Rafael Cortez fala de humor, CQC e Vídeo Show

Com apresentação marcada no Recife nesta quinta-feira (19), artista conversa francamente sobre sua carreira para o JC
Robson Gomes
Publicado em 19/05/2016 às 8:30
Com apresentação marcada no Recife nesta quinta-feira (19), artista conversa francamente sobre sua carreira para o JC Foto: Foto: Divulgação


Rafael Cortez começou 2016 com pé direito. Após o fim do humorístico Custe o Que Custar (CQC) na Band, o artista – que além de jornalista, é ator, músico e humorista – foi procurado pela Globo para se juntar ao casting. Resultado: estreou em março no Vídeo Show como repórter e ainda tem tempo para falar de relacionamentos amorosos em seu novo show de stand up comedy, que chega nesta quinta-feira (19) ao Recife no RioMar, abrindo um festival de humor no centro de compras, às 20h, com ingressos limitados.

Em meio à correria de sua nova fase no vespertino, Rafael conseguiu separar um tempo para conversar francamente com o Jornal do Commercio. Além de falar sobre o novo show de humor que traz à capital pernambucana, o empreendedor (é assim que ele gostaria de ser visto) revela detalhes de sua carreira. Entre elas: o medo inicial de seguir a vida artística, o sucesso no CQC que lhe trouxe um fracasso com as mulheres e o estereótipo de "apenas humorista", os bastidores do fim do programa da Band - onde considerou o último ano da atração como um "paciente em estado terminal" - a sua chegada na Rede Globo, que começou, na verdade, no dia seguinte após o anúncio do fim do "resumo semanal de notícias", como tem sido a experiência no Vídeo Show o desejo de ser levado mais a sério em seus projetos paralelos além do humor. Confira:

ENTREVISTA - RAFAEL CORTEZ

JORNAL DO COMMERCIO - Rafael, quando você percebeu que a arte era o caminho profissional da sua vida?

RAFAEL CORTEZ - Há muito tempo atrás eu percebi que a arte era um caminho maravilhoso para a minha vida. O que foi um impedimento é que eu era menos corajoso quando adolescente, quando tinha 20 anos, do que eu sou hoje. E é uma segurança que só a vida dá. Eu acho que eu fiquei lutando contra ser artista um tempo por esses medos bobos de 'ai, será que vai dar dinheiro?', 'ai, e o preconceito?', 'ai, uma carreira formal não seria mais bem sucedida?', etc. Mas acho que desde cedo eu sabia que eu seria artista sim.

JC - Você atuou no teatro e em programas independentes para a TV. Seu irmão, Leonardo Cortez, também é ator (ele ficou conhecido do grande público ao viver o mordomo Evaristo na segunda temporada da novela Floribella, em 2006). Ele te inspirou de alguma forma nesse ramo de atuação?

CORTEZ - Leonardo me inspirou e continua me inspirando muito. O Léo é o meu melhor amigo, é um talento. É o meu irmão mais velho, então eu sempre fiz aquela coisa de copiar o irmão, né? E que bom que meu irmão é tão cheio de talentos porque Leonardo escreve bem, é bom ator, é bom diretor, fotografa bem, é um cara que fica bonito no vídeo... Ele é um cara de teatro, mas como um cara de teatro ele é um cara multifacetado na área. No teatro ele é ator, ele é diretor, ele é dramaturgo, ele é professor. E eu adoro o meu irmão. Ele me influenciou muito e continua me influenciando sim.

JC - Sua notoriedade no meio artístico veio com sua chegada no CQC, da Band. O que mudou profissional e pessoalmente para o Rafael em sua passagem no humorístico?

