Fernando Pessoa vira HQ feita por português e brasileiro

Sem nunca se encontrarem pessoalmente, André Morgado e Alexandre Leoni transformaram o poeta em um agente secreto
Diogo Guedes
Publicado em 15/11/2015 às 5:44
Sem nunca se encontrarem pessoalmente, André Morgado e Alexandre Leoni transformaram o poeta em um agente secreto Foto: Divulgação


A vida de um poeta com tantas identidades é a mais adequada para gerar uma história sobre sociedades secretas e maldições. Ao pensar em criar uma narrativa que aproximasse os leitores jovens da obra do poeta português Fernando Pessoa, o professor e escritor português André Morgado buscou inventar uma vida diferente para ele: a de um homem convocado para combater um “maleito do diabo” que assola como epidemia algumas pessoas. Homem das palavras, no entanto, precisava de um parceiro para transforma a ideia em HQ. Foi na capital do Mato Grosso do Sul, no Brasil, que ele encontrou o parceiro Alexandre Leoni.

Os dois nunca se conheceram, apesar de terem criados juntos a história A Vida Oculta de Fernando Pessoa, financiada via crowdfunding. Na Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto), os dois vão se encontrar neste domingo (15/11) pela primeira vez, às 18h30, na programação principal do evento, no Colégio São Bento, em Olinda.

O projeto foi uma forma de vencer a resistência de possíveis leitores que acham que Pessoa ou a sua poesia são “chatos”; daí veio o apelo ao formato das HQs. “Talvez muita gente se esqueça que Fernando Pessoa era uma pessoa tão interessante como toda a panóplia literária que nos deixou. Pessoa era mais do que um poeta. Era um empreendedor, alguém que arriscava a nível pessoal e profissional – mesmo que nem tudo corresse bem. Era um homem ligado à arte de estimular o pensamento nos seus mais variantes quadrantes, incluindo o ocultismo. Fernando Pessoa foi, aliás, próximo de Edward Alexander Crowley (famoso ocultista britânico)”, comenta André ao JC, em entrevista por e-mail.

O apreço pelo misticismo e pelo mistério do poeta do desassossego se juntaram ao fascínio que os seus muitos heterônimos despertam. “Ao contabilizarmos mais de cem nomes criados e utilizados para representação de eu’s diferentes, podemos apenas imaginar por quantos mundos viajou e quantas mentes interpretou (literariamente falando) realmente. Portanto, a sua vida real abre as portas para que a imaginação de cada um de nós crie várias parcelas heroicas dentro do próprio herói literário que todos lhe reconhecemos”, ainda pondera o roteirista.

Esse Fernando Pessoa ainda é composto em grande partes de trechos e confissões do próprio autor português. Além de um mergulho na obra do criador de A Tabacaria, eles tiveram que fazer um imenso exercício de pesquisa histórica. “Nesse processo de pesquisa – não só para a produção gráfica mas também para a escrita – procuramos estudar fotografias do início do século 20, em Lisboa; vimos filmes noir como Pacto de Sangue ou Império do Crime, lemos alguns livros biográficos sobre Pessoa e estudamos muitos apontamentos do próprio Fernando Pessoa, onde descrevia as características físicas dos heterônimos, por exemplo”, lembra André. Ele ainda revela que, para criarem a narrativa à distância, os dois abusaram de duas ferramentas: a confiança e a internet. “Montar as peças do puzzle – escrita e ilustração – à distância foi um dos desafios mais interessantes”, explica. Para conhecer esse Fernando Pessoa com ares de agente secreto poético, basta ir conferir essa parceria inusitada.

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