Jesuíta Barbosa diz que personagem em 'Justiça' serve de alerta para relacionamentos abusivos

"Vicente já era um criminoso em potencial", afirma o ator
Raquel Rodrigues da Estadão Conteúdo
Publicado em 24/08/2016 às 9:12
"Vicente já era um criminoso em potencial", afirma o ator Foto: TV Globo/Reprodução


Jesuíta Barbosa se sente atraído por personagens excessivamente dramáticos. Por isso, quando soube que interpretaria Vicente na minissérie Justiça, da Globo, intuiu que algo muito bom estava por vir. Na trama de Manuela Dias, o rapaz vê a sua vida arruinada após a empresa do pai, Euclydes (Luiz Carlos Vasconcellos), falir por causa de um golpe de Antenor (Antonio Calloni). Inconformado com a nova situação financeira, ele precisa adiar o casamento com Isabela (Marina Ruy Barbosa). Porém, ao flagrar a noiva com um ex-namorado, Vicente mata a garota na frente da mãe dela, Elisa (Débora Bloch), que jura vingança após o antigo genro sair da cadeia, sete anos depois do crime.

Na entrevista a seguir, o pernambucano de 25 anos fala sobre a construção do personagem, como enxerga a relação abusiva entre Vicente e Isabela e a transformação do playboy no decorrer da minissérie. Além disso, Jesuíta conta como foram as gravações iniciais em Recife e curiosidades sobre o edifício Holiday, uma das locações da história.

Como foi a preparação para viver o Vicente de Justiça?

JESUÍTA BARBOSA - Quando eu fiz o teste, tinha entendido que era um personagem com uma carga muito dramática. Então, já me interessa. Depois conversei com o Zé (José Luiz Villamarim, diretor) e me instigou muito essa ideia de uma pessoa que, de certa forma, se transforma depois de sete anos preso. Quis retratar alguém com essa vontade de se reconstruir. Até porque são quase duas pessoas distintas. São diferentes porque antes era um rapaz muito novo, cheio de energia, totalmente efusivo, apegado a esse conceito errado sobre o que é uma relação e depois a cabeça dele muda. Ele não vira outra pessoa, mas tem uma consciência diferente do que era.

A relação entre o Vicente e a Isabela é abusiva. Ele é ciumento, controlador, tanto que a mata após o flagrante da traição. O que você acha sobre a minissérie abordar esse tema?

JESUÍTA - Os temas de Justiça são muito fortes. Eu espero que essa história, esse núcleo do Vicente, mostre como essa relação de apego não precisa existir entre as pessoas. Quero que sirva como retrato, que as pessoas vejam e digam que realmente não podem tratar as outras como objeto. Eu não posso criar machismo dentro de mim, pois não me serve pra nada e acaba em tragédia.

Após sair da prisão, Vicente busca o perdão da mãe de Isabela. Você consegue defender o seu personagem?

JESUÍTA - Acho que ele é um cara muito errado. Antes de cometer o crime, já era um criminoso em potencial, porque é um cara que anda armado e criou uma relação de apego. Com essa menina, a Isabela, ele não tinha uma relação de carinho e de liberdade. Acho que, a qualquer momento, uma pessoa que anda armada pode matar alguém, e é isso que acontece com ele. Então, defendo esse personagem apontando que ele fez algo muito errado e que precisa pagar por isso, assim como qualquer um que comete um crime. Eu não sei sobre esse julgamento de sete anos. Não sei questionar muito o tempo. Então, cabe a quem assistir decidir se ele mudou ou não, se foi o tempo necessário ou se precisava ficar mais. Matar alguém é algo absurdo. 

O personagem constitui uma família enquanto estava dentro da prisão. Esse foi um fator de transformação?

JESUÍTA - Foi a primeira vez que eu fui pai e isso é um desafio bom também porque dizem que ser pai é uma revolução. Você não sente aquele amor até ter um filho. Tentei inventar um tipo de amor, porque acho que o Vicente se transforma, principalmente, pela filha dele. Afinal, ele mata a filha de alguém. Agora ele tem uma e dá o mesmo nome da ex-namorada para ela. Então tem essa relação de ele saber a dor que seria perder a própria filha.

Como foi gravar em Recife?

JESUÍTA - A gente gravou num edifício chamado Holiday, que é um prédio abandonado que foi ocupado. É tudo muito sujo, com pessoas humildes morando ali, habitando aquele lugar e não querendo sair. O edifício está condenado e pode cair. Estou dizendo que foi importante porque foram as primeiras cenas que a gente fez. Então, todo mundo ficou meio 'Opa!'. A gente estava trabalhando dentro de um lugar em que o jeito de fazer precisava ser muito simples por estar o tempo todo em contato com as pessoas que moram lá. Conversei bastante com os moradores. A gente ficou uma semana e acho que foi bem importante. Recife todo foi importante.

Levou algum aprendizado desse período de gravações no edifício Holiday em Recife?

JESUÍTA - Tinham pessoas incríveis ali dentro. Foi um aprendizado. Pessoas livres, soltas, que falam o que querem, fizeram figuração junto com a gente. Então, foi bom para o início da minissérie. Eu sempre tenho curiosidade com quem está perto de mim. Enquanto ator e ser humano em construção, você precisa estar ligado em quem está do seu lado. Falar com a pessoa que chega, cumprimentar. Ainda mais a gente que estava ali naquele ambiente. Para mim, era bom conversar e começar a me comportar como um daqueles.

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