Fenearte

Leões de Nuca ganharam o mundo

A figura assinada pelo mestre de Tracunhaém vale R$ 20 mil

Carol Botelho
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Carol Botelho
Publicado em 02/07/2015 às 10:10
Foto: Heudes Regis/ JC Imagem
A figura assinada pelo mestre de Tracunhaém vale R$ 20 mil - FOTO: Foto: Heudes Regis/ JC Imagem
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Foi com a criação de leões de cabelinhos encaracolados, lisos ou escamados que Manoel Borges da Silva virou Mestre Nuca de Tracunhaém, póstumo homenageado desta 16ª edição da Fenearte. Nas mãos de Nuca, barro virou cerâmica com forma de figuras marcantes como as bonecas de mãos cheias de flores e cabelos cacheados, anjos, pinhas, peixes e galinhas. As peças ganharam o mundo e fizeram de Nuca um Patrimônio Vivo, mesmo depois da sua morte, em fevereiro do ano passado, aos 76 anos. 

Apesar do repertório diversificado, os leões é que são marca registrada de Nuca, nascido em Nazaré da Mata. “Sou do signo de leão”, dizia, justificando-se. Aliás, foi com eles que, em 1968, Manoel tornou-se um artesão profissional. Só não pôde ganhar os louros da fama sozinho. Foi a mulher, Maria, quem teve a ideia de colocar os cachinhos no famoso leão. E ele reconhecia a contribuição dizendo: “O leão é meu. O cabelo é dela”. Atualmente, um leão assinado pelo mestre em tamanho pequeno está valendo R$ 20 mil no mercado de arte popular.

Colecionador e curador da Fenearte, o arquiteto Carlos Augusto Lira possui mais de 20 leões de Nuca no seu acervo particular. “Ele é um dos mais importantes artistas populares de Pernambuco”, elogia. Tanto é que existem leões de Nuca em antiquários, galerias de arte e até praças públicas como a do 1º Jardim, em Boa Viagem.

A relação de Nuca com o barro começou na infância, quando ele aprendeu a fazer brinquedos com a matéria-prima. Aliás, aprender técnicas não foi nada complicado. Um ditado popular explica: “Em Tracunhaém ou barro vira santo ou vira panela”. A cidade da Zona da Mata Norte, distante 72 quilômetros do Recife é polo de produção de cerâmica utilitária e artística.

Mas Nuca não começou a ganhar o pão de cada dia como ceramista. Teve que adquirir uns calos nas mãos trabalhando na roça e plantando cana de açúcar para sobreviver. Lá pelos anos 40, quando saiu do Engenho Pedra Furada para morar em Tracunhaém, começou trabalhando em uma olaria, pisando o barro. Foi aí que começou a fazer umas figuras pequenas, como bois e cavalos. 

Mesmo hoje em dia, já famoso no Brasil e no mundo, o nome de Nuca ainda não é suficiente para que a família possa viver apenas da cerâmica. Pai de seis filhos, Mestre Nuca conseguiu que dois deles, Marco e Guilherme, seguissem o seu caminho. “Eu já tenho 35 anos de artesanato. Comecei a trabalhar com meu pai aos 14 anos. Hoje tenho 50. No começo, eu ajudava ele a preparar o barro. Depois comecei fazendo tartarugas, passarinhos...”, recorda Marco de Nuca.

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