Lilia Cabral imagina o que está por vir para Silvana, sua personagem em 'A Força do Querer', novela das 21h da Globo. A intérprete da viciada em jogos vê as consequências dos atos da mulher de Eurico (Humberto Martins) irem se agravando aos poucos A cada mentira que conta para manter sua compulsão, Silvana se afasta da família e cria um novo problema.
Na entrevista a seguir, a atriz - que completará 60 anos em julho, no dia 13 - conversa sobre a falta de entendimento de Silvana sobre o vício em jogos, da chegada da personagem ao fundo do poço e do retorno do público. Além disso, Lilia conta se já teve alguma compulsão, se já teve alguma insatisfação com o papel em 'A Força do Querer' e sobre seu próximo trabalho, na novela de Aguinaldo Silva, chamada provisoriamente de 'O Sétimo Guardião'.
Como é fazer uma personagem que tem compulsão pelo jogo?
LILIA CABRAL - Estou descobrindo, a cada dia que passa, quem é essa mulher. Silvana não se sente viciada. Ela acha que aquilo é simplesmente um prazer, uma válvula de escape, um motivo para relaxar a tensão. Você deve conhecer umas pessoas que dão testemunhos, dizendo que quando descobrem o vício é porque não têm mais alternativas e já estão no fundo do poço. A Silvana chega a falar: 'Não seria mais fácil todo mundo entender que preciso de uma válvula de escape?'. Ela inverte o jogo, coitada! Não percebe que a filha está cobrando em função da saúde da mãe, para a felicidade da família.
A Silvana chegará ao fundo poço?
LILIA - As consequências vão acontecer. A Glória (Perez, autora) não escreveria uma personagem para não mostrar o desfecho, que não é sobre ter salvação ou não. É para esclarecer. Acho que isso é o mais importante. Quando você coloca uma personagem como esta em uma história, não é para levantar bandeira nenhuma. É muito mais para você se identificar, compreender a situação e chegar a algum lugar. Se não entende, continua batendo na mesma tecla.
Qual a reação do público com o drama da personagem?
LILIA - Uma pessoa me abordou outro dia e falou que a mãe gosta de jogar. Eu perguntei como ela joga e a resposta foi: "A aposentadoria" (risos). Aí pensei que o caso fosse sério, afinal, joga o que tem. Outra falou que era viciada, no entanto o problema era a compulsão por compras. Então, questionei se tinha conseguido se livrar e ela, toda grifada, disse: "Consegui" (risos). A compulsão por compras é muito interessante, você não percebe.
Acredita que o jogo é um vício independentemente da condição social?
LILIA - Sim. A história do vício no jogo não tem questão de classe social: está nas classes A, B, C, D, E, não interessa isso. Tive testemunhos de gente que não tem nada e tira o pouco que tem do dedo, da orelha, do que for para saciar esse prazer. Isso é dolorido. Aquele que tem um dia vai ficar sem nada e alguém vai enriquecer nesse sentido.
Você possui alguma compulsão?
LILIA - Eu não sou uma pessoa compulsiva. Nunca me peguei desesperada por algum objeto. Não sei se a minha educação colaborou: a gente tinha de aprender a se satisfazer. Acho que a insatisfação cria uma ansiedade muito grande. É um mal do século XXI.
Houve um boato de que você estaria insatisfeita com o papel. É verdade?
LILIA - Ao pegar uma personagem, penso o que eu tenho de trabalhar e qual é a minha função, pois demorei muito tempo para ser protagonista. Então, tenho o know-how de como é e sinto que cheguei a ser uma porque fui provando, a cada trabalho, que tinha condições. Mas isso não significa que sou protagonista em todas as novelas. E sempre me sinto com uma função muito importante. Desde o início, estive muito feliz e satisfeita.
Você está escalada para a próxima novela do Aguinaldo Silva. Pode adiantar algo sobre a personagem?
LILIA - Sim, estou escalada, porém não posso adiantar nada. Estou fazendo essa novela primeiro e, depois, vou para a outra. O que posso dizer é que ele vai voltar para as origens, para o realismo fantástico. Sei que sou uma vilã, chamada Valentina. Adorei o nome! Só que, da história mesmo, terei detalhes após o fim de 'A Força do Querer'. Tenho um carinho imenso pelo Aguinaldo, uma gratidão muito grande. Ele peitou mesmo para eu fazer o Pereirão, em 'Fina Estampa' (2011), e jamais vou me esquecer disso. O que ele pedir, farei. Tem algumas pessoas com quem você abre o olho, mas, com ele, vou cega!