CORTEZ - O trabalho que me despontou mesmo foi o CQC, apesar de eu já fazer coisas antes do programa, mas simplesmente não tinham popularidade. Meu primeiro trabalho na TV nem foi o CQC, mas foi algo que ninguém viu. (risos) Então, realmente o crédito é do CQC. E o que mudou no pessoal na minha vida após CQC? Muita coisa mudou pra melhor, e pra pior, né? Em termos afetivos, ter me tornado conhecido como um integrante do CQC, ter feito sucesso na TV com o CQC foi muito bom pra minha "galinhada", se é que você me entende... Eu dei uma farreada boa aí, foi a fase mais auê de mulherada, foi muito bom, dá saudade. (risos) Mas pelo outro lado foi muito ruim porque ninguém queria me levar a sério. Eu fiquei sete anos sem namorar porque 'as mina' não me davam crédito. Falavam 'ah, esse cara é muito fanfarrão, ele não vai assumir um relacionamento' ou, o que é pior, elas não conseguiam assumir um relacionamento comigo porque eu tava sempre disponível pro CQC e nunca pra elas, né? Era o típico cara que desmarcava viagem, desmarcava cinema, desmarcava tudo por causa do CQC. E profissionalmente, mudou muita coisa também, pra melhor e pra pior. Eu ter me tornado conhecido pelo CQC foi muito bom porque eu pude dar vazão a projetos paralelos que eu sempre amei no teatro, na música, e tive público, e continuo tendo público por causa disso. Eu efetivamente ajustei a minha vida financeira e da minha família. Mas por outro lado, coisas ruins, profissionalmente falando, eu fiquei estereotipado. As pessoas me veem muito como humorista e eu tenho outras coisas. E essas outras coisas quando eu tento vender, não surtem o mesmo efeito que o humor. Eu lancei um CD de violão clássico no meio da minha fama do CQC. E foi legal que as pessoas tenham ido, tenham comprado o disco, mas mesmo assim, as pessoas não levaram a sério e continuam não levando a sério algumas coisas que eu faço porque eu sou simplesmente um humorista. E se por um lado eu ganhei mais dinheiro, foi muito bom, mas paguei mais imposto, né? Então sempre tem um lado bom e um lado ruim. Tudo na vida tem um lado bom e um lado ruim, sempre.

Profissionalmente falando, eu fiquei estereotipado. As pessoas me veem muito como humorista e eu tenho outras coisas. E essas outras coisas quando eu tento vender, não surtem o mesmo efeito que o humor. (Rafael Cortez)

JC - Como você encarou o fim do CQC? Você sentia que o programa tinha mesmo chegado ao limite?

CORTEZ - Encarei o fim do CQC com serenidade. Nós (os integrantes) já sabíamos que ele ia acabar. É como você ter um parente querido doente, muito doente, num hospital internado. Um avô bem velhinho, que você tá lá, que você trata com amor, etc, mas você sabe que ele tá indo. E o CQC era o nosso parente amado, idolatrado, que tava já no respirador, entendeu? Sendo monitorado e respirando por equipamentos. Então eu encarei numa boa e todo mundo encarou assim. Claro que na hora que oficializaram o fim do CQC nós bebemos um monte, né? Nós brindamos um monte, saímos em muitas festas. As duas semanas de despedida em que fechávamos o CQC entre elenco, equipe e produção, foram semanas de muita cachaça! A gente brindou muito, riu muito, chorou muito também. A gente ficou muito triste apesar de saber que o CQC tava pra acabar sim. Mas a Band disse que ele volta e a Band não costuma blefar. Se a Band tá falando que ele volta, ele volta. E acho que vai ser muito legal quando ele voltar.

JC - Com o fim do humorístico da Band, muitos integrantes foram em busca de novas oportunidades, inclusive na Globo, onde você está hoje. Os que estão na Globo te incentivaram de alguma forma a aceitar o convite da emissora carioca quando chegou para você?

CORTEZ - Com o fim do CQC eu comecei a ver possibilidades. E no dia seguinte ao anúncio do fim do programa, a Globo me chamou para uma conversa a respeito do Vídeo Show. E os meus amigos que eram do CQC como o (Felipe) Andreoli, a Monica (Iozzi) e a (Dani) Calabresa, que já estavam na Globo, eles não me ajudaram efetivamente a entrar na Globo, ninguém tem esse poder de mover pauzinhos. Quem não é de TV, quem não é do meio acredita que todo mundo é cartas marcadas. 'Olha, a Monica Iozzi te botou no Vídeo Show', 'Felipe Andreoli te apresentou para o Boninho'. Não. Eles não tem esse poder, nem eu tenho esse poder, ninguém tem esse poder. TV é uma coisa séria e a Globo é uma empresa seríssima. A Globo funciona com talentos, ela não funciona com jabás e QI's. Então, eu fiquei muito lisonjeado de ser pensado pela Globo porque eu sei que muita gente ou todo mundo quer entrar lá. O que meus amigos do CQC que já contratados da Globo fizeram positivamente, e isso realmente eles fizeram, foi estimular ao máximo pra eu dizer sim. Teve uma hora que eu falei: 'Monica Iozzi, olha só: essa é a proposta da Globo. É o Vídeo Show, pra fazer isso, isso e isso, por essa e essa grana...' e ela falou: "Vai. Vai porque você vai adorar. A equipe é f**a!". E foi o que realmente eu fiz. Eu fui e ela tava certa.

