Leia um trecho dos livros vencedores do Prêmio Cepe de Literatura

Criado para celebrar o centenário da Imprensa Oficial em Pernambuco, o concuros teve quatro vencedores
Do JC Online
Publicado em 27/12/2015 às 5:54
Criado para celebrar o centenário da Imprensa Oficial em Pernambuco, o concuros teve quatro vencedores Foto: Reprodução


Uma das iniciativas da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) para celebrar os cem anos da criação da Imprensa Oficial do Estado, o Prêmio Nacional Cepe de Literatura recebeu quase 600 originais em 2015. Neste domingo, data exata do centenário, o Jornal do Commercio publica um trecho de cada uma das quatro obras vencedoras do concurso.

As obras inéditas foram escolhidas nas categorias de romance, contos, poesia e infantojuvenis. A premiação de R$ 20 mil para cada um se junta ao direito de ter a obra publicada pela Cepe Editora – a previsão é que os títulos sejam lançados em abril do próximo ano, com um projeto gráfico exclusivo.

Elton Alencar, Sérgio Siqueira, Guilherme Castro e Marcos Pereira são de lugares distintos Fortaleza (CE), Ouro Preto (MG), Porto Alegre (RS) e Rio de Janeiro (RJ), respectivamente. A comissão responsável por escolhê-los foi formada pelos críticos José Castello, Luís Henrique Pellanda e Anco Márcio Tenório Vieira.

Apesar de não ter nenhum pernambucano entre os vencedores, a Cepe divulgou que 25% deles era do Estado. “Um dos objetivos do prêmio é divulgar nacionalmente o nome da editora e, ao mesmo tempo, trazer obras de qualidade para o nosso catálogo”, comenta o presidente da Cepe, Ricardo Leitão. Além do Prêmio Nacional Cepe de Literatura, a Cepe tem outros dois editais para inéditos: o Concurso Cepe de Literatura Infantil e o Prêmio Pernambuco de Literatura, coordenado pela Secretaria de Cultura do Estado.

Os vencedores do Prêmio Cepe 2015:
 
E Eu, Só uma Pedra, de Helton Pereira (CE), categoria infantojuvenil
Avaliação da comissão do prêmio: “O livro faz uma aposta prioritária na invenção. Trato cuidadoso da fantasia. Ousadia intelectual. O protagonista – a pedra – é um personagem singular, que foge dos clichês e estereótipos das histórias infantis. O manejo ousado da imaginação. A narrativa apresenta uma visão pluralista e sem preconceitos da realidade. Referências sutis à tradição e às influências literárias. Leveza de estilo.”
Trecho: “Ela tinha nascido há muito, muito tempo, na boca de um vulcão, e desde o início ela era apenas uma coisa: uma pedra. Ora na escuridão, ora sob o sol, ora embaixo d’água, passou-se um longo tempo até que coisas interessantes começassem a acontecer na vida dela. Quem trouxe as novidades foram os homens e as mulheres, de cujas bocas saíam sons engraçados, diferentes dos que outros animais produziam.”
 
O Grande Massacre das Vacas, de Sérgio Corrêa (MG), categoria romance
Avaliação da comissão do prêmio:
A obra trata de um tema desconhecido – e aparentemente secundário – da história brasileira, mas que revela muito daquilo que se denomina de Brasil profundo. No caso, o transigir entre o público e o privado: seja no campo dos negócios e da política, seja nas relações de amizade. Por meio de uma narrativa equilibrada, firme e persuasiva, o autor se envereda pelo romance histórico, mas sem fazer da ficção uma mera moldura para um evento da história brasileira. Pelo contrário, submete a história à ficção e recria pela imaginação o passado brasileiro.
Trecho: “Seus ancestrais já tinham cumprido missões bizarras, ali mesmo: o seu avô tinha sido imediato no navio que levava ao Barão de Drummond um casal de onças para o nascente Jardim Zoológico do Rio. Uma delas – a fêmea – tinha se soltado da jaula improvisada, e ficara passeando pelo convés. A maior parte da marujada se acovardou e fugiu, mas o Primeiro Tenente Rafael Aubrey foi até o arsenal, pegou um fuzil, calou a baioneta e expulsou a onça do navio, na ponta do ferro frio (...).
É, podia ser que os Aubrey e os Trombeteiros tivessem sido designados para descascar a maioria dos abacaxis de antigamente, mas achava que algum deles tinha estado numa missão tão bizarra quanto a dele. Em suma, duvidava que algum de seus antepassados jamais recebesse ordem de viajar milhas e milhas num navio de guerra da Marinha do Brasil, só para matar duas centenas de vacas.”
 
O Amor Que Não Sentimos, de Guilherme Azambuja (RS), categoria conto
Avaliação da comissão do prêmio: Bom conjunto de contos que, em geral, tratam as relações familiares e emocionais de um modo delicado, com uma sensibilidade original e uma escrita limpa e direta, fazendo um ótimo uso da oralidade. Os personagens são construídos com cuidado e eficiência, assim como as vozes de seus diversos narradores. Memória, infância e adolescência são trabalhadas de forma a retratar situações comuns, mas complexas, de passagem, perda ou conquista de experiência. O próprio ambiente onde as histórias se desenvolvem é de fronteira, reforçando essa impressão de transpasse ou transgressão. As referências extraídas da cultura pop, geracionais e das tradições gaúchas também foram muito bem equilibradas.
Trecho: “Quando a mãe disse que andava de onda com um cara, e que ele se chamava Bebeto, logo imaginei um homem gordo. Que nem o Bud Spencer. Por causa da letra bê de Bebeto, acho.
Mas não.
Esse homem que um dia apareceu lá em casa, bigode fininho, voz arranhada por causa do cigarro e dizendo “eis o famoso Carlos”, era um magricelo. Aí, nessa hora, o homem imaginado não se encaixou no de verdade, mas por algum tipo de mágica já me fez esquecer do imaginado.
Era assim. Pronto. Era assim.”
 
Elogio do Carvão, de Marcus Vinícius Quiroga (RJ), categoria poesia
Avaliação da comissão do prêmio:
Firmeza de linguagem. Poemas que – apesar da enfática influência cabralina – trazem uma marca individual e sustentam uma assinatura. Trato criativo das influências. A poesia vista não só como atividade intelectual, mas como forma de expressão lírica. Uma poesia que, de alguma forma, reflete e pensa a respeito da própria poesia.
Trecho:
Sempre se faz uma escrita
com diferente matéria,
desde que seja palavra
e não apenas ideia.
 
Inesperada, nos salta
sujando o branco da página
e talvez não tenha lógica,
nem obedeça à gramática.
 
Mas eis que enfim se apresenta
uma palavra encardida,
toda vocábulo-nódoa,
a modo de ser poesia.
 
Já não nos diz do intangível,
nem dos fantasmas internos;
tem agora outro feitio
na forma crua dos versos.

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