Cannes

Festival de Cannes tem três filmes pernambucanos

Aquarius, de Kleber Mendonça, O Delírio é a Redenção dos Aflitos, de Fellipe Fernandes, e Abigail, de Valentina Homem e Isabel Penoni foram selecionados

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 10/05/2016 às 7:29
CINEMASCOPIO/DIVULGAÇÃO
Aquarius, de Kleber Mendonça, O Delírio é a Redenção dos Aflitos, de Fellipe Fernandes, e Abigail, de Valentina Homem e Isabel Penoni foram selecionados - FOTO: CINEMASCOPIO/DIVULGAÇÃO
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O Boulevard de la Croisette ganha um sotaque especial a partir de amanhã, na largada da 69ª edição do Festival de Cannes. Até o domingo, 22, o dia em que o mundo ganha mais um filme galhardonado com a Palma de Ouro – a láurea máxima do festival de cinema mais famoso do mundo –, o principal endereço da bela cidade da Riviera Francesa vai falar pernambuquês. Cerca de 40 membros das equipes de três filmes realizados por cineastas locais - o longa Aquarius e os curtas Abigail e O Delírio é a Redenção dos Aflitos -  invadem Cannes para acompanhar as projeções em três seções do festival, inclusive a Mostra Oficial, na qual é escolhido o ganhador da Palma de Ouro.

Pela 17ª vez, o Jornal do Commercio acompanha de perto todos os lances do Festival de Cannes. Neste ano, o JC firmou uma parceria com o Consulado Francês no Recife e a Aeso – Faculdades Integradas Barros Mello para viabilizar a cobertura, que se tornou ainda mais especial com a participação dos filmes pernambucanos. Pela primeira vez, o cinema pernambucano tem um longa-metragem na disputa: Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, o representante do Brasil na Mostra Oficial. Há oito anos que um filme feito no Brasil – o último foi Linha de Passe, de Walter Salles, em 2008 – não era escolhido para ser exibido na principal vitrine do Festival de Cannes.

Para confirmar ainda mais o momento excepcional do cinema pernambucano, dois curtas serão apresentados na Semana da Crítica e na Quinzena dos Realizadores. Na Semana da Crítica, estará presente o curta O Delírio é a Redenção dos Aflitos, de Fellipe Fernandes. Ja a pernambucana Valentina Homem, que mora em Nova York, vai levar o curta Abigail, que codirigiu com a cineasta carioca Isabel Penoni (já conhecida dos pernambucanos por ter codirigido o curta Porcos Raivosos com Leonardo Sette, também exibido na Quinzena, há quatro anos).

Toda essa turma passou a última semana em meio aos preparativos para os muitos compromissos que vão ter durante os 11 dias do festival. O mais tarimbado de todos é Kleber Mendonça Filho, que participa do certame cinematográfico pela 18ª vez – em doze, ele foi a Cannes como crítico de cinema do Jornal do Commercio –, só que agora ele está presente na condição de uma das mais novas vozes do cinema mundial. Desde 2012, quando Kleber lançou O Som ao Redor – sucesso de crítica nos Estados Unidos e na Europa, além do Brasil, onde conquistou os críticos e levou mais de cem mil pessoas aos cinemas –, o segundo filme dele é esperado com ansiedade em todo o mundo.

“Para mim, o principal é minha relação com o filme. Eu trabalhei tanto nele que não há outra maneira senão eu me senti totalmente satisfeito e feliz com o filme. Já que minha relação é boa, eu procuro não pensar em todas aquelas coisas que a gente sabe que uma exposição desse tipo significa, particularmente em Cannes. Existe uma pressão em torno do segundo filme, principalmente quando o primeiro foi bem-sucedido, mas eu nunca realmente pensei nisso. Na verdade, eu queria fazer um segundo filme, aí apareceu essa história, que eu fui gostando cada vez mais e parti para fazê-lo”, explica o cineasta.

Na última sexta-feira, Kleber passou o dia atendendo jornalistas do Brasil e de várias partes do mundo. “Dei uma entrevista para uma rádio de Petrolina e atendi o pessoal dos jornais O Globo e New York Times e da revista Variety”, elencou Kleber. Aquarius terá sua exibição de gala daqui há uma semana. O filme tem como estrela principal a atriz paranaense Sonia Braga, que esteve em Cannes nos anos 1980 com os longas-metragens Eu Te Amo (1981, na Mostra Un Certain Regard) e O Beijo da Mulher Aranha (em 1985, na Mostra Oficial), além de ter sido membro de júri da mesma competição, em 1986. No filme, Sonia é Clara, um crítica de música aposentada, viúva e mãe de três filhos adultos, que peita uma construtora do Recife para não deixar que o seu prédio – o Aquarius, na Avenida Boa Viagem – seja demolido. A situação é emblemática no Recife dos últimos anos, como vimos recentemente com a demolição do Edifício Caiçara.

Além de Kleber, mais de 30 membros da equipe de Aquarius vai estar Cannes, entre eles Emilie Lesclaux, a produtora do filme, que nasceu em Bordeaux, na França e é casada com o cineasta. Além de cuidar do casal de gêmeos do casal, Emilie vai participar de cada momento da passagem do filme no festival, como reuniões, mesas-redondas com a imprensa e encontros mercadológicos marcados pela produtora francesa SBS Productions, parceira do filme nas vendas internacionais e distribuição na França. “Depois do filme vamos ter uma jantar de socialização e uma festa em algum lugar de Cannes, organizada pelo pessoal de Saïd Ben Saïd, parceiro de coprodução, que está com dois filmes na competitiva, Aquarius, e Elle, de Paul Verhoeven”, adianta Emilie.

Outra dupla presente em Cannes, só que pela primeiríssima vez, é formada pelos jornalistas Dora Amorim e Fellipe Fernandes, ambos ex-estagiários do JC, que também fazem parte da produção de Aquarius – ela, como produtora-executiva; ele, como terceiro assistente de direção – e de O Delírio é a Redenção dos Aflitos. Produzido por Dora, o filme dirigido por Fellipe tem cerca de dez membros da equipe em comum com a de Aquarius. O curta será exibido duas vezes no próximo domingo, no Hotel Miramar, uma delas com a participação da equipe do filme. Na segunda, outra sessão acontece no Teatro Alexandre III. “Desde o momento em que o curta foi selecionado, nosso contato tem sido bastante intenso com a organização da Semana da Crítica. Vamos participar de almoços, sessões de fotos e entrevistas com a imprensa, além de outros eventos que vamos comparecer. Nos preocupamos muito em levar material gráfico e trailer do filme e dados sobre a Ponte, a produtora minha e de Thaís Vidal”, salienta Dora.

Fellipe, que já fez intercâmbio na França, onde teve a primeira ideia que resultou no roteiro do curta,talvez seja, entre toda a trupe pernambucana, a pessoa que está mais dividida. “Júlia, minha namorada está na 27ª sétima semana de gravidez e não pode mais viajar. Demorei para decidir se ia mesmo para Cannes por causa do risco de perder o parto. É que tudo foi inesperado, inscrevemos um primeiro corte, em cima do prazo, e foi aquela correria. Se rolou, então é porque tinha que ser. Estamos torcendo para que Cora nasça no final do mês, quando eu voltar. O filme é dedicado a ela”, revela o cineasta.

“A expectativa é inusitada, porque é o meu primeiro filme e eu nunca participei de um festival antes, muito menos de um com a magnitude de Cannes”, conta. O Delírio é a Redenção dos Aflitos se passa no bairro de Jardim Atlântico, em Olinda, onde Fellipe nasceu e foi criado. “A ideia foi retratar essa imagem do subúrbio de Olinda, que a gente não vê muitos nos filmes, com a história dos prédios-caixão que são condenados, abandonados e invadidos”, explica. A personagem principal é interpretada pela recifense Nash Laila, que foi revelada em Deserto Feliz, de Paulo Caldas, e que atualmente faz parte do grupo de atores do Teatro Oficina, de São Paulo.

A terceira dupla criativa é formada por Valentina Homem e Isabel Penoni. O filme relata as memórias de Abigail Lopes, conhecida como Tipizari, que nasceu em Rondônia e viveu com o indigenista pernambucano Francisco Meireles. Mãe de santo e profunda conhecedora dos índios, Abigail viveu numa casa-terreiro por mais de 50 anos, sem que muita gente soubesse o que ela guardava na casa entulhada de segredos e memórias. A primeira exibição de Abigail acontecerá no dia 19, no Théâtre Croisette do JW Marriot.

O repórter viajou numa parceria entre o JC, o Consulado Francês no Recife e a Aeso - Barros Melo.

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