Brennand, José Luiz Passos e Clarice Freire na final do Prêmio Jabuti

Francisco Brennand concorre em biografia, José Luiz Passos disputa em romance e Clarice Freire é finalista em ilustração
JC Online
Publicado em 04/10/2017 às 10:06
Francisco Brennand concorre em biografia, José Luiz Passos disputa em romance e Clarice Freire é finalista em ilustração Foto: JC IMAGEM


Três pernambucanos estão entre os finalistas do Prêmio Jabuti 2017, conferido pela Câmara Brasileira do Livro. 

O escultor, pintor e ceramista Francisco Brennand concorre na categoria Biografia, com Diário de Francisco Brennand: O nome do livro e o nome do outro, lançado pela editora Inquietude Brennand Fortes Produções Culturais.

O escritor e professor da Universidade da Califórnia José Luiz Passos concorre em Romance, com O Marechal de Costas, pela Companhia das Letras.

A poetisa e ilustradora Clarice Freire é finalista na categoria Ilustração com Pó de Lua, lançado pela Intrínseca.

Veja aqui os finalistas do Prêmio Jabuti 2017.

OS LIVROS FINALISTAS PERNAMBUCANOS

Durante 50 anos, Francisco Brennand escreveu um diário. Parte dele - mais precisamente, a década de 1963 a 1973 - sucumbiu ao fogo de 300 graus do forno de sua oficina cerâmica, por vontade própria do artista. por serem textos "muito lamurientos. Não eram literatura, apenas desabafo e choramingos”. Mas o que se salvou das chamas dos diários que FB escreveu desde a sua partida para uma temporada na Europa, em 1949, até o ano anterior àquele em que fincou no coração do Recife a sua coluna de cristal, 1999, ficará agora à disposição do leitor em forma de quatro livros contidos numa caixa.

Diário de Francisco Brennand – O Nome do Livro foi a forma escolhida para batizar os três primeiros volumes, que seguem cronologicamente as décadas de 1949 a 1979, 1980 a 1989 e 1990 a 1999. O quarto da série difere de seus irmãos em projeto gráfico e narrativa. Enquanto os primeiros seguem rigorosamente a estrutura de um diário, com entradas de datas e reflexões ao sabor de fatores internos e externos a exercerem pressão sobre o autor, este último, que recebeu o subtítulo de O Nome do Outro, é, nas palavras de quem o escreveu, “uma narrativa folhetinesca, como se o narrador tivesse pressa em conduzir um depoimento que não lhe seria favorável”.

PÓ DE LUA

Formada em publicidade, Clarice chegou a trabalhar em diversas agências do Recife. Entre uma tarefa e outra, escrevia e desenhava, desenhava e escrevia. Ao final do dia, jogava tudo fora. Até que uma amiga 'descobriu' o lixo de Clarice e alertou-a sobre a riqueza literária e visual que havia ali. "Sempre escrevi como forma de sobrevivência, sempre. Sobrevivência interior."

No começo de 2014, Pó de Lua, que havia começado como blog, viraria seu primeiro livro, chegando a mais de 70 mil cópias vendidas. Em julho de 2016, Clarice lançou o segundo: Pó de Lua nas Noites em Claro. No facebook, já são quase 1,3 milhão de curtidores das suas poesias visuais. passo a passo, Clarice segue diminuindo a gravidade das coisas.

Da janela do seu apartamento atual, a poeta e ilustradora Clarice Freire tem um panorama amplo da cidade do Recife. Foi com essa vista, aliada ao silêncio e à solidão da madrugada, que a autora pernambucana criou o seu segundo livro, Pó de Lua nas Noites em Claro (Intrínseca). As noites, o momento preferido dela para refletir, desenhar e imaginar, são o próprio roteiro da história que ela tece com poemas, prosa e, claro, desenhos.

O MARACHAL DE COSTAS

A biografia, diz um personagem do romance O Marechal de Costas (Alfaguara), é uma tentativa de retratar alguém quando só se pode ver as costas dele. Ao tentar abordar no livro o personagem de Floriano Peixoto – o solitário vice-presidente que assumiu o posto e descumpriu a Constituição que mandava convocar novas eleições –, o escritor e professor pernambucano radicado na Califórnia, nos Estados Unidos, José Luiz Passos tentou vê-lo de frente. Não através de meros eventos históricos, mas sim pela principal arma da ficção: a capacidade de imaginar, a partir de indícios (ou os contradizendo), uma vida interior, com pensamentos e conflitos.

Na ficção histórica de José Luiz, o olhar para as figuras do passado é uma forma de entender (ou inventar) as suas motivações. E não só isso: é um caminho para traçar um perfil da formação da nossa República, que já nasceu com eleições indiretas, um vice com ares autoritários e um povo que, quando não via isso como o público passivo de um espetáculo, era duramente reprimido.

A sutileza da obra está quando ela fala do presente. Nele, as manifestações de rua e os discursos da ex-presidente Dilma Rousseff são o pano de fundo, vistas através não da vivência de uma grande figura pública, mas de uma cozinheira que talvez tenha algum parentesco com o marechal presidente. Afinal, talvez as pessoas comuns sejam os melhores protagonistas do hoje. Assim, O Marechal de Costas é uma narrativa – histórica, irônica, sensível e ensaística – sobre as nossas precárias instituições e sobre, como diz a cozinheira, “encontrar um país que não me apunhale”.

 

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