Há cinco anos, este repórter que vos fala (ainda estudante de jornalismo) acompanhou o último dia de atividades da MTV Brasil no dia 30 de setembro de 2013 após o fim do vínculo do Grupo Abril com a Viacom, que detém os direitos da marca internacionalmente, e hoje ocupa espaço no País apenas na TV fechada.
Em meio a uma grande crise da empresa - que perdura em vários de seus setores até os dias atuais - ficou o registro, apesar de tudo, de uma emissora que fez história na TV ao longo dos 23 anos de existência e marcou uma geração. E como recordar é viver, eu havia feito um texto sobre aquele último dia que trago novamente à tona para relembrar aquele momento. Confira.
Ontem eu resolvi acompanhar a última hora de vida da MTV da TV aberta. E o que se viu foi uma criança de 23 anos que se recusava a crescer e sair de casa. Abusando do auto deboche, a emissora evitou o tom de melancolia, deixando a nostalgia apenas para os 15 minutos finais.
Os dois últimos programas da casa – Furo MTV e O Último Programa do Mundo – exploraram “até a última ponta” a decadência do canal musical. O Furo foi o mais bem humorado, com direito a um editorial na abertura a la William Bonner na morte do fundador da Globo, Roberto Marinho. As expressões que marcaram este discurso com “desculpa, eu vou concluir” e “assina a carta, Irineu Marinho” foram ditas com bastante sarcasmo. Mas o encerramento deste programa com o elenco emocionado e um clipe mostrando toda a equipe ao som de Hey Jude e os supostos “fins” de cada integrante foi uma grande sacada.
Já o último O Último Programa do Mundo, com Daniel Furlan, a mim, não convenceu. Foram tortuosos 45 minutos de duração, onde um programa que também abordava o fim da emissora usou de um humor vazio e sem graça. Se o objetivo era rir da tragédia eminente e esquecer que o canal estava fechando as portas durante aquele momento, até ajudava, mas eu só conseguia ter vergonha alheia ao me dar conta do cenário de decadência que a emissora vivia. Na boa, uma seleção de clipes seria mais proveitoso.
Às 23h45, entrava no ar o Tchau MTV!, a atração derradeira do canal. Nele, vimos um discurso emocionado do VJ Thunderbird, seguido por um VT mostrando o início de vários apresentadores e programas, além de artistas que “queriam a minha MTV”, na época inicial da emissora. Logo após, Cuca Lazarotto, a primeira VJ a entrar no ar e chamar o primeiro clipe – Garota de Ipanema, com Marina Lima -, que por sinal era um cover, coube a ela também chamar o último videoclipe, que surpreendeu a todos positivamente: Maracatu Atômico, de Chico Science e Nação Zumbi. O cover de Gilberto Gil que fez sucesso na voz do pernambucano Chico Science, foi escolhido por ser um marco na música brasileira através do manguebeat, ritmo que foi bastante difundido pelas ondas magnéticas da MTV, valorizando um ritmo genuinamente brasileiro. Uma escolha mais do que certeira.
Como se já não fosse uma boa saída o clipe de Chico, no fim do vídeo, surge Astrid Fontenelle, no eterno cenário de chroma-key, para anunciar – por fim – o encerramento da MTV Brasil. Ela foi a VJ que “abriu” a emissora e fez questão de ser a última a “apagar a luz”. Ela ficou encarregada de ler a (linda) carta de despedida do canal, que resumiu bem a história da MTV e exalta os novos rumos daqui em diante:
“23 anos tocando música pros olhos. 23 anos botando o dedo na ferida. 23 anos revelando talentos. 23 anos revolucionando, sim, a TV. 23 anos debochando da gente mesmo. 23 anos botando essa porra pra funcionar direito, sim. Do nosso jeito. Viva a velha MTV Brasil! E vida longa, bem longa, pra nova MTV que começa amanhã. Sorte e sucesso pra quem segue. E pra quê sofrer com as despedidas? Se quem partiu não leva nem o sol, nem as trevas. E quem fica, não se esquece de tudo que sonhou. Eu fui até ali, nós fomos juntos até algum lugar, galera. Valeu. Foi Bom. Inté.”
E após uma salva de palmas de quem estava no estúdio naquele último instante, entrou um último VT ao som de Ôrra Meu, de Rita Lee, com imagens da equipe da MTV em preto e branco. Em seguida, o logo da emissora se despediu com as cores do Brasil desaparecendo num fundo preto, em silêncio. E em menos de 1 minuto de tela preta, assumiu a Ideal TV, um antigo canal desativado do Grupo Abril.
Minutos depois do fim da emissora, o site oficial da MTV saiu do ar completamente. Agora está o Ask Mama, uma brincadeira com perguntas sobre o futuro da MTV com a Mãe Dinah. E no rodapé da página, o nome da Viacom International.
A nova MTV estreia hoje (1º/10) na TV fechada, às 21h30 da noite, com Fiuk e Patrick Maia no comando do Coletivation. Embora ela já esteja “pronta pra outra”, o sentimento de nostalgia pela “velha MTV” sempre rondará as pessoas que ouviram todo o tipo de música e viram todo o tipo de comportamento nesse canal, que sempre foi sem fronteiras e fez história na TV aberta. Valeu, MTV Brasil!