'O Sétimo Guardião' tem coautoria reivindicada na justiça

Ex-aluno e Aguinaldo Silva enfrentam processo judicial para determinar os direitos da novela da Globo; Roteirista pernambucano revela os bastidores deste embate
Robson Gomes
Publicado em 14/11/2018 às 5:05
Ex-aluno e Aguinaldo Silva enfrentam processo judicial para determinar os direitos da novela da Globo; Roteirista pernambucano revela os bastidores deste embate Foto: Foto: TV Globo/Reprodução


Ainda que Aguinaldo Silva tenha dito ao Jornal do Commercio que nunca largou a escrita de O Sétimo Guardião, um processo judicial envolvendo um ex-aluno de uma oficina de roteiristas dele, que reivindica a coautoria nos créditos da nova trama das nove, por pouco não impediu que a novela fosse produzida.

Segundo informações da Folha de S.Paulo, Silvio Cerceau afirma ter sido responsável pelo argumento da nova novela e acusa o teledramaturgo de ter usado ideias dadas pelos estudantes durante as aulas sem lhes dar o devido crédito.

Nesta mesma oficina de Silvio estava o pernambucano André Wacemberg. Formado em Jornalismo pela Unicap em 2002, ele mora atualmente nos Estados Unidos, onde estudou roteiro com profissionais de Hollywood, além de fazer trabalhos no teatro e cinema. O rapaz também venceu um concurso de roteiros organizado por Aguinaldo Silva em 2012, antes mesmo de fazer a referida masterclass com o autor, no ano de 2015.

Ao JC, Wacemberg contou um pouco do que aconteceu: “No primeiro dia, Aguinaldo trouxe a proposta de recriarmos uma velha história que ele já havia adaptado para a TV nos anos 1980 na novela O Outro. Todos foram unânimes em querer voltar ao Realismo Fantástico, território em que o Aguinaldo é mestre. Ele pediu sugestões do que poderia haver debaixo de uma propriedade central na trama, que despertaria o interesse de todos. Foi quando eu sugeri a Fonte da Juventude, que levou a novela na direção dos guardiões. O próprio Aguinaldo publicou em suas redes sociais o momento em que sugeri a fonte (veja o vídeo abaixo), à qual ele depois atribuiu também poderes de cura. A masterclass funcionou como uma sala de roteiristas. Aguinaldo era nosso showrunner, e ia nos dando a direção, aceitando ou não nossas sugestões, ou transformando-as”.

O roteirista de 38 anos explica então qual foi a participação real da turma em O Sétimo Guardião. “Desenvolvemos todas as tramas, a descrição do mistério da cidade e dos guardiões, escrevemos o primeiro capítulo inteiro, e criamos todos os personagens, com sugestões de plots que devem ir pelo menos até o meio da novela. Como o Aguinaldo trabalha num esquema semelhante ao de séries, com três temporadas, ou fases da novela, talvez leve nossas sugestões de trama até a segunda fase, mas o universo inteiro da novela foi bem fiel ao que criamos naquelas duas semanas em Petrópolis”, afirma.

André Wacemberg também relatou os acordos feitos entre Aguinaldo Silva e os alunos: “Assim que a Globo quis adquirir a sinopse de O Sétimo Guardião, Aguinaldo devolveu o valor investido, acho que até antes mesmo dos primeiros rumores [do processo de plágio]. Nós pagamos R$4 mil para fazer a master, ele devolveu R$5 mil, o que cobre um pouco também das despesas com aérea e hospedagem, mas não todas. Na ocasião, tivemos sim que assinar um novo contrato, no total de três contratos assinados. Acho que nos três abríamos mão dos direitos autorais patrimoniais, que nos dariam participação nos lucros da obra, mas os direitos autorais de paternidade e criação são intransferíveis. Não há como o autor cedê-lo, e, no caso, os 26 alunos são coautores da novela”. Com isso, os 26 estudantes foram mencionados nos créditos finais nos dois primeiros capítulos como coautores. E até então, esse será o único reconhecimento oficial.

Para o roteirista, o ex-aluno que expôs o caso publicamente tem suas razões, mas não concorda com a forma de como isso foi feito. "Eu não concordei com a forma que o Sílvio agiu porque todos nós sabíamos o que estávamos assinando desde que fomos selecionados para participar da masterclass. Ele errou em também falar em nome dos outros alunos quando procurou a imprensa a primeira vez numa iniciativa que era só dele. Por outro lado, entendo a frustração dele", declara.

Para Wacemberg, o desgaste com o processo também provocou o ônus de não serem escolhidos nem como colaboradores de O Sétimo Guardião. "Havia também a expectativa de que o Aguinaldo chamaria os alunos que mais se destacassem no curso para serem seus colaboradores e escreverem com ele toda a novela, como aconteceu em Fina Estampa (ele chamou quatro alunos da turma de 15). Mas, segundo Aguinaldo, por conta da confusão com o Sílvio, ele não chamou nenhum da nossa turma, deixando mais uma frustração de realmente o nosso trabalho todo lá não ter sido valorizado à altura. Ou seja, o Sílvio tinha base para negociar, só acho que errou na forma que o fez".

Mesmo com todo esses processos correndo na justiça, André Wacemberg se sente feliz por ter feito parte de alguma forma da atual novela das nove. "A verdade é que não haveria outra forma de ter uma novela nossa na TV Globo se não fosse por uma iniciativa como a do Aguinaldo para dar acesso a novos talentos. [...] Numa era tão polarizada e dividida do país, vai ser bom saber que de alguma forma contribuí para quebrar um pouco desse gelo, e ajudei a unir as pessoas na sala de casa para dar algumas risadas. Espero que a minha Fonte tenha esse poder de cura. E, como profissional, espero que a Globo reconheça a nossa contribuição para o sucesso da novela e nos recompense à altura", espera.

RESPOSTAS

Procurado pela reportagem da Folha de S.Paulo, Aguinaldo preferiu não se manifestar: “Não é de bom tom que as partes se pronunciem ou alardeiem suas próprias opiniões, que são conflitantes. Quem tem que se pronunciar é a Justiça. E ela, no seu devido tempo, certamente assim o fará”. Contatada pelo JC, a Globo afirmou não estar envolvida diretamente no caso. “A Globo não faz parte da ação judicial mencionada e não comenta casos pendentes de avaliação do Judiciário”, disse a Comunicação da emissora.

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