Cícero Belmar lança livro de contos reverenciando a memória

Muito pelo tino jornalístico, os contos do romancista Cícero Belmar sempre possuem um pé na realidade. Os contos partem, muitas vezes, de notícias reais, recortes de jornais e factoides que se transformam em abordagens políticas, sociais, religiosas e até urbanísticas. Agora, ele está reunindo 25 contos dessa natureza em "O Livro das Personagens Esquecidas", lançado pela Cepe Editora nesta quinta-feira (17), às 19h. O evento será na Academia Pernambucana de Letras, onde o autor ocupa a cadeira de número 33.

"É o meu terceiro livro de contos. Esse, em específico, tem um enfoque em personagens, e todos eles fazem referência à memória ou ao esquecimento. Todos eles são amarrados por esse fio condutor. É um livro que tem um enfoque meio político, pois vários deles tem situações políticas. A memória tem muito a ver com a situação política em que se vive", explica Cícero Belmar, ao JC, que destaca que foi repórter de cobertura policial. "Recorto jornais, vou guardando e tiro o personagem disso."

Sobre optar por dar enfoque à memória, o autor explica que "a memória é a nossa vida". "A memória é uma cúmplice da literatura, e a literatura é uma cúmplice da memória também. Tem muita coisa que volta da nossa memória como escritor. São coisas que eu vi, que li, que aprendi com a vida. Estou escrevendo em cima disso."

Ele cita, por exemplo, como surgiu a ideia do conto "Buracos de Lataria", que conta sobre quando Fidel Castro visitou Pernambuco. "Eu ouvi uma mulher contando no ônibus que ela viu Fidel quando era menina, entrando na casa de uma amiga, em Olinda. Fui atrás, pesquisei, e não é que ele estava mesmo em Pernambuco no ano em que ela falou? Então, eu inventei a história de uma menina que declamou um poema para o comandante."

Os contos selecionados para compor "O Livro das Personagens Esquecidas" passaram pelo crivo de Raimundo de Moraes, Cleyton Cabral, Gerusa Leal e Lúcia Moura (falecida em 2021 por complicações da covid), escritores do grupo de oficina permanente Autoajuda Literária, do qual Belmar também faz parte. Cleyton, Gerusa e Raimundo participarão da solenidade de lançamento da publicação e vão dividir a mesa com o autor num bate-papo sobre o livro. "O título, inclusive, nasceu a partir de uma sugestão de Cleyton", ressalta Belmar.

"Eu tinha numerosos contos, e os submeti ao grupo literário de que participo chamado Autoajuda Literária. Os amigos e amigas que fazem parte deste grupo me ajudaram a selecionar as narrativas. E essa seleção ocorreu logo depois do golpe de que foi vítima a presidente Dilma", explica, ainda sobre o processo de produção dos contos.

"Outros, foram escolhidos um pouco mais adiante, mas eu acredito que todos estávamos igualmente indignados com o resultado das eleições de 2018. Acho que aquele ambiente político e social que vivíamos influenciou na seleção. Infelizmente, as coisas pioram de lá para cá e o livro tem muito a ver com essa realidade."