Livrarias investem em espaços multiuso para atrair público

Cafés, auditórios, teatro e área para contação de histórias ampliam o leque de atuação
Germana Macambira
Publicado em 24/08/2014 às 19:47


O estudante de Letras, Glaydson Moraes é um frequentador assíduo de livrarias. Seja para comprar um livro ou folheá-lo enquanto saboreia um cappuccino, seja para assistir a uma peça de teatro. Em sua última ida à unidade da Livraria Cultura do RioMar Shopping ele fez as três coisas e ainda participou de uma roda de leitura que acontecia em um dos espaços do ambiente. 

Não foi muito diferente com a arquiteta carioca Jaqueline Andrade Freitas. Enquanto decidia entre um livro ou uma coleção de filmes de Woody Allen para presentear o namorado, ela acompanhou um pocket show que acontecia no fim da tarde de uma quinta-feira. “Eu entrei para comprar o livro, mas me deparei com o setor de filmes e a dúvida surgiu. No final gostei de ter demorado mais do que eu previa, porque assisti a um show muito bacana de uma artista local”, comentou.

E esta é a estratégia das livrarias: prolongar a permanência dos clientes e deixá-los à vontade, com a oferta de entretenimentos das mais variadas. O carro-chefe desses estabelecimentos ainda é o livro, claro, mas não é de hoje que eles deixaram de ser o único pilar de sustentação do negócio. 

“O perfil de livrarias que sobrevivem apenas com a venda de livros, não existe mais. Outros atrativos se tornaram necessários para segurar e manter os antigos leitores”, salientou Mileide Flores, diretora da Associação Nacional das Livrarias (ANL) no Nordeste e vice-presidente do Sindicato dos Livros (Sindilivros). 

Dos velhos habitués que não abrem mão de adquirir os clássicos da literatura até as gerações de geeks em busca dos últimos lançamentos de games, o espaço das livrarias modernas se adequam a todos os públicos e gostos.

No Recife, grandes redes como a Saraiva Megastore, a Livraria Cultura e a Livraria Imperatriz enquadram-se no perfil atual do setor livreiro. Algumas delas como a Saraiva já ocupam mais da metade do ambiente com produtos que não são livros. Já a Cultura tem a maior parte do espaço ocupado por edições impressas.

E até o final de setembro, a livraria mineira Leitura será a próxima a apostar no mercado local, com mais de mil metros quadrados de livros e, é claro, muito entretenimento.

“Assimilando os novos ares das livrarias, que se tornaram um lugar de passeio, readequamos nossas lojas e passamos a oferecer produtos que hoje não podem faltar nas prateleiras, tanto quanto os livros”, comentou o sócio-proprietário da Leitura, Marcus Teles.

“Sempre existiram outras linguagens dentro das livrarias, mas não com a força do cenário atual, forçado pela internet e pelo poder de compra do consumidor, que aumentou”, ressaltou a diretora da ANL.

Do já indissociável cafezinho da Viena do século 18 até as sessões de autógrafos, exposições de fotografias e pintura, pockets shows, rodas de literatura, peças de teatro, exibição de filmes e encontros os mais diversos, as mudanças, realizadas de forma gradual, foram necessárias tanto para os grandes estabelecimentos quanto para as pequenas mas não menos importantes “livrarias de bairro”. 

“O café permanece insubstituível. Mas o mimo deixou de segurar o cliente. Outros investimentos foram necessários, entre eles cadeiras e sofás convidativos, que encorajam o cliente a sentar e ler o quando quiserem”, afirmou Mileide. 

“Recife é a capital mais cultural do Nordeste. Não há motivo melhor para investir em arte. A ideia da galeria e do teatro instalados na Cultura do RioMar são provas de que o tiro foi certeiro”, justificou Pedro Herz, da Livraria Cultura.

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