Felipe Goifman lança 'Em Busca de Sefarad: De Portugal a Pernambuco'

Na obra, lançada neste sábado (17) no Recife, o jornalista mostra o renascimento da tradição judaica em Pernambuco
Diogo Guedes
Publicado em 17/02/2018 às 12:45
Na obra, lançada neste sábado (17) no Recife, o jornalista mostra o renascimento da tradição judaica em Pernambuco Foto: Felipe Goifman/Divulgação


O jornalista mineiro Felipe Goifman sempre gostou de escrever sobre a formação cultural brasileira – e fotografá-la. Em paralelo, mantinha seu interesse pelas raízes judaicas no Brasi. Ao pesquisar e visitar o Recife e Pernambuco, o repórter encontrou um história rica, intimamente ligada com os judeus sefaraditas portugueses, a perseguição da inquisição, os cristãos novos e a busca por liberdade religiosa. Começava uma pesquisa que geraria o livro Em Busca de Sefarad: De Portugal a Pernambuco, que vai ser lançado no Recife neste sábado (17/2), às 19h, na Synagoga Israelita-Recife, dentro do 2º Congresso Internacional de Antropologia da Religião.

Colaborador da prestigiada revista National Geographic, Felipe traz para o livro – o sétimo da sua carreira –a trajetória dos cristãos novos, contempladas especialmente por fotos impressionantes. Além de ir atrás da origem dos sefaraditas e falar da ocupação judaica em terras pernambucanas, a obra mostra o renascimento do interesse pela religião nos descendentes dos cristãos novos.

“Existe um fenômeno hoje: esses descendentes tomaram consciência do judaísmo deles e estão se convertendo. É algo muito concentrado no eixo Recife-Caruaru e João Pessoa-Campina Grande, mas até no alto Sertão isso acontece. Com a internet, é muito mais fácil aprender a cultura, a liturgia e a religião. A dedicação é impressionante: são praticamente autodidatas”, comenta Felipe.
“Na maior parte das vezes, eles aprendem sozinhos o significado das palavras e das rezas hebraicas, com o auxílio da internet.

studam a religião e a filosofia judaica com extrema força de vontade e uma entrega admirável. Constroem sinagogas, aprofundam-se no estudo da Torá e do Talmud. Leem Maimônides e Nachmânides. Sabem a diferença entre o pensamento de Rambam e Ramban. Têm uma vida judaica tão profunda e dedicada quanto muitos dos judeus ‘oficiais’ dos grandes centros urbanos”, escreve o autor.

O jornalista conta que, atualmente, quem conseguir provar que é um judeu sefaradita tem direito à cidadania portuguesa ou espanhola. Por isso, muitos judeus oficiais renegam os descendentes dos cristão novos que voltaram à religião várias gerações após a perseguição da inquisição. “Acho que é um fenômeno que mistura fé, tradição ancestral e uma tentativa de buscar outra vida”, comenta.

Os resquícios da tradição judaica no cotidiano são poucos – afinal, são séculos de distância, com a proibição religiosa no meio. “A comunidade judaica do Recife é formada por pessoas que chegaram no século 20, vindas em maioria da Europa Central. Os descendentes dos cristão novos meio que enfrentam uma segunda inquisição, porque tentam voltar para o judaísmo, mas não são aceitos pelos judeus oficiais”, aponta o repórter. “Na minha opinião, os descendentes de cristão novos têm um amor tão grande pela religião como qualquer outro judeu oficial.”

Em Busca de Sefarad: De Portugal a Pernambuco traz ainda outros debates da história do judaísmo em Pernambuco. Fala, por exemplo, da pesquisa do inglês Christopher Sellars, que, baseado nos escritos do rabino Franco Lagarto, afirma que a primeira sinagoga das Américas não é a Kahal Zur Israel, no Bairro do Recife, mas a de Maguen Abraham. Como os textos são curtos, a parte mais impressionante da obra são as fotografias, que mostram as paisagens, as liturgias, os espaços e, principalmente, as pessoas que vivem a religião, com imagens feitas tanto em Pernambuco como em Portugal.

DOCUMENTÁRIO

Além do livro, publicado com apoio da Lei Rouanet e com apoio do Centro de História e Cultura Judaica, Felipe prepara um documentário sobre o tema. Com mais de 50 horas de gravação, ele quer transformar a pesquisa em um longa. O cineasta Silvio Tendler vai fazer parte do projeto, que não deve se limitar a Pernambuco. A ideia é fazer uma séria de documentários sobre as comunidades judaicas do Brasil. “Seriam os judeus comunistas de Minas Gerais, os judeus marroquinos do Amazonas, as colônias agrícolas criadas por um Barão no Rio Grande do Sul e a comunidade do Rio de Janeiro e de São Paulo, a maior do País. Em cada uma, vamos levar um olhar diferente”, garante. Agora, os dois procuram entrar nas leis de captação de recursos e ainda buscam parceria com canais brasileiros.

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