As pessoas, em geral, precisam ver com outros olhos o cotidiano e os pensamentos particulares para entenderem o que há de cômico e absurdo neles. Boa parte do humor atual se sustenta a partir disso – nem sempre com muita sutileza. Figurinha carimbada na web como fundador, roteirista e ator do canal de vídeos Porta dos Fundos, o escritor carioca Gregorio Duvivier gosta de expor a intimidade bastante universal de conversas de casais, da procrastinação e da obsessão por redes sociais, por exemplo.
Desde julho de 2013, o poeta e ator passou a escrever semanalmente crônicas para o jornal Folha de S. Paulo, recheadas de humor, claro, e com algum espaço para a crítica política. Neste sábado (6/12), aproveitando a passagem pelo Recife com o espetáculo Uma noite na lua (Teatro Luiz Mendonça, Parque Dona Lindu, às 19h e 21h), ele aproveitou para realizar aqui uma tarde de autógrafos do seu novo livro, Put some farofa (Companhia das Letras, 206 páginas), às 14h, na Livraria Cultura do Paço Alfândega.
O livro reúne crônicas, esquetes e outros artigos do autor carioca. Formado em letras na PUC-Rio, Gregorio sempre esteve próximo à escrita, mesmo quando construía uma carreira no teatro, no cinema e na web. Seu primeiro livro, Ligue os pontos (Companhia das Letras) foi lançado no final do ano passado, com versos que ele já vinha fazendo no seu antigo blog, Rua Caio Mário. Se a poesia estava cheia de influências da literatura marginal e despojada das últimas décadas, as crônicas o colocam como um dos mais populares nomes do gênero da atualidade.
Put some farofa, publicada durante a Copa do Mundo, teve mais de 230 mil compartilhamentos – número comparável a vídeos do Porta dos Fundos. O texto brinca com a ansiedade típica do brasileiro de receber bem, com um inglês capenga e efusividade. Assim como o cotidiano, o humor que também vai descortinando alguns dos problemas que enxerga no mundo é um dos formatos recorrentes da obra. Em alguns textos, sobre aborto, respeito à religião ou ódio a minorias, tenta unir o posicionamento de colunas com a leveza das crônicas.
As esquetes são excelentes – é possível lembrar ou imaginar os vídeos através dela. Nas crônicas, Gregorio se mostra um escritor capaz, mas ainda traçando seu caminho para entrar no rol dos principais cronistas da geração atual. Se sobra humor dentro dos contos e relatos pessoais, num estilo que Luis Fernando Verissimo soube e sabe realizar, muitas vezes o leitor deseja alguma surpresa, um instante que desarme tanto o autor como o público. História real, que fala de quando ele era adolescente e foi descoberto fumando maconha por policiais, tem um pouco desse efeito. Todos sabem que que Gregório é capaz de fazer a maioria rir, mas às vezes é preciso mais para criar uma crônica ou uma narrativa que seja mais do que a grande sacada de um vídeo de humor.
Confira quatro crônicas do livro.