JC - A chegada na Globo te desafia de alguma forma? Em que sentido? Toparia fazer algum trabalho de teledramaturgia na casa?

CORTEZ - O trabalho que eu tenho hoje no Vídeo Show e na Globo me desafia todo o tempo. O maior desafio é manter a minha personalidade, o meu jeito de ser, a minha espontaneidade, o estilo de piadas que eu faço, mas, no horário das 14h pra família brasileira. E muitas vezes ao vivo. Então é um super desafio manter a sua essência, mais adequada ou moldada para um produto novo, né? Um produto certo, um produto mais família. Eu sempre fui um cara meio nichado. O CQC era um programa nichado, né? Ele não atingia a família, atingia segmentos da família. Agora eu falo com a família inteira. Todo mundo assiste o Vídeo Show: a mãe, o tio, a avó velhinha, as crianças gostam, o adolescente curte. Então, o maior desafio ainda é esse. Mas eu me sinto muito amparado, muito estimulado. E tô muito satisfeito porque a Globo tá num momento legal pra caramba de humor. Ela tá abraçando as piadas dos seus humoristas. A Globo às vezes ri de si mesma, como é o exemplo do Tá No Ar (o programa apresentado por Marcelo Adnet e Marcius Melhem). Então esse é um desafio diário. Mas eu tô muito satisfeito. Eu não me sinto podado em nada. Eu me sinto muito bem representado, muito bem amparado. E sim, eu toparia fazer um trabalho de teledramaturgia. Mas na hora certa. Agora eu sou Vídeo Show.

JC - O Video Show passa por (mais) um momento de renovação, inclusive com rodízio de apresentadores para (ainda) substituir Monica Iozzi, que já foi sua colega na Band. Como você enxerga esse novo formato do programa e como tem sido a sua experiência no programa até agora?

CORTEZ - Eu enxergo esse processo de revezamento de apresentadores na bancada como algo muito positivo, algo muito legal. Acho que Boninho sabe o que está fazendo. Acho bacana porque os telespectadores de um modo geral podem contar com estilos diferentes a cada dia, com um eixo comum, que costuma ser sempre o Otaviano (Costa), que é um cara generosíssimo e, no ar também, ele funciona com todo mundo! Ele é tão bom que ele vai bem com a Aline (Prado), com o Joca (Joaquim Lopes), ele vai bem comigo, com a Giovanna (Ewbank), ele vai bem com a Maíra (Charken), porque o Otaviano é f**a! Ele é muito bom. E enxergo esse processo como algo muito legal em termos de formato pro Vídeo Show, e acho bacana pra gente, né? É uma delícia fazer parte do revezamento de um programa incrível como esse, e poder estar ao vivo às vezes na televisão, na Globo, às 14h, num programa que dá dois dígitos de ibope. É incrível, cara! Acho muito positivo.

JC - A passagem pelo CQC foi um incentivo a você criar um trabalho de stand up comedy, que é o que você vem apresentar nesta quinta-feira (19), no Recife. Conta um pouco de como esse projeto nasceu e o que podemos esperar dele aqui no Shopping RioMar. 

