Há 10 anos, o CQC chegava e impactava a televisão brasileira

Programa híbrido entre jornalismo e humor revolucionou a TV durante oito anos; Integrantes relembram o programa em entrevista ao JC
Robson Gomes
Publicado em 17/03/2018 às 13:30
Programa híbrido entre jornalismo e humor revolucionou a TV durante oito anos; Integrantes relembram o programa em entrevista ao JC Foto: Foto: Band/Divulgação


“Começa agora, para todo o Brasil, seu resumo semanal de notícias. Este é o Custe o Que Custar!”: A televisão brasileira nunca mais foi a mesma desde aquela “fatídica” noite de segunda-feira do dia 17 de março de 2008. Há exatos dez anos, a Band levava ao ar a primeira edição do CQC, um formato argentino que mesclava humor e jornalismo e, ao longo de oito anos, oito temporadas e 339 programas marcou seu nome na história da TV do nosso País.

Na linha de frente, sentavam na bancada daquele primeiro programa os humoristas Rafinha Bastos e Marco Luque. Estes ainda novatos na televisão eram comandados pela única pessoa conhecida de todo aquele primeiro elenco: o jornalista e apresentador Marcelo Tas. Além do cenário futurista, o figurino marcante com terno preto e óculos escuros eram usados pelos repórteres de rua. Naquela primeira temporada, Danilo Gentili, Felipe Andreoli, Oscar Filho e Rafael Cortez também estreavam na telinha.

O clima naquele primeiro ano era totalmente de aposta. É o que revela Oscar Filho. “Eu não tinha a menor ideia do que o CQC poderia representar para a política nacional e para a TV. Entrei no programa faltando duas semanas para estrear. Achava que seria um programa de humor metido a inteligente. E só acho que tive a real noção quando saí do programa, no fim de 2014. Foi realmente foi um marco”, disse ele, em entrevista ao Jornal do Commercio.

Com um humor ácido que abordava com perspicácia e inteligência desde questões políticas até esportes e celebridades, o CQC marcou a carreira de todos os integrantes que passaram por ele. “A minha passagem pelo CQC foi maravilhosa! Foi a experiência mais encantadora que eu já tive até agora em televisão. Um aprendizado enorme em todos os setores. Algo que marcou a minha vida para o bem e para o mal. Tem muitas coisas boas, outras ruins, mas as boas se sobressaem”, relembra Rafael Cortez.

Com o elenco que buscava se renovar a cada ano, vários repórteres usaram os microfones do programa. É o caso de Ronald Rios, que entrou na temporada 2012 e ficou por dois anos. “Eu vejo pouca televisão, mas antes de entrar, eu gostava muito do quadro Proteste Já (que denunciava os problemas da administração pública)”, conta ele, que tem o seu momento inesquecível: “Ir a Palestina conhecer uma história que eu imaginava ver apenas pela TV foi o ponto mais marcante”.

Especialista nas pautas de política, o repórter Guga Noblat vestiu o terno e óculos escuros nas temporadas 2013 e 2014, mas a história dele com o CQC começou em 2009, quando entrou no programa como um dos produtores de conteúdo. “O CQC é um lugar que te mostra se você tem ou não coragem. Se você não for uma pessoa audaciosa, ousada, dificilmente você se dava bem ali”.

Repórter das temporadas 2014 e 2015, Lucas Salles destacou o trabalho em equipe como uma das grandes marcas do programa: “Nós não éramos nada sem a ausência do produtor e do câmera. Nada. Os produtores e os câmeras eram quem, na verdade, faziam o programa. Mesmo. Até hoje, passando por outros produtos e por outras emissoras, até hoje, ainda não consegui ver uma equipe tão brilhante e eficiente quanto a que eu tive a honra de poder trabalhar no CQC”.

O apresentador Marcelo Tas deixou o comando da atração em sua penúltima temporada, em 2014. Quem assumiu a linha de frente foi o ator Dan Stulbach, sem saber que 2015 seria o último ano do humorístico: “Ali eu aprendi a falar com a câmera sem ter nada escrito. Eu dava minha opinião, expondo minhas convicções. Coordenar tudo aquilo, trabalhando sem TP (teleprompter) por minha escolha, e ainda levantando a bola para os humoristas fazerem as piadas foi um grande desafio para mim”.

DO SUCESSO AO DESGASTE

Sucesso de público e crítica, porém, nos últimos anos enfrentou o desgaste do formato. As teorias sobre o fim são muitas. “O CQC virou um programa só humorístico e o público se cansou porque virou mais do mesmo”, opina Oscar Filho. “À medida em que os integrantes originais foram passando, o público foi perdendo o interesse”, argumenta Rafael Cortez. “Acho que não teve um momento que o programa fracassou, mas a estratégia de focar menos em política não foi uma boa ideia”, afirmou Guga Noblat. Dan Stulbach, porém, foi mais direto em sua opinião: “O CQC saiu do ar por uma questão política”.

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