Três membros da Academia sueca anunciaram nesta sexta-feira (6) sua demissão, em protesto às divisões que surgiram na instituição que outorga o Nobel da Literatura desde a onda mundial de denúncias de assédio sexual que também a afetam.
Nesta sexta, a questão alcançava proporções maiores. O rei Carlos XVI Gustavo da Suécia foi informado e o diretor-geral da Fundação Nobel, Lars Heikensten, se inquietou publicamente por uma "situação grave e difícil".
A onda de denúncias generalizadas por trás do #metoo permitiram em novembro revelar as estreitas relações entre a academia e "uma personalidade do mundo da cultura" acusada de estupros e agressões sexuais por acadêmicas, esposas de acadêmicos, suas filhas e outras mulheres.
O jornal Dagens Nyheter havia publicado os depoimentos de 18 mulheres que afirmaram ter sofrido violência ou assédio desse homem de origem francesa casado com uma acadêmica, a poetiza e dramaturga Katarina Frostenson.
A academia rompeu ligações com o francês, iniciou uma investigação interna e pôs fim às subvenções ao local de exposições que ele dirige em Estocolmo, frequentado pelas elites culturais.
Segundo Peter Englund, um dos três acadêmicos que renunciou, o caso dividiu profundamente o núcleo da literatura e poesia do país escandinavo.
Um acadêmico, Anders Olsson, indicou que as demissões ocorrem após uma votação com uma maioria de acadêmicos que renovou a confiança em Katarina Frostenson.
Peter Englund, Klas Östergren e Kjell Espmark comunicaram sua decisão oficialmente no dia seguinte da tradicional reunião de quinta-feira da academia em um restaurante de Estocolmo.
"É com muita pena que depois de 36 anos de trabalho na academia, 17 deles como presidente do comitê Nobel, me vejo obrigado a tomar esta decisão", declarou Kjell Espmark em uma carta dirigida à imprensa.
"Desde o momento em que os eminentes membros da academia favorecem a amizade antes da responsabilidade e da integridade, já não posso participar em seus trabalhos", acrescentou.
Klas Östergren denunciou "uma traição ao fundador (da academia, o rei Gustavo III em 1786) e ao seu grande protetor", o inventor sueco Alfred Nobel, que deixou parte de sua fortuna para a instituição.
Os três acadêmicos são membros vitalícios e a princípio não podem se demitir. Mas em uma entrevista ao jornal Svenska Dagladet, a secretária Sara Danius disse que as regras devem ser reformadas para autorizá-lo.
Para Björn Wiman, chefe das páginas culturais do Dagens Nyheter, estes anúncios são "uma catástrofe" para a academia, "em ruínas". Seu homólogo do Aftonbladet, Åsa Linderborg, estima que é "a torre de Babel que desaba"