Ronaldo Correia de Brito fala sobre Ariano em Petrolina

Escritor vai explicar sua relação com o mentor do movimento armorial e as visões distintas do sertão na obra dos dois
Do JC Online
Publicado em 20/09/2014 às 5:10
Escritor vai explicar sua relação com o mentor do movimento armorial e as visões distintas do sertão na obra dos dois Foto: Foto: Jorge Clésio/Divulgação


Um sertão com endereço certo, e outro com endereço incerto. Em um ensaio, o poeta Alberto da Cunha Melo definia assim a literatura de Ariano Suassuna e Ronaldo Correia de Brito, respectivamente: duas formas diferentes de inventar um espaço geográfico real. Ronaldo, um dos principais autores contemporâneos de Pernambuco, foi marcado de diversas formas pela figura do autor de Auto da Compadecida e Romance d’A Pedra do Reino. Em Petrolina, dentro da programação da Feira do Livro do Vale do São Francisco, o autor cearense fala neste sábado (20/9), às 19h, dessa relação com Ariano e sua visão do sertão.

“Ele foi uma pessoa que pontuou muito minha trajetória. Ele é menos uma influência literária e mais um exemplo de pessoa que dedicou a vida à causa da cultura no Brasil”, explica Ronaldo. Ele conheceu o mentor do movimento armorial quando ainda era um estudante de Medicina e morava na Casa dos Estudantes com o parceiro de peças, Assis Lima, e o poeta Ângelo Monteiro. “Íamos lá para o Departamento de Extensão Cultural (DEC), na UFPE, e ficávamos conversando com ele. Ariano era um senhor de 40 anos e nós éramos meninos. Naquela época, ele escrevia o Romance d’A Pedra do Reino e perdia um tempo enorme lendo para a gente pedaços da obra”, recorda o autor de Galileia e Estive lá fora.

Era no DEC, relembra Ronaldo, que os conhecimentos dos artistas que não se exilaram se encontravam, em figuras como Samico, Francisco Brennand e Cesar Leal. Na época, o autor cearense fez com Assis Lima dois filmes em Super8: Auto da portas do céu e Lua cambará. “Quando ele viu o copião de Lua cambará, ele vibrou muito. Dizia que esse era o material para um cinema armorial”, diz o escritor. “Mas eu e Assis éramos ainda estudantes de Medicina. Não íamos conseguir levar adiante e corremos da parada”.

A parceria com Antúlio Madureira e Assis Lima no filme se estenderia para suas peças teatrais infantis, como Baile do Menino Deus, Arlequim, Bandeira de São João e O pavão misterioso. É nas artes cênicas que sua obra dialoga um pouco mais com a produção de Ariano – ele cita Arlequim como um exemplo, por trazer elementos da commedia dell'arte. “A minha dívida em relação a Ariano é mais no discurso, no interesse pela cultura popular. Minha literatura vai por outro caminho”, define Ronaldo. “Eu precisava ‘matar’ um pouco da admiração que tinha por ele, como Jung fez com Freud. De fato, precisei fazer uma ruptura”.

A definição de Alberto da Cunha Melo é importante para ele justamente por isso: em Galileia e em outras narrativas suas que trazem o sertão, Ronaldo busca um espaço que não obedece somente à invenção das tradições. Na longa genealogia do sertão na literatura brasileira, de José de Alencar a Guimarães Rosa, está mais próximo desse sertão “dentro da gente” do escritor mineiro. Em uma coluna para o jornal O Povo, Ronaldo falou do seu último encontro com Ariano, que reiterou porque continuava viajando o Brasil com suas aulas-espetáculo pelo Brasil todo: “Ronaldo, eu prefiro morrer caminhando na estrada do que esquecido dentro de casa”.

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