Ondjaki e Lourenço Mutarelli em conversa descontraída

Em debate com Sidney Rocha, os dois escritores fizeram uma das melhores mesas da Fliporto 2014
Do JC Online
Publicado em 16/11/2014 às 16:18


Em uma das mesas mais irreverentes da 10ª edição da Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto), o angolano Ondjaki e o paulista Lourenço Mutarelli conversaram sobre roteiro, infância, medos, telenovelas e séries. Com uma mediação descontraída do escritor cearense Sidney Rocha, o debate foi um dos melhores da Fliporto 2014 até agora.

Logo de início, Sidney Rocha e Ondjaki prestaram homenagem ao poeta Manoel de Barros. “Ele foi um especialista em desnudar as palavras. Ele fazia milagres com qualquer uma delas”, apontou o angolano Ondjaki. Se a imagem é um potencializador de palavras no cinema, Mutarelli fez o caminho inverso, saindo dos quadrinhos para a prosa, de livros como O cheiro do ralo e A arte de produzir efeito sem causa. “Fui para a literatura porque a imagem entrega demais, determina demais”, apontou.

A infância solar de Ondjaki e a infância lunar de Mutarelli, como descritas por Sidney, foram também um dos temas do debate. Ondjaki falou da importância da sua avó, dos seus vizinhos e da sua recriação das memórias na sua escrita. “Há sempre duas infâncias e duas vidas:  a que vivemos e a que lembramos”, confessou o autor. “Se numa palestra tem alguém da minha família na plateia, logo corrigem minhas histórias, dizem que ‘não aconteceu assim’. Eu gosto de responder: ‘Shhh, escreve teu livro, então.’”

Mutarelli contou que não tem problemas com as adaptações dos seus livros. “Mesmo que o leitor não goste, sei que a obra está ali, intacta”, afirma. Distante dos quadrinhos, ele revelou que voltou a desenhar para si mesmo. “Escrever é para mim a forma mais completa de pensar.” Ao falar sobre seus maiores medos - da morte, sua e dos seus amigos, do desemprego e até das panelas de pressão -, adiantou que seu próximo romance deve ir por um caminho menos sombrio e ainda explicou que tem um método para não aceitar a perda de amigos. “Minha vingança contra a morte é não apagar o número deles da minha agenda de telefones, nunca”, disse Mutarelli.

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