CORTEZ - Esse show novo completa uma tríade. Ano passado eu lancei um livro chamado Meu Azar com as Mulheres, que fala sobre eu 'tomar toco' da mulherada. Depois criei o meu canal no YouTube que é o Love Treta, onde dou dicas para quem tá sofrendo no amor. E completando a tal da tríade eu fiz o Meu Problema Não é Você Sou Eu. Eu gosto muito do tema de relacionamento. Muito. Todo mundo ama ou quer ser amado, ou ama e é amado, enfim, indepedente de credo, raça, grana, condição, cor. E aí veio esse show porque acho que as pessoas se identificam com isso. E esse show é o primeiro show do Brasil - arrisco dizer -  talvez do mundo a fazer a conciliação de stand-up com rap. O stand-up ele vem se renovando com casamentos. Você vê que os comediantes de stand up estão fazendo coisas novas: tem stand up com mágica, stand up com ventriloquismo, stand up com violão, stand up com banda, e eu sou o primeiro cara a fazer stand up com rap. Tem um momento do meu show que eu boto uma batida ali e improviso um rap com a plateia, uma sequência do rap-desabafo assim, onde mostro que o rap pode ser uma ferramenta ideal para você dar uma má notícia para um amigo do tipo "sua mulher está te traindo". Não sabe como contar? Conta em forma de rap. (risos) Então, eu adoro esse formato. Eu acho que eu demorei muito pra entender qual seria o formato do show novo porque o anterior, com o qual eu fui pra Recife algumas vezes, funcionava muito bem. Eu fiquei muito feliz com ele mas precisava ter um show que tivesse um diferencial como o anterior tinha. No anterior eu tinha um violão, falava de bossa nova, eu dizia que toda a música ruim pode ser cantada de outra maneira via bossa nova e ela ficava linda. E essa era piada, e a plateia ia dizendo que música queria ouvir e eu improvisava na hora. E o show novo tem esse elemento novo que eu gosto muito que é o rap-desabafo e tá sendo muito bacana e um tema pra mim universal porque todo mundo gosta de falar de relacionamentos. Então tá sendo ótimo! 

JC - Você também tem uma grande paixão pela música, com trabalhos e projetos sólidos na área. Com a loucura do Video Show, ela ainda tem espaço na sua agenda? A música seria, das artes que você domina, a sua válvula de escape?

CORTEZ - Desde os 17 anos eu também trabalho com música. Aliás, a música foi o meu trabalho de palco mesmo. Antes de ser ator de teatro, antes de ser jornalista, antes de ser humorista, eu era músico. Foi o que veio primeiro. E tenho CD's e tudo. Mas a minha pesquisa com música antes era ligada ao violão clássico e hoje ela é ligada ao resgate das músicas mais engraçadas da MPB apresentadas em novas versões. Pra isso eu criei o MDB, Música Divertida Brasileira. Esse resgate e releitura das músicas e versões da MPB eu faço com uma banda de apoio de rock-pop que é a banda Pedra Letícia, do Fabiano Cambota, meu grande amigo e um dos melhores humoristas de stand up que eu conheço. Então esse projeto que a gente faz é delicioso. Já tem um show, que tá rodando o Brasil todo desde 2014, e agora vai sair o CD da MDB, entre o final de julho e agosto, que tá muito legal. Então é a menina dos olhos aí no momento é o MDB. Junto, claro, com o meu trabalho no Vídeo Show que é o que mais me exige e o que mais tô dando energia agora.

JC - Como você define o artista Rafael Cortez atualmente, diante desta grande virada na carreira ao chegar na Rede Globo? Quais são seus próximos passos profissionais?

CORTEZ - Eu me defino como um empreendedor. Eu não sou nem um multiartista, um workaholic, eu sou um empreendedor. O que eu mais admiro em mim é isso. Eu realmente tenho muitos problemas de ego às vezes, mas mais pra baixo do que pra cima. Tem muitas horas que eu falo: 'Isso aqui não é bom, eu não sei fazer isso tão bem'. Mas o que eu adoro em mim é que eu nunca espero as oportunidades acontecerem, eu crio as minhas próprias oportunidades. Eu amo fazer as coisas que eu faço, por isso sou empreendedor. Meus projetos daqui pra frente, todos eles estão embuídos da mesma vontade. O meu sonho de consumo mesmo pra minha carreira, é que um dia tudo o que eu faça se equilibre. Que a música tenha um espaço tão bom e tão rentável quanto o humor, quanto a literatura, quanto a palestra. Atualmente, eu tenho áreas que dão certo mais do que as outras e elas sustentam as que dão errado. Tipo, eu não consigo ganhar dinheiro com música ou tenho um público grande com música, mas eu tenho com o humor. Meu sonho de velhice mesmo é um dia chegar na idade do Cauby Peixoto, que morreu fazendo o que amava até os 85 anos e se foi cantando. Eu quero chegar um dia na idade do Cauby e ser reconhecido como um cara que pode encher um teatro e vender bem um produto, tanto na palestra, quanto no humor, na literatura, na música, no teatro e no cinema: esse é o meu sonho pra vida. Não é que eu queira ganhar dinheiro com tudo, eu só queria que as finanças se equilibrassem em cada uma das áreas que eu atuo. (risos)

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