Há um pouco mais de um mês, a literatura pernambucana perdeu o poeta Marcus Accioly, que faleceu no último dia 21 de outubro, vítima de um infarto fulminante aos 74 anos. Uma de suas casas, a Academia Pernambucana de Letras, APL, realiza hoje, às 15h, uma homenagem à memória de Marcus. Na Sessão da Saudade os acadêmicos Alvacir Raposo, Dirceu Rabelo, Reinaldo Oliveira e Antônio Campos vão prestar um tributo ao poeta.
Ocupante da cadeira 19 da Academia Pernambucana de Letras, sucedendo a João Cabral de Melo Neto, Marcus Accioly era uma das principais vozes poéticas da Geração 65 e foi integrante do Movimento Armorial. Era membro emérito e presidente do Conselho Estadual de Cultura e foi secretário executivo do Ministério da Cultura no governo de Itamar Franco, na gestão de Antonio Houaiss. Rigoroso na feitura de seus versos e ambicioso no seu projeto literário, deixa uma obra consistente.
Sua poesia buscava a oralidade dos repentistas, com grande apreço às rimas e as formas fixas, em seus cantos, maneira como se referia aos seus poemas. No último dia 7, o Jornal do Commercio publicou dois dos últimos poemas escrito por Marcus Accioly. Um deles, intitulado Epitáfio, tomou um outro significado após a morte do autor.
"Vivi como vivi, não me perguntem/ Digam: "Viveu o que viveu!" É só / Eu – molhado de água e/ou de lágrima – fui um sopro de Deus e um grão de pó", dizem os versos.
O menino condutor
Pela manhã, o menino,
pela guia, aceso à mão,
puxava um sol amarelo
– chamado Alfa – o seu cão.
À tarde, com a mesma guia,
levava, pela extensão
da praia, uma lua branca,
chamada de solidão.
À noite, pensando nuvens
por bois, por cabras e ovelhas,
era do céu, o menino,
pastoreador de estrelas.
Assim cresceu, com seu sol,
sua lua e com seus astros,
conduzindo, na guiada,
a multidão dos seus pássaros.
Ita-18-10-2017.