Josias Teófilo se diz vítima de patrulhamento ideológico

Longa O Jardim das Aflições tem Olavo de Carvalho como personagem
JC Online
Publicado em 12/05/2017 às 5:01
Longa O Jardim das Aflições tem Olavo de Carvalho como personagem Foto: Matheus Bazzo/Divulgação


Um dos pivôs da decisão do grupo de sete cineastas de retirar seus filmes do 21º Cine PE, o pernambucano Josias Teófilo critica o “patrulhamento ideológico” do qual se sente vítima desde que decidiu realizar o documentário O Jardim das Aflições. A obra trata do pensamento do filósofo Olavo de Carvalho e também está na seleção do festival. Nesta entrevista, ele defende seu filme e fala de sua admiração por Olavo.

JORNAL DO COMMERCIO – Com o adiamento do Cine PE você vai esperar a nova data para exibir O Jardim das Aflições ou mantém a data para exibir nos cinemas?
JOSIAS TEÓFILO – Todas as datas estão mantidas. Infelizmente temos todo um cronograma que não pode mais ser alterado. Já adiamos uma vez esperando pelo festival, infelizmente dessa vez não será possível.

JC – Qual a data do lançamento do filme e em quais cidades ele será exibido?
TEÓFILO – No dia 31 de maio teremos as sessões especiais em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba e Porto Alegre, todas com debate e, com exceção de Brasília, já estão esgotadas. Em seguida, o filme vai entrar em cartaz em algumas cidades, não vou dizer quais e nem os cinemas para evitar que tentem nos boicotar lá também. Depois disso faremos sessões especiais em outras cidades, com debates.

JC – O que existe de tão explosivo em O Jardim das Aflições para motivar a reação dos cineastas que não aceitaram exibir os filmes deles ao lado do seu?
TEÓFILO – Absolutamente nada. O filme trata do pensamento de Olavo de Carvalho em temas bastante sutis, não entra em temas que poderiam ser definidos como ideológicos. Não existe nada no filme que pode ser considerado conservador ou direitista. Quem faz propaganda ideológica no cinema brasileiro é Kleber Mendonça Filho, eu não.

JC – Você foi amigo de Kleber e dos cineastas pernambucanos dessa geração. O que aconteceu para você “sair do armário” e optar por uma via contrária ao pensamento desses amigos?
TEÓFILO – Desde que eu conheci Kleber e comecei a participar de alguns desses projetos, eu já lia Olavo de Carvalho. Mas naquela época não se falava tanto de política e a coisa era muito mais leve. Cheguei a conversar com Kleber e Emilie e, no final, sempre nos entendíamos de alguma forma. Mas eu sabia que quando me colocasse publicamente contra o PT e a instrumentalização que a esquerda sempre fez do cinema brasileiro eu seria excluído do meio. Ser excluído do meio significa: nunca mais aprovar um edital, não ter seu filme exibido em circuitos alternativos ou festivais. E foi isso que aconteceu. Kleber Mendonça Filho, apesar de agir muito discretamente, é cúmplice disso tudo. Basta observar o apoio implícito que tem dado ao boicote ao meu filme.

PATRULHAMENTO

JC – Esta reação dos cineastas, direcionada ao seu filme, constitui-se como patrulha ideológica?
TEÓFILO – É evidente. A patrulha vem desde quando tentaram convencer profissionais a não trabalhar comigo. Agora estão tentando impedir a edição do Cine PE em que o meu filme participa e convencer outros cineastas a tirarem seus filmes do Cine PE. Até Luiz Joaquim estão tentando convencer a não aceitar a homenagem do festival. Isso tudo sem ter visto meu filme e nem saber realmente do que ele trata. Se isso não é patrulha, o que é?

JC – Você mora nos EUA, o que foi que levou você a se mudar do Brasil?
TEÓFILO – Juntou o fato de eu ter arranjado uma namorada americana e também o clima no Brasil ficou irrespirável para mim, especialmente no Recife. Estou desenvolvendo bons projetos no Brasil, mas não necessito estar aí para realizá-los.

JC – Olavo de Carvalho mora na mesma cidade em que você vive? Vocês se encontram com frequência?
TEÓFILO – Sim, mora. Eu vou todo sábado às aulas do Seminário de Filosofia, que ele dá em casa. E eventualmente saio com a família dele. Por vezes eu apareço na casa dele para falar dos projetos e ficamos conversando até de madrugada, rindo, contando piada. A rotina de Olavo é muito pacata e agradável.

JC – Você promoveu sessões de O Jardim das Aflições em universidades americanas, seguidas de debates com Olavo de Carvalho. As pessoas que participaram desses encontros já eram admiradores ou também havia pessoas que questionaram o pensamento dele?
TEÓFILO – Ele chegou lá como um completo desconhecido. O público de Olavo é basicamente de língua portuguesa. A sessão foi vista por alunos da VCU (Virginia Commonwealth University), que ficaram muito empolgados com a fala do Olavo no filme e a conversa depois e fizeram muitas perguntas.

JC – Quando foi seu primeiro contato com Olavo e qual aspecto do pensamento foi a alavanca para você fazer este documentário?
TEÓFILO – Foi na casa de Daniela Gouveia, minha amiga. Ela me mostrou um DVD da história essencial da filosofia, que ele fez na década de 2000. O que mais me interessa no pensamento de Olavo é quando ele fala dos temas mais elevados, metafísicos. E o filme termina exatamente neles. É um caminho de fora para dentro a narrativa do filme.

JC – Para você, o impeachment da presidenta Dilma, que os eleitores dela consideram como golpe de estado, era necessário, teve legitimidade?
TEÓFILO – Teve legitimidade, mas foi muito pouco. O poder do petismo sempre esteve na cultura, foi isso que os levou à presidência da república. É por isso que O Jardim das Aflições incomoda tanto. Ele é como uma rachadura na barragem do petismo. Se a rachadura não for estancada, a barragem seca.

JC – Você é uma pessoa democrática? Qual o seu candidato ideal para as próximas eleições presidenciais?
TEÓFILO – Sim, nunca tentei impedir que um filme fosse visto. Os candidatos disponíveis estão excessivamente longe do ideal.

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