Alfredo Bertini só vai falar sobre Secretaria do Audiovisual após nomeação

Escolha do economista é repudiada por classe cinematográfica local e nacional
JC Online
Publicado em 02/06/2016 às 0:27
Escolha do economista é repudiada por classe cinematográfica local e nacional Foto: Daniela Nader/Divulgação


O economista e diretor do Cine PE: Festival do Audiovisual Alfredo Bertini, que foi convidado para assumir a Secretaria Nacional do Audiovisual (SAv/MinC), teve um primeiro encontro, na tarde da última terça-feira (31/5), em Brasília, com o ministro da Cultura, Marcelo Calero, quando trocaram ideias sobre a linha de ação a ser desenvolvida conjuntamente.

À noite, Bertini encontrou-se com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e o vice Raul Henry, que estavam no Capital Federal para reuniões com ministros do governo interino de Michel Temer. Durante essa conversa, discutiu-se os novos rumos para o audiovisual pernambucano, em especial uma lei de mecenato que vem sendo elaborada pelo Estado.

Quarta-feira (1º/6) pela manhã, o economista viajou para São Paulo, onde tinha programado encontros para resolver questões particulares, algumas relacionadas à prestação de contas da 20ª edição do Cine PE, realizado em maio.

Em conversa com a reportagem do Jornal do Commercio, na tarde de quarta-feira, Alfredo Bertini disse que só se pronuncia oficialmente depois de um novo encontro com o ministro, a ser agendado para o início da próxima semana e, principalmente, quando a nomeação sair no Diário Oficial da União e ele puder apresentar um programa de ação. O futuro secretário do Audiovisual demonstra estar tranquilo e acredita contar com um grupo ligado ao cinema que apoia a sua indicação, embora esteja longe de ser uma unanimidade.

A indicação do nome de Alfredo Bertini para a Secretaria Nacional do Audiovisual pegou de surpresa produtores e cineastas brasileiros, especialmente a classe cinematográfica pernambucana. A Associação Brasileira de Documentaristas, Curtas-Metragistas e Cineastas de Pernambucano (ABD-Apeci) publicou na manhã dessa quarta-feira, em sua página no Facebook, uma carta de repúdio à escolha do economista com dezenas de assinaturas.

A maioria dos cineastas brasileiros e pernambucanos, ouvidos pela reportagem do JC, também foram contrários ao nome de Bertini.

Leonardo Sette (cineasta pernambucano)
"Não tenho o que dizer sobre qualquer escolha desse governo golpista e ilegítimo. Aguardo e luto pelo reestabelecimento da democracia no Brasil."

Vinicius Reis (cineasta carioca)
"Fico perplexo não só com o Alfredo Bertini, mas com todos que topam legitimar o ilegítimo. Está muito claro que desde sempre foi golpe. Nesse momento, até os mais inocentes que desejavam o impedimento da Dilma já reconhecem a farsa. Então para que se envolver com esse (des)governo? Acho que seria  sensato, da parte dele, seguir cuidando do seu grande festival de cinema."

Cláudio Marques (cineasta, curador e exibidor baiano)
"Eu não sou eleitor de Dilma, mas, por outro lado, não aceito a forma como se deu a mudança de poder em nosso país. Não é democracia! Assim, eu não reconheço o governo Temer, que, por sinal, não possui o menor apreço pela produção cultural. Lamento que qualquer pessoa ligada ao setor busque legitimar o golpe de estado. Lamento profundamente que Bertini tenha aceitado o convite."

Cláudio Assis (cineasta pernambucano)
"Primeiro, não acredito neste governo golpista, que não tem valor, nem respeito, nem nada. O que tenho visto é que os ministros são ladrões, como todos que se misturam com eles. O que esse governo quer provar com Alexandre Frota e Mendoncinha? É um governo sem moral, é uma piada. Já são quatro pernambucanos nesse governo e o audivisua brasileiro não reconhece nada disso."

Daniel Aragão (cineasta pernambucano)
"Bertini é o secretário ideal para assumir nesse conturbado momento político. Por muito tempo ignorei sua luta para preservar nosso cinema, mas hoje tenho a clara noção que sua capacidade de lidar com as divergências, aliado ao seu amor juvenil pelo espetáculo da arte, é algo bastante impressionante e notável. Que seu grande sorriso pacificador alinhe todas diferenças."

Daniel Bandeira (cineasta pernambucano)
"É preocupante: do ponto de vista político, em 20 anos de Cine-PE, Bertini não conseguiu estabelecer uma diálogo saudável com a produção local - que tem inclusive se projetado mundialmente, sempre à revelia do festival. Isso tem sido fruto de uma visão anacrônica de cinema, centralizadora, que privilegia (mal) o “espetáculo” em detrimento da reflexão artística ou mesmo produtiva. Imaginar tal dificuldade de articulação com a classe levada à esfera federal faz temer pelo futuro da atividade. A nomeação de Bertini tem a cara do governo interino (e ilegítimo) de Michel Temer: tal como em outras pastas essenciais (educação, ciência, agricultura...), a cultura vem sendo preenchida por nomes intimamente ligados à iniciativa privada, mais articulado às esferas de poder do que ao público a quem supostamente devem atender: uma caricatura do trabalho desenvolvido no setor até então."

Cavi Borges (cineasta e produtor carioca)
"Bertini é um grande empreendedor. Sua formação vem da Economia. Mas com o Cine PE também entrou na cultura.Juntar empreendedorismo e cultura pode dar uma boa dobradinha. Sei que ele e seu festival são muito criticados pelos realizadores de Pernambuco. Mas pode ser uma boa! Vamos ver no que isso pode dar!!!"

Leonardo Lacca (cineasta pernambucano)
"Primeiramente, preciso dizer que acho ilegítima toda e qualquer nomeação desse governo golpista. A nomeação de Bertini como secretário do audiovisual é apenas mais um reflexo disso tudo. Já exibi filmes no Cine PE e já estive presente em tentativas de diálogo para contribuir com o festival, mas o Cine PE esteve se mostrando a cada a ano mais alheio aos realizadores e às pautas e às lutas das entidades do audiovisual local e nacional. Esse ano, por exemplo, a ABD/PE se negou a participar do seu júri. Tudo leva a crer que, infelizmente, essa total falta de sintonia seja refletida na SAv. A volta do ministério da cultura não necessariamente significa uma vitória, pois trata-se de uma tentativa de contornar um equívoco óbvio. Mas o grande erro mesmo todo mundo sabe qual é: Temer."

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