Literatura

Gilvan Lemos é sepultado em São Bento do Una

Corpo do escritor foi sepultado no final da tarde, na presença de familiares e amigos, em cerimônia discreta

Do JC Online
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Publicado em 02/08/2015 às 17:55
Luis Silva/Divulgação
Corpo do escritor foi sepultado no final da tarde, na presença de familiares e amigos, em cerimônia discreta - FOTO: Luis Silva/Divulgação
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O corpo do escritor pernambucano Gilvan Lemos foi sepultado no final da tarde deste domingo, em São Bento do Una, sua terra natal, na presença de familiares e amigos. Autor de Emissários do Diabo e O Anjo do Quarto Dia, Gilvan, 87 anos, foi encontrado morto em seu apartamento no bairro da Boa Vista, neste sábado.

"Assim como o cantor Alceu Valença, Gilvan era o nosso cidadão de luxo de São Bento de Una. Por sinal, Alceu foi primo legítimo de Gilvan. Temos uma gratidão enorme por ele ter levado a riqueza do nosso município em seus livros. Em todas as nossas  Bibliotecas Públicas Municipais reservamos livros dele nas estantes. Existe uma lei municipal que dar o direito de prestar homenagem em espaço públicos, logo após a morte. Já iremos estudar a melhor forma de homenagearmos este grande valor literário de nossa região", declarou Bruno Cavalcante Braga, presidente da Câmara Municipal de São Bento do Una, durante a última homenagem ao escritor.

 

 

"Gilvan era meu primo. Sempre gostei muito dele, tinha uma admiração grande porque foi ele quem me iniciou na literatura - e Emissário do Diabo foi um livro importantíssimo para mim. Ele era um autor com estilo próprio e de uma modéstia incrível. Se ele não fosse assim, teria sido tão cultuado como os grandes autores brasileiros. Só que gostava de ficar no cantinho dele, sem participar de festas e eventos. Pernambuco perdeu um grande escritor", disse o cantor Alceu Valença.

REPERCUSSÃO

"Nós da Cepe lamentamos profundamente a perda, não só pela qualidade do GIlvan romancista, mas pela pessoa que ele era. Foi sempre recatado, optou por viver com um círculo fechado, mas nunca deixava de ser simpático. A Cepe estava preparando um livro para a coleção Memória Cepe, com coordenação de Pedro Américo Farias e entrevistas e redação de Thiago Corrêa. Vamos ver como podemos continuar essa trabalho, até porque ele foi republicado pela Cepe recentemente. E também queremos dar um destaque especial a sua obra na Fenelivro." Ricardo Leitão, presidente da Cepe

“A obra de Gilvan possui um recorte social: encontramos nos seus livros o Recife dos desejos vazios, de personagens com uma biografia à deriva. (....) Ao mesmo tempo, Gilvan não gosta de ser chamado de engajado – na verdade, ele é contra qualquer rótulo para si mesmo.”
Fátima Quintas, antropóloga e escritora, presidente da APL.

"O que nos leva a considerar Gilvan, um dos principais escritores do País? As respostas são inúmeras: a qualidade dos seus textos; o vigor dos personagens; o desenvolvimento, às vezes ingênuo, das suas histórias. Com Gilvan morre um pedaço de cada um de nós. E, por extensão, morre uma parte significativa da literatura brasileira. Iluminado, dedicou a vida à ficção, escrevendo sem cessar e merecendo a admiração de todos. A seu modo renovou a ficção pernambucana com romances como O Anjo do quarto dia e Os olhos da treva, além de ter conquistado admiração em várias partes do mundo. Lido, reverenciado e amado."
Raimundo Carrero, escritor, da APL

"Quando cheguei ao Recife, um dos primeiros livros que li foi O anjo do quarto dia, de Gilvan, nos bancos da Livro 7. Tenho um exemplar aqui e leio trecho, do final: “ ... me guardem, me garantam, não deixem que eu morra hoje, distribuo minha riqueza, não deixem que eu morra hoje, não deixem que...”. São falas de Orico, um desses irônicos personagens na obra de Gilvan. Mas a riqueza de um escritor não é sua vida, que, afinal, nem é sua; mas sua obra. Não deixemos que morra. Guardaremos. Garantiremos. Continuaremos a ler Gilvan Lemos."
Sidney Rocha, escritor

“Gilvan Lemos sempre foi visto como um regionalista. Eu me reservo a discordar dessa opinião. Antes de tudo ele fazia uma constante reinterpretação de suas origens. Essa preocupação é mais presente em sua obra do que aquele sentimento de unidade de Nordeste, que foi a principal marca do regionalismo. Na minha opinião, é até pejorativo dizer que ele era um regionalista. Realmente ele teve influência de Graciliano Ramos, de José Lins do Rego, de Raquel de Queiroz. E até de Érico Veríssimo. Mas ele me disse certa vez que um dos escritores que o influenciara foi Lúcio Cardoso. E, entre os estrangeiros, Stendhal e Gide.  Ou seja, ele ia e vai além dos rótulos.”
Cícero Belmar, jornalista e escritor

“O Brasil perdeu um dos seus grandes romancistas. Fazer o filme: Lemos, Gilvan, em parceria com Mariane Bigio, foi um presente. Conviver com ele e partilhar das suas memórias uma viagem ao mundo beleza, do riso e também da dor. Li ele na adolescência e não parei mais. Estou  bem triste por ele ter sido encontrado morto, mas conversamos sobre isso e ele achava que poderia ser assim.”
Cida Pedrosa, poeta e criadora do site Interpoética

"Caramba, ainda chocado com a notícia da morte de Gilvan Lemos. Que coisa. Sempre fui fã de Gilvan, li boa parte da extensa obra. Tive a honra de mostrar minha admiração por ele em vários encontros e também de fazer uma longa entrevista em 2012. Como sempre disse Raimundo Carrero, vai o homem e fica a obra. Mas estou triste hoje, pois foi embora um dos meus heróis. Fica na paz, mestre Gilvan."
Ney Anderson, jornalista, do blog Angústia Criadora

"Eu e Cida tivemos a oportunidade, neste último ano, de ver as entrelinhas de Gilvan. Gravando o documentário LEMOS, Gilvan, vimos que ele se revelava também quando a câmera se desligava. Era um gênio solitário - a vida o levou para isso e, no final, ele optou por ficar mais só, mesmo com apoio da família e de amigos. Uma das coisas sobre ele era essa mágoa de não ser tão reconhecido, especialmente fora do Estado, como foram nomes como Osman Lins e Raimundo Carrero. Repetia que se tivesse saído do Recife seria outra história. Eu me sinto privilegiada de ter conhecido ele e a obra dele através do documentário. No final do vídeo, ele diz que queria ser enterrado em São Bento, mesmo ela não sendo a cidade que ele reconhecia da infância. Era uma espécie de despedida."
Mariane Bigio, poeta

"Gilvan, apesar de reconhecido em Pernambuco, ficou quase como um anônimo fora da aqui. Acho que o valor da literatura dele é a invenção. Não a invenção da linguagem, como seu amigo Osman fazia, mas a invenção dos enredos belíssimos, do prazer de contar seus contos e romances. Se tivesse vivido no Rio de Janeiro ou em São Paulo, em contato com críticos e escritores, teria outro grau de respeito. A timidez dele também o prejudicou muito. Isso não impediu de ser publicado pela editora Globo, a partir da recomendação de Érico Verissimo e do apoio de Hermilo Borba Filho. Por não ter conseguido sair - por injunções familiares - ele sempre amargou uma mágoa."
Pedro Américo Farias, poeta

"Conheci Gilvan desde a década de 60. Tinha uma profunda admiração. Um cara que só fez o curso o primário, mas foi um intelectual excepcional. Era um homem muito simples, engraçado, espirituoso, vinha sempre para São Bento do Una e foi, aqui, que ele colhia os personagens para as suas histórias. Lembro uma vez que encontrei, por acaso, com Ariano Suassuna e ele disse bem sério para mim: "vocês devem reverenciar Gilvan Lemos, um grande valor literário de Pernambuco."
Aroldo Valença, primo

"Desde criança,  Gilvan era afilhado dos meus pais e frequentava lá em casa. Um ser humano extraordinário, simples, simpático, pacífico e muito apegado à família. O escritor Osman Lins vivia aconselhando ele para ir morar no Sul do país, mas ele preferiu ficar cuidando da mãe que andava doente na época. Tem uma coisa que muita gente não deve saber: Gilvan foi um craque, jogava nos principais times de futebol de São Bento do Una. Tenho foto e tudo dele em campo. Também desenhava muito bem, mas a sua principal paixão era mesmo pela escrita. Na infância fundou uma Sociedade Literária em sua terra. Acho que a única coisa que prejudicou ele foi o excesso de modéstia. Sabe como é, né, esse meio dos intelectuais...".
Francisco Leoni de Souza Valença, 80 anos, Odontólogo, escritor autor de 4 obras publicadas sobre a história de São Bento do Una

 

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