Três pernambucanos estão entre os finalistas do Prêmio Jabuti 2017, conferido pela Câmara Brasileira do Livro.
O escultor, pintor e ceramista Francisco Brennand concorre na categoria Biografia, com Diário de Francisco Brennand: O nome do livro e o nome do outro, lançado pela editora Inquietude Brennand Fortes Produções Culturais.
O escritor e professor da Universidade da Califórnia José Luiz Passos concorre em Romance, com O Marechal de Costas, pela Companhia das Letras.
A poetisa e ilustradora Clarice Freire é finalista na categoria Ilustração com Pó de Lua, lançado pela Intrínseca.
Veja aqui os finalistas do Prêmio Jabuti 2017.
Durante 50 anos, Francisco Brennand escreveu um diário. Parte dele - mais precisamente, a década de 1963 a 1973 - sucumbiu ao fogo de 300 graus do forno de sua oficina cerâmica, por vontade própria do artista. por serem textos "muito lamurientos. Não eram literatura, apenas desabafo e choramingos”. Mas o que se salvou das chamas dos diários que FB escreveu desde a sua partida para uma temporada na Europa, em 1949, até o ano anterior àquele em que fincou no coração do Recife a sua coluna de cristal, 1999, ficará agora à disposição do leitor em forma de quatro livros contidos numa caixa.
Diário de Francisco Brennand – O Nome do Livro foi a forma escolhida para batizar os três primeiros volumes, que seguem cronologicamente as décadas de 1949 a 1979, 1980 a 1989 e 1990 a 1999. O quarto da série difere de seus irmãos em projeto gráfico e narrativa. Enquanto os primeiros seguem rigorosamente a estrutura de um diário, com entradas de datas e reflexões ao sabor de fatores internos e externos a exercerem pressão sobre o autor, este último, que recebeu o subtítulo de O Nome do Outro, é, nas palavras de quem o escreveu, “uma narrativa folhetinesca, como se o narrador tivesse pressa em conduzir um depoimento que não lhe seria favorável”.
Formada em publicidade, Clarice chegou a trabalhar em diversas agências do Recife. Entre uma tarefa e outra, escrevia e desenhava, desenhava e escrevia. Ao final do dia, jogava tudo fora. Até que uma amiga 'descobriu' o lixo de Clarice e alertou-a sobre a riqueza literária e visual que havia ali. "Sempre escrevi como forma de sobrevivência, sempre. Sobrevivência interior."
No começo de 2014, Pó de Lua, que havia começado como blog, viraria seu primeiro livro, chegando a mais de 70 mil cópias vendidas. Em julho de 2016, Clarice lançou o segundo: Pó de Lua nas Noites em Claro. No facebook, já são quase 1,3 milhão de curtidores das suas poesias visuais. passo a passo, Clarice segue diminuindo a gravidade das coisas.
Da janela do seu apartamento atual, a poeta e ilustradora Clarice Freire tem um panorama amplo da cidade do Recife. Foi com essa vista, aliada ao silêncio e à solidão da madrugada, que a autora pernambucana criou o seu segundo livro, Pó de Lua nas Noites em Claro (Intrínseca). As noites, o momento preferido dela para refletir, desenhar e imaginar, são o próprio roteiro da história que ela tece com poemas, prosa e, claro, desenhos.
A biografia, diz um personagem do romance O Marechal de Costas (Alfaguara), é uma tentativa de retratar alguém quando só se pode ver as costas dele. Ao tentar abordar no livro o personagem de Floriano Peixoto – o solitário vice-presidente que assumiu o posto e descumpriu a Constituição que mandava convocar novas eleições –, o escritor e professor pernambucano radicado na Califórnia, nos Estados Unidos, José Luiz Passos tentou vê-lo de frente. Não através de meros eventos históricos, mas sim pela principal arma da ficção: a capacidade de imaginar, a partir de indícios (ou os contradizendo), uma vida interior, com pensamentos e conflitos.
Na ficção histórica de José Luiz, o olhar para as figuras do passado é uma forma de entender (ou inventar) as suas motivações. E não só isso: é um caminho para traçar um perfil da formação da nossa República, que já nasceu com eleições indiretas, um vice com ares autoritários e um povo que, quando não via isso como o público passivo de um espetáculo, era duramente reprimido.
A sutileza da obra está quando ela fala do presente. Nele, as manifestações de rua e os discursos da ex-presidente Dilma Rousseff são o pano de fundo, vistas através não da vivência de uma grande figura pública, mas de uma cozinheira que talvez tenha algum parentesco com o marechal presidente. Afinal, talvez as pessoas comuns sejam os melhores protagonistas do hoje. Assim, O Marechal de Costas é uma narrativa – histórica, irônica, sensível e ensaística – sobre as nossas precárias instituições e sobre, como diz a cozinheira, “encontrar um país que não me apunhale”.