Ícone da literatura brasileira, Guimarães Rosa completaria 110 anos

Contista, novelista, romancista e diplomata, Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo, Minas Gerais, em 27 de junho de 1908, e morreu no Rio, em 1967
Agência Brasil
Publicado em 27/06/2018 às 23:55
Contista, novelista, romancista e diplomata, Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo, Minas Gerais, em 27 de junho de 1908, e morreu no Rio, em 1967 Foto: Foto: Reprodução de vídeo/TV Brasil


"Sou só um sertanejo, nessas altas ideias navego mal. Sou muito pobre coitado. Inveja minha pura é de uns conforme o senhor, com toda leitura e suma doutoração. Não é que esteja analfabeto. Soletrei, anos e meio, meante cartilha, memória e palmatória”.

A genialidade e as vivências de João Guimarães Rosa nos sertões do norte de Minas Gerais fizeram surgir preciosidades da literatura brasileira, como os trechos acima de Grande Sertão: Veredas, romance do autor, publicado em 1956. Hoje (27) é celebrado 110 anos do nascimento de Guimarães Rosa que reproduziu a essência do sertanejo e eternizou o sertão em suas obras. Também escreveu o livro de contos Sagarana e o ciclo novelesco Corpo de Baile.

Contista, novelista, romancista e diplomata, Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo (MG) em 27 de junho de 1908, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ) em 19 de novembro de 1967. É um dos autores mais estudados e Grande Sertão: Veredas um dos livros mais importantes da literatura brasileira.

O Instituto de Estudos Brasileiros, da Universidade de São Paulo, possui um banco de dados bibliográficos dedicado exclusivamente a Rosa, com quase 5 mil registros.

“É um dos maiores artistas da palavra do país, leitor de dicionários, um colecionador de palavras e expressões, um estudioso de línguas”, define o professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), Gustavo de Castro e Silva, que faz um estudo biográfico aprofundado de Guimarães Rosa, para montar o perfil e uma linha do tempo da vida do autor.

Segundo o professor, era um homem muito voltado para a família e para o trabalho, que não gostava de ter a vida social exposta. Um mineiro quieto por natureza e introvertido. Amigo de Juscelino Kubitschek, Guimarães Rosa assinou muitos passaportes de judeus durante a segunda guerra mundial, para virem ao Brasil, enquanto era cônsul em Hamburgo, na Alemanha, de 1938 a 1942. “Foi um homem muito sensível”, disse o professor.

Castro e Silva conta que Grande Sertão: Veredas foi escrito de “supetão”, em apenas sete meses. “Ele foi um desdobramento de Corpo de Baile, era um conto desse livro e aí o conto foi crescendo e virou Grande Sertão: Veredas”, contou.

A narrativa é marcada por neologismos e regionalismos. “Ele inaugura um tipo de liberdade poética na literatura brasileira. Quando ele está na França, na Alemanha, ele não esquece Minas Gerais. A saudade de Minas Gerais é crucial para sua elevação, ele escrevia com saudade do sertão”, disse o professor.

O Caminho do Sertão

Inspirada na obra de Guimarães Rosa, a Agência de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Vale do Rio Urucuia em correalização com a prefeitura de Arinos (MG) desenvolve desde 2014 o projeto O Caminho do Sertão, que promove um mergulho socioambiental e literário no universo do escritor e no cerrado sertanejo.

Este ano, 57 pessoas foram selecionadas para a caminhada de 186 quilômetros pelos vales dos rios Urucuia e Carinhanha, entre os dias 7 e 15 de julho. A jornada, que começa em Sagarana (MG), percorre parte do caminho realizado pelo personagem Riobaldo e seu bando, figura central do livro Grande Sertão: Veredas, passando pelo platô Liso do Sussuarão, na Serra das Araras, e terminando em Chapada Gaúcha (MG).

A estudante de licenciatura em História, Julia Chacur, de 21 anos, fez a caminhada no ano passado. “Encontro é uma das palavras que usaria para descrever essa experiência”, contou à Agência Brasil. “Foi também um reencontro com Guimarães Rosa. Já tinha lido o