suas influências ibéricas e africanas. Um belo filme.
Leia a crítica completa na edição desta quinta-feira (17/3) no Caderno C, do Jornal do Commercio.