Dona Rosilda Moura se despedia dos amigos após a missa da Igreja de Nossa de Boa Viagem quando um deles lhe contou sobre a comunidade de novos moradores que iam resistindo à retirada de um antigo ajuntamento de pescadores. “Na igreja, havia sempre um grupo de voluntários para tarabalhar nas questões sociais”, diz a antiga funcionária pública federal que, da alfabetização de adultos a reuniões religiosas, ajudou, pouco a pouco, a comunidade a se organizar e resistir juridicamente e, há 26 anos, encontrou seu lugar definitivo em Entra Apulso, este pequeno bairro dentro do bairro de Boa Viagem.
Neste sábado (18), de manhã cedo, dona Rosilda conta com a ajuda de seu filho mais velho para mais uma ação em favor da creche Nossa Senhora de Boa Viagem, abrigo diário de mais de cem crianças da comunidade. “São quase todas filhas de mães que trabalham como empregadas domésticas para sustentar as famílias e não teriam como trabalhar se não tivessem com quem deixar as crianças”, ela diz. “É um filme lindo, muito sensível” diz a mãe do roteirista que, após assistir à pre-estreia, pediu o apoio do Instituto Shopping Recife, braço de ação social do centro de compas, para viabilizar a sessão beneficente. No sábado (18), todos os ingressos vendidos para a sessão das 10h da manhã serão revertidos para a tentativa de fechar as contas da creche. O ingresso custará R$ 20.
O primôgenito de dona Rosilda e José Moura é George Moura, pernambucano radicado há décadas no Rio de Janeiro e um dos mais respeitados roteiristas do País - é dele, não por acaso, o roteiro do filme Redemoinho, de Julio Luiz Villamarim, o mesmo diretor que conduziu, no Recife, as gravações da minissérie Justiça. Versão do livro O Mundo Inimigo – Inferno Provisório Vol. II, de Luiz Ruffat, o filme tem Irandhir Santos e Julio Andrade no papel de dois amigos operários que se reencontram numa noite natalina de bebedeira, remoros e alegrias.
Com cerca de R$ 35 mil de despesas mensais, pouco mais de R$ 6 mil com auxilio de um convênio com a prefeitura do Recife, a creche costuma fechar cada mês com um défict de R$ 12 mil. “A iniciativa é da minha mãe. E é muito bom quando o cinema, além de provocar reflexão, pode interferir diretamente na realidade”, comenta George Moura, do Rio, de onde não poderá se ausentar por estar concentrado escrevendo um novo roteiro. “Coincidentemente, é um filme sobre a classe operária, algo que não acontecia, praticamente, desde Eles não usam black-tie”.