Discreto como sempre viveu, o escritor Gilvan de Souza Lemos, membro da Academia Pernambucana de Letras (APL), faleceu neste sábado (1º) aos 87 anos. A presidente da APL, Fátima Quintas, recebeu a informação através de uma parente do romancista, de que o havia encontrado morto em seu apartamento, no bairro da Boa Vista. As causas mais provável é a de um infarte fulminante.
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"A academia só tem a lamentar profundamente esta perda enorme. Sua obra sólida, consistente, sem dúvida deixa um legado extraordinário", afirma Fátima Quintas. Natural de São Bento do Una, Agreste pernambucano, Gilvan ingressou na APL em fevereiro de 2012, onde ocupava a cadeira 26. Ele não pode comparecer à posse por haver torcido o tornozelo e foi representado pela sobrinha Lívia Valença, na ocasião.
O autor publicou 25 livros, sendo A Noite dos Abraçados (1975), Os Pardais estão Voltando (1983), Emissários do Diabo, O Anjo do Quarto Dia, Enquanto o Rio Dorme e Morcego Cego (1998) suas principais obras. O velório será neste domingo (2), na Câmara de Vereadores de São Bento do Una, no Agreste do Estado. O escritor será sepultado às 16h, no cemitério de sua cidade natal, no túmulo ao lado dos pais, um pedido expresso seu.
HISTÓRIA - Um dos principais nomes da prosa pernambucana, Gilvan Lemos nasceu em São Bento do Una, no Agreste, em 1928. Na sua cidade, não tinha acesso a livros, mas começou lá mesmo a criar suas próprias histórias em quadrinhos - era filho de uma mulher simples, mas que já tinha lido Machado de Assis e Dostoiévski. GIlvan só cursou até o ensino médio e, para ter acesso a livros, recorria ao reembolso postal. Seu primeiro romance, Noturno Sem Música (1956), foi escrito quando veio ao Recife, em uma máquina de escrever alugada por poucos dias.
Foi por aqui que sua trajetória literária se solidificou. Por um conselho de Osman Lins, não tentou publicar seus livros em editoras pernambucanas - enviou os originais, mesmo sem uma recomendação, para a editora Globo. Foi aprovado por ninguém menos que Érico Verissimo.
A partir daí, chamou a atenção de críticos e colegas de pena. Publicou obras como Emissários do Diabo (1968), Os Olhos da Treva (1975) e O anjo do quarto dia (1981) - são mais de 20, no total, sendo a mais recente de 2010. Em 2012, foi eleito para a Academia Pernambucana de Letras por aclamação, em um reconhecimento oficial para um homem discreto, que se preocupava mais com os livros e a escrita do que com os confetes literários. E que, aos 87 anos, confessava que estava descobrindo o sabor dos próprios textos. "São muito bons. Eu penso até que não fui eu que escrevi", conta no documentário LEMOS, Gilvan, feito por Cida Pedrosa e Mariane Bigio.
"O que nos leva a considerar Gilvan, um dos principais escritores do País? As respostas são inúmeras: a qualidade dos seus textos; o vigor dos personagens; o desenvolvimento, às vezes ingênuo, das suas histórias", comenta o escritor Raimundo Carrero, em texto sobre o romance Os Olhos da Treva.
Obras de Gilvan Lemos
I – Romances
1. Noturno sem música. Recife: Ed. Nordeste, 1956. Prêmio Vânia Souto Carvalho, da Secretaria de Educação – PE. 2ª ed. Recife: Bagaço, 1996
2. Jutaí menino. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1968. Prêmios: Orlando Dantas, do Diário de Notícias (Rio); Olívio Montenegro, da UBE – PE. 2ª ed. Recife: Bagaço, 1995
3. Emissários do diabo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. Prêmio da APL. 2ª ed. São Paulo: Editora Três, 1974 (Coleção Literatura Brasileira Contemporânea); 3ª ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987
4. Os olhos da treva. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975. Menção Honrosa (Prêmio José Conde/Recife). 2ª ed. S. Paulo: Círculo do Livro,1983
5. O anjo do quarto dia. P. Alegre: Globo, 1981, Prêmio Érico Veríssimo, da mesma editora. 2ª ed. São Paulo: Globo, 1988. 3ª ed. Recife: Bagaço, 2002
6. Os pardais estão voltando. Recife: Guararapes, 1983
7. Espaço terrestre. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1993
8. Cecília entre os leões. Recife: Bagaço, 1994. 2ª ed. Recife: Bagaço: 2007
9. A lenda dos cem. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995. 2ª ed. Recife, Ed. Bagaço, 2005
10. Morcego cego. Rio de Janeiro: Record, 1998
11. Vingança de desvalidos. Recife: Nossa Livraria, 2001
II – Contos
1. O defunto aventureiro. Recife: EDUFPE, 1974. Menção Honrosa do Prêmio José Lins do Rego, da Ed. José Olympio (Rio). 2ª ed. Recife: Bagaço, 2001
2. Os que se foram lutando. Rio de Janeiro: Artenova, 1981
3. Morte ao invasor. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1984
4. A inocente farsa da vingança. São Paulo: Estação Liberdade, 1991
5. Onde dormem os sonhos. Recife: Nossa Livraria, 2003
6. Largo da alegria. Recife: Bagaço, 2003
III – Novelas
1. A noite dos abraçados. Porto Alegre: Globo, 1975
2. O mar existe. In: A inocente farsa da vingança. São Paulo: Estação Liberdade, 1991
3. Enquanto o rio dorme. Recife: Bagaço, 1993 (uma das novelas de A noite dos abraçados)
04. Neblinas e serenos. Recife: Bagaço, 1994 (duas das novelas de A noite dos abraçados). 2ª ed. Recife: Bagaço, 1995
05. A Era dos Besouros – Editora A Girafa – São Paulo – Maio de 2006
06. Na Rua Padre Silva – Editora Nossa Livraria – Recife – Outubro de 2007
IV. Contos nas coletâneas
1. O urbanismo na literatura. Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1975
2. O novo conto brasileiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985
3. Seleta de autores brasileiros. Rio de Janeiro: Jornal de Letras, 1987
4. Memórias de Hollywood. São Paulo: Nobel, 1988
5. Contos de Pernambuco. Recife: Massangana, 1988
6. Erkundunger 38 Brasilianische Erzahler. Berlim: Verlag Volk und Welt Berlin, 1989
7. Le serpent a plume. Paris, 1994
8. Caravanes. Paris, 1998
9. Antologia do conto nordestino. Recife: Micro, 1998
10. Panorama do Conto em Pernambuco – Fundação Maximiano Campos - Recife – Outubro de 2007