Cida Pedrosa lança nova edição de 'As Filhas de Lilith'

A obra ganha nova versão, em volume com 26 curtas-metragens sobre os poemas
Diogo Guedes
Publicado em 15/07/2017 às 8:22
A obra ganha nova versão, em volume com 26 curtas-metragens sobre os poemas Foto: Rick Rodrigs/Divulgação


Quando lançou o livro As Filhas de Lilith, há oito anos, a poeta Cida Pedrosa não imaginava como ele continuaria vivo anos depois. Nesse meio tempo, a obra ganhou uma releitura completa em formatos de cantoria, gerou 26 curtas-metragens, quase todos dirigidos por cineastas pernambucanas, foi tema de pesquisas acadêmicas e, claro, alvo de muitos debates e leituras. A atualidade dos poemas ainda hoje impressiona Cida – prestes a lançar, na próxima quarta (19), uma nova edição do livro – para o bem e para o mal.

O volume trabalha, através dos seus 26 poemas, a liberdade sexual feminina, os desejos das mulheres e a violência que sofrem. Se tantas releituras e reflexões sobre a obra mostram como a poética construída por Cida é repleta de força, também a fazem pensar em um lado triste disso tudo: significa que a sociedade mudou muito pouco, que a violência contra mulher ainda é um tema urgente e que os textos que falam da sexualidade feminina de fato – com clitóris, masturbação, desejos, úteros e protagonismo – ainda circulam pouco.

A nova edição de As Filhas de Lilith sai pela editora de Cida com seu marido, Sennor Ramos, a Claranan, com recursos próprios. O volume, com as ilustrações de Tereza Costa Rêgo, ganhou uma introdução da própria autora e um acréscimo especial: um DVD com os 26 curtas que nascem do ventre da poesia da obra. “Foi, na época, uma espécie de mapeamento das cineastas mulheres de Pernambuco, com 25 diretoras – algumas ainda ficaram de fora. Hoje acredito que temos muito mais cineastas do que em 2009”, conta Cida.

MARCO

“Lilith é uma espécie de marco. Ele fala do erotismo do ponto de vista da mulher, da violência machista. Isso se juntou a toda uma poética existencial minha de luta pela literatura e fez o livro bombar”, opina a escritora, que vai relançar a obra na quarta, às 18h, no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), com um recital com Mariane Bigio, Renata Santana, Silvana Menezes e Susana Morais. “É um livro que nunca terminou e não termina, feito de muitas mãos, o que me deixa muito alegre, mas mostra que muitos assuntos de que o livro trata não estão perto de ser resolvidos.”

Na introdução de obra, Cida fala da obra como “um grito feminista e não dogmático”. “Lilith foi bem aceito pelas mulheres, mas algumas feministas mais dogmáticas não gostaram, diziam que eu só discuto a liberdade do corpo, e não o restante dos temas do feminismo. Eu acho que o feminismo tem uma questão de classe, tem uma questão emancipatória, e nunca pensei que é só libertar do ponto de vista cultural e do corpo que tudo seria resolvido. Acredito que Lilith fala de forma escancarada tanto sobre a igualdade de direitos como da liberdade para o corpo e as atitudes”, explica a autora.

O próximo projeto de Cida é um “livro das definições” do universo feminino, explicando sem eufemismos termos que ela considera essenciais. “Não é que eu goste de chocar, é que eu acredito que temos que botar o dedo na ferida, ainda mais quando o conservadorismo religioso bate na altura dos joelhos e temos um estado que parece cada vez mais autoritário”, avisa.
l Lançamento de As Filhas de Lilith (R$ 35), de Cida Pedrosa – quarta, às 18h, no Mamam (Rua da Aurora, 265, Boa Vista)

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