O escritor Salman Rushdie fez um dos discursos de abertura da Feira do Livro de Frankfurt na manhã de terça (13/10), na capital alemã. Assim como sua bibliografia, uma ampla crítica ao papel da religião na sociedade, as palavras do autor indo-britânico focaram a repressão de pensamento e como a literatura pode combatê-la.
"Os guardiães da liberdade de expressão estão no mercado editorial", afirmou o escritor. "A ficção é a narrativa que contesta o mundo."
A fala de Rushdie expõe uma ferida aberta que ele traz desde 1989. Naquele ano, o aiatolá Khomeini sentenciou Rushdie à morte e convocou iranianos a perseguirem o escritor. O motivo foi a publicação de seu quinto livro, Versos Satânicos. A obra foi descrita como uma blasfêmia contra o Islã e o profeta Maomé.
Vinte e seis anos depois, Rushdie e Irã se reencontram em Frankfurt e os nervos ainda estão expostos: às vésperas do começo da feira, o país muçulmano ameaçou o evento de boicote.
Em meio a um forte esquema de segurança, Rushdie disse que não se intimida. "Publicar começa a parecer uma guerra", disse o autor. "Editoras e escritores não são guerreiros. Nós não temos armas ou tanques. Mas cabe a nós manter a linha, não bater em retirada, entender que esta é uma posição da qual não podemos retroceder."
IDEIAS FORTES, PESSOAS FRACAS
Durante o discurso sobre liberdade de expressão, Rushdie lembrou que a vida do escritor merece proteção. "A literatura, a arte em si, é incrivelmente durável e forte", disse. "Mas os escritores são fracos. Os escritores podem ser machucados. Suas vidas podem ser destruídas. E mesmo que seu trabalho sobreviva, isso não é grande consolo quando você está morto."
Sua fala foi um chamado a escritores de todo o mundo para que não se deixassem abater por mordaças e exprimissem suas opiniões livremente. Advertiu, ainda, que a liberdade de expressão está em perigo não apenas pela violência de extremistas. Para isso, citou um grupo de estudantes da Universidade de Duke, nos EUA. Neste ano, os alunos criticaram o programa de leitura da instituição, que adotou a graphic novel Fun Home, de Alison Bechdel, obra que trata de homossexualidade.
"Os estudantes sentiram que a sua educação religiosa seria ofendida por este livro", disse Rushdie. "E parece-me que a ideia de que os alunos não devem ser intelectualmente desafiados em uma universidade é o exato oposto do que as universidades fazendo. Talvez os alunos devessem se retirar da universidade e deixar lugar para outros que possam chegar e se beneficiar do que chamamos de educação."