Taís Araújo, sobre cotas: ''Sentia falta de estar entre iguais''

Atriz considera que o sistema de cotas é uma solução transitória para uma injustiça histórica
JC Online
Publicado em 05/07/2017 às 16:18
Atriz considera que o sistema de cotas é uma solução transitória para uma injustiça histórica Foto: Fabio Bartelt/Monster Photo/Divulgação


A atriz Taís Araújo falou sobre temas como o sistema de cotas para as universidades, os ataques racistas que sofreu em 2015 e o relacionamento com o ator Lázaro Ramos para a Marie Claire. Taís, que atualmente interpreta a personagem Michele no seriado Mister Brau (Globo), é a estrela da edição de julho da revista e foi entrevistada pela editora Marina Caruso.

"Em 2015, percebi que não podia mais aceitar o preconceito passivamente. Ao mesmo tempo, não queria me promover em cima do racismo. Então, optei por não dar entrevistas, o que me causou muita dor de cabeça, e fui à delegacia prestar queixa por injúria racial. Sofri muita pressão para falar sobre o assunto na época. Até do Jornal Nacional. Tive que implorar para que a Globo me resguardasse. Meu lugar não é na seção policial do noticiário e sim na de cultura. Quanto mais falasse sobre aquilo, mais voz daria aos racistas", opina Taís, explicando porque decidiu não comentar sobre os ataques na época.

O racismo e o preconceito social estão entre os temas de Mister Brau, em que Taís contracena com o marido, Lázaro Ramos. Na entrevista à Marie Claire, ela também falou sobre o  livro Na Minha Pele, escrito pelo ator. "Há várias passagens do livro do Lázaro que me tocam muito. Quando ele fala da mãe, dona Célia, não me seguro. Foi um pecado ela não ter visto o filho bem assim", contou a atriz, que chegou a chorar.

"Nunca imaginaria que o menino que vivia no aperto viraria um dos maiores atores do país. Eu tive uma família economicamente forte, pude tudo. Meu sonho era ser diplomata, o Lázaro, quando criança, nem devia saber o que era isso. Acho uma sacanagem a mãe dele não estar aqui para ver o que ele virou. Quando a gente comprou a casa onde moramos, ele fez questão que tivesse piscina. O sonho dele era esse, o meu não, porque tive uma e sei que quase não se usa. Construímos a piscina e reformamos a casa toda. Numa das visitas à obra, eu e ele passamos pelo quarto de empregada e ele me disse: 'Eu saí daqui'. Meu coração ficou do tamanho de uma azeitona. É triste, mas é linda a história dele... Ele é lindo. Me apaixono todo dia".

Mobilidade social e educação

Sobre o sistema de cotas, ela opinou: "O sistema de cotas é, em muitos casos, a melhor solução transitória para uma injustiça histórica. Meus filhos são negros e, por serem de elite, certamente conviverão muito mais com crianças brancas do que com negras. Quando eu era menina, sentia falta de estar entre iguais".

"Meu pai trabalhava numa empresa que construiu praticamente toda a Barra da Tijuca e pudemos comprar um apartamento lá por um preço bom. Antes disso, no Méier, a gente estudava em um colégio supertradicional. Eu olhava para o lado e ninguém se parecia comigo. Lázaro e eu pensamos em colocar os meninos na Eleva, porque, além de ensino de qualidade, tem uma cota alta de bolsistas. Para entender a diversidade, é preciso conviver com quem é igual e com quem é diferente. Ou viveremos num sistema de castas. O país só avança com mobilidade social, e o que dá mobilidade social é a educação".

Cabelo

Taís Araújo usou peruca por oito meses quando interpretou a personagem Alícia, da novela A Favorita (Globo). "Foi uma tortura, mas me ajudou a fazer a transição capilar. Desde então, jurei para mim mesma que nunca mais alisaria nem colocaria megahair. Assumir meus cachos foi mais do que uma questão estética", afirma a atriz.

Ela conta que o cabeleireiro Wilson Eliodorio foi muito importante no processo. "Me fez ver que meu cabelo era bonito. Foi: ‘Uau, essa sou eu de verdade’, e isso tem um valor gigantesco, redentor. Hoje ensino para a minha filha que o cabelo dela é lindo, assim enroladinho, e não deixo ninguém pôr a mão!". 

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