Durante uma festinha num apê, Vitória indaga Ana: “Tu quer ajuda pra procurar comida?”. A resposta dela é imediata: “Sabia que essa foi a pergunta mais romântica que já me fizeram essa noite?”. A passagem acima não pode representar absolutamente nada para muita gente, mas para outra parte, essa será uma das sequências que alguns vão sorrir e “achar fofo” nos primeiros minutos do filme nacional Ana e Vitória, que estreia nesta quinta-feira (2) nos cinemas. A comédia romântica musical, escrita e dirigida por Matheus Souza, também chama atenção por trazer como protagonistas as jovens cantoras Ana Caetano e Vitória Falcão, do duo pop Anavitória.
Embora o trailer e o título passem essa impressão, é bom deixar claro aos fãs da dupla e, principalmente, para quem não é: a obra não é a biografia das artistas transposta nas telonas, ainda que fragmentos dela sejam mote para o roteiro se desenrolar. Trata-se de uma “autoficção” a partir de uma ideia original de Felipe Simas, empresário e “descobridor” das meninas.
“É totalmente autoficção. São pitadas do que é a nossa realidade, mas é uma história”, conta Vitória Falcão, em entrevista ao Jornal do Commercio por telefone. Ela também contou um pouco da gênese do roteiro: “A gente escolheu o Matheus para roteirizar porque sentimos que ele entendia muito os nossos ‘rolês’. Ele pensou na nossa vida, fez várias perguntas, mandamos vários áudios. Ele ainda acompanhou a gente em alguns shows e conviveu um pouquinho para entender muito de como a gente era. A gente foi se abrindo e ali é muito do que ele entendeu da nossa personalidade, da nossa história”.
Na sinopse do longa inspirado em acontecimentos reais, a narrativa acompanha dois anos na história das meninas Ana e Vitória (elas mesmas) - do momento em que se conhecem em uma festa e decidem cantar juntas à consagração absoluta no mercado de música pop nacional. A trama se desenrola por meio de crises e encantamentos, além de relacionamentos amorosos sempre sob a ótica da juventude contemporânea.
Para quem espera um roteiro denso e profundo sobre relacionamentos, Ana e Vitória passa longe disso. Em alguns momentos, dá-se a impressão de ver um episódio especial da novelinha Malhação nas telonas, mas também pudera: as cantoras tem 23 anos. E essa visão confusa do amor para os jovens de hoje em dia é perfeitamente retratada no longa, sendo algo assustadoramente cativante.
A onipresença do universo das redes sociais é outra característica marcante do filme, seja pela linguagem de arte que aparece diversas vezes na tela, até influenciar diretamente em algum momento da história. Talvez também tenha sido por isso que uma grande marca de telefonia tenha patrocinado o longa.
Ainda que as cantoras façam questão de esclarecer que a história é ficcional, a naturalidade das meninas em cena também é um ponto positivo. A timidez misturada a um comportamento “avoado” temperado com um sotaque do norte (quase nordestino) das protagonistas também passam um quê de autenticidade. Mas para Ana Caetano, a coisa não foi tão simples assim.
“Não foi nenhum pouquinho fácil. Nem antes, quando estávamos ensaiando, nem durante, nem depois quando a gente viu pronto. Acho que tudo foi uma experiência muito bizarra e muito nova, mas que no final das contas teve um resultado muito positivo para nós como pessoas e artistas. A gente amou muito fazer”, confessa a jovem. Segundo as meninas, após a pré-produção, Ana e Vitória foi concebido em um mês: uma semana de leituras e ensaios, e três semanas de gravação.
O filme também pode surpreender algumas pessoas mais conservadoras, pois o longa mostra o processo de descoberta do amor nas mais diversas formas, podendo provocar reações e certas impressões sobre as cantoras. Mas segundo Ana Caetano, elas tinham noção de onde estavam pisando: “A dúvida e o medo sempre acontece quando a gente faz algo fora da curva, do que somos acostumados a fazer. Querendo ou não, a gente se expôs, mas não é a nossa vidinha ali. Nós compramos a bronca. Veio um roteiro pra gente, com uma história que a gente gostou, acreditou, e nos propomos a fazer. Mas não nos sentimos expostas fazendo, sabe?”. Vitória completou o raciocínio. “Porque no fim das contas, é um roteiro, uma ficção, é um filme. Não é um documentário, e nem quer dizer que é a vida da Ana e da Vitória ali, por mais que a gente sabe que muitos vão enxergar desta maneira, ‘a gente sabe que não é’”, diz a cantora, com apoio de Ana, falando juntas a última frase.
Musicalmente, Ana e Vitória não deixa a desejar para quem já conhece o trabalho da dupla. Enquanto as meninas assinam a trilha sonora original, com direito a músicas inéditas, Tiago Iorc e Rafael Langoni assumem a produção musical. Por investirem em mais canções novas, hits como Agora Eu Quero Ir e Trevo (Tu) estão propositalmente excluídas. “Quando decidimos fazer uma comédia romântica musical, queríamos colocar de alguma forma que as nossas músicas façam parte daquilo, por isso a maioria delas são inéditas. Uma ou outra é do primeiro disco”, afirmou Vitória. “As músicas do primeiro álbum já tem histórias contadas. A gente queria contar novas histórias”, reforçou Ana. Para os fãs mais ardorosos porém, segundo as cantoras, estas novas músicas ainda não possuem previsão de serem lançadas oficialmente.
Seja fã ou não destas jovens cantoras que se aventuraram nas telonas, é necessário saber que Ana e Vitória é um musical que fala, antes de tudo e simplesmente (em seu sentido literal), de amor. “Ele é um filme muito sensível. A gente colocou muito carinho, muita dedicação. E acho que vai bater do jeito que tiver que bater. Nós esperamos que seja um momento lindo para cada pessoa que assistir”, convida Ana.
Para quem pretende assistir Ana e Vitória no Recife, pode aproveitar dois momentos especiais no Cinemark do RioMar Shopping, no Pina. Nesta quinta-feira (2), após a sessão das 21h30, o público vai assistir a transmissão ao vivo de um show acústico do Anavitória, com 40 minutos de duração. Na sexta-feira (3), a dupla desembarca na capital pernambucana para uma sessão solidária no mesmo local, às 20h. Serão 100 pares de ingressos (com direito a combo pipoca + refrigerante) que serão trocados por duas latas de leite em frente ao cinema no mesmo dia, a partir das 11h. As doações serão encaminhadas à Creche Missionários da Luz.