Documentário revela a vida de Clarice Lispector

Dirigido por Taciana Oliveira, o filme mistura depoimentos com viodearte para falar da escritora
Do JC Online
Publicado em 13/12/2015 às 5:20
Dirigido por Taciana Oliveira, o filme mistura depoimentos com viodearte para falar da escritora Foto: Lucas Hero/Divulgação


Diogo Guedes
dgduarte@jc.com.br
Quando criança, a escritora Clarice Lispector já gostava de escrever. Enviava para os jornais recifenses os contos que fazia, esperando que fossem publicados nas sessões infantis. Nunca viu nenhum ser impresso e, só adulta, entendeu a razão disso: todas as histórias das outras crianças seguiam o formato clássico do “era uma vez”; as feitas por ela eram compostas simplesmente por “sensações”.

Ao converter essas sensações nas suas narrativas – que depois conquistariam leitores até mesmo fora do Brasil – começava a nascer uma das grandes escritoras da língua portuguesa. A história, contada pela voz da própria autora, está no documentário A Descoberta do Mundo, dirigido por Taciana Oliveira, que tem sessão especial no Recife domingo (13/12), no Cinema São Luiz, a partir das 15h, com presença da diretora, de Augusto Ferraz e de Fernando Santana. Com uma hora e 30 minutos de duração, o filme mostra, através de depoimentos, imagens recuperadas e fotografias, a trajetória literária e pessoal da autora.

O filme se baseia, principalmente, nos relatos de pessoas que conheceram Clarice e nas palavras de autora em um depoimento ao Museu da Imagem e do Som. Sua vida, desde a saída da Ucrânia e chegada ao Recife, é intercalada com trechos do livro A Descoberta do Mundo, que reúne algumas das crônicas mais pessoais dela, e cenas que tentam captar a poesia dessa prosa.

A história do filme começou em 2005. Ao conseguir a autorização do filho de Clarice, Paulo Gurgel Valente – que sugeriu a consultoria de Teresa Monteiro para os dados da obra –, Taciana tinha o objetivo de intercalar documentário e ficção. Cássia Kiss chegou a confirmar a participação, interpretando a autora, mas depois desistiu do papel. Com as entrevistas concluídas, ele tentou finalizar a parte que interpretaria a vida da criadora da A Hora da Estrela, mas desistiu. Terminou fazendo um documentário acrescido momentos de videoarte.

“Nas conversas, algumas pessoas se recusavam a falar. Diziam: ‘O que eu vivi com Clarice vai morrer comigo’. Mas as pessoas que estão no filme realmente conviveram com ela, foram próximas. Não é um filme ‘paparazzi’, de saber com quem ela ficou e essas coisa, é uma obra além disso. É um documentário que tenta falar da vida de Clarice como se ela ainda estivesse presente – afinal, é esse o poder da arte, perpetuar o artista”, comenta a diretora. Entre os vários presentes no filmes, estão nomes como Beth Goulart, Ferreira Gullar, Nélida Pinõn, Alberto Dines, Affonso Romano de Sant’Anna, Marina Colasanti, Lêdo Ivo e Paulo Gurgel Valente.

Apesar de não ter desistido de filmar uma ficção baseada na vida de Clarice, Taciana ficou feliz de poder emprestar seu olhar poético para o documentário. “Acho que foi libertador. O texto de Clarice permite um certo experimentalismo, porque provoca, desperta sentidos”, explica. Já envolvida com documentários e com videoarte, não esperava que a “maluquice” de juntar os dois fosse dar certo. “Notei que ficaria bom quando faço a transição entre o Recife e o Rio de Janeiro na vida dela, que é um momento fundamental para mim”, conta.

Exibir o filme na capital pernambucana é, para ela, uma ocasião especial de ressaltar a importância de Clarice e da preservação. “O Recife não só não respeita a memória dela, mas também a de outros artistas. A cidade se decompõe a cada dia, está perdendo a sua vida. Dói quando você chega na Praça Maciel Pinheiro e vê que ela está num estado deplorável”, denuncia.

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