Os 90 anos de Roberto Gómez Bolaños, o eterno Chespirito

Com talentos múltiplos, artista mexicano permanece vivo em personagens marcados pelo humor leve e cativante

Foto: Google Images/Reprodução
Com talentos múltiplos, artista mexicano permanece vivo em personagens marcados pelo humor leve e cativante - FOTO: Foto: Google Images/Reprodução

O ano é 2012. No dia 29 de março, bastante debilitado de saúde, o ator, roteirista, diretor e comediante Roberto Gómez Bolaños, aos 83 anos, adentra o Auditório Nacional da Cidade do México para receber uma homenagem especial no evento America celebra a Chespirito, que seria veiculado dias depois em 17 países da América Latina. O motivo? Comemorar, em vida, a trajetória de um artista que mudou a história de crianças, jovens e adultos com personagens que permanecem no imaginário até hoje, que mesmo tendo partido há quase 5 anos, poderia estar aqui comemorando os 90 anos de seu nascimento, que foi lembrado na última quinta-feira (21).

Muito antes de ser conhecido por interpretar Chaves, Chapolin Colorado, Dr. Chapatin, Vicente Chambón, El Chanfle, Pancada Bonaparte, Chaveco e outros tantos personagens na TV, no cinema e no teatro, Chespirito – o pequeno (William) Shakespeare, apelido dado pelo diretor Agustín Delgado – por pouco, não se rendeu ao futebol, que era seu sonho de criança. Na adolescência, pensou em ser lutador de boxe ou engenheiro. Mas o destino mostrou, felizmente, que a vida artística era a sua verdadeira vocação.

Qual será, então, o motivo de Roberto Gómez Bolaños conquistar tanta gente ao redor do mundo com papéis, em sua maioria, tão simples e inocentes? Talvez, alguns de seus admiradores até hoje possam explicar.

“Costumo dizer que conheço o Chaves desde a barriga da minha mãe, pois já nasci assistindo a série. Chaves remete à minha mais doce infância, que segue comigo até hoje, e agora com meu filho, passando de geração em geração. Chaves é simplesmente atemporal. Vai além de seu tempo”, conta a bancária Juliana Bezerra, de 30 anos, que fez questão de eternizar o garoto do barril em uma tatuagem na sua perna. “O que me chama atenção é que Chaves não sai de moda nunca. Crianças, adultos e jovens amam. Não conheço uma pessoa que diga “não gosto do Chaves”. Outra coisa que me chama a atenção é que não precisa ser apelativo para ser engraçado. Chespirito era simplesmente um gênio”, argumenta.

Conhecer o Chaves é um chamariz para conhecer os outros trabalhos de Bolaños. Foi o que aconteceu com a auxiliar financeira Elaine Ribeiro, de 39 anos. “Bolaños é um artista plural. Não só amo Chaves, mas sou apaixonada pelo Chapolin e seu jeitinho peculiar de se dar mal em meios aos seus episódios, mas que ao final é o super herói... Imperfeito, mas é. Conheci outros personagens, mas acho que nenhum outro trabalho dele se compare à Vila mais amada do mundo”, derrete-se.

O redator Egnaldo Júnior, de 26 anos, destaca uma qualidade interessante do Chaves: “A série nos conquista por ser simples, mas não simplista. Bolaños até trata de assuntos mais sociais, como a corrupção, mas de uma pegada muito mais leve e divertida”.

Ainda que os episódios de Chaves e Chapolin passem de maneira interminável na TV aberta e fechada, mesmo com uma qualidade questionável de imagem e dos cenários, telespectadores e fãs chegam à conclusão que o criador desse universo é um homem que manteve o coração de menino até os últimos (e difíceis) dias de sua vida, ensinando ao público que a simplicidade importa.

“Acredito que o Bolaños tenha uma importância muito grande não só na minha vida, como de tantos fãs. Seus programas sempre passaram boas mensagens que não esquecemos até hoje, falo de valores morais”, destaca o radialista Binho Aguirre, de 28 anos. “Roberto Bolaños é extremamente importante na minha vida. Quando estou feliz assisto Chaves para comemorar, quando estou triste também. [...] Não consigo mensurar os episódios da minha vida sem o Chaves e toda a sua turma. Bolaños é um verdadeiro imortal, como rotulam os acadêmicos”, ressalta o jornalista e diretor Adriano Portela, 34.

DESPEDIDA

Roberto Gómez Bolaños faleceu de insuficiência cardíaca aos 85 anos no dia 28 de novembro de 2014, em sua casa em Cancún, deixando seis filhos, a esposa Florinda Meza (a intérprete de Dona Florinda), e milhares de fãs órfãos como o Chaves, que ele mesmo criou e segue sendo sua obra prima. E o Brasil, que sempre demonstrou amor e respeito à este artista, tinha um lugar especial em seu coração.

Não por coincidência, seu último post no Twitter foi dedicado aos brasileiros, e a notícia de sua morte, veiculada no SBT/TV Jornal, interrompia mais uma exibição de Chaves. Com um funeral emocionante, digno de Chespirito, talvez a melhor homenagem dada à Bolaños foi em vida lá em 2012, quando ele estava presente. E uma das canções especiais compostas para a ocasião resumia o sentimento de muitos que queriam estar aqui hoje, celebrando seus 90 anos: “Obrigado por ser o amigo / Que sempre espera por mim no mesmo lugar”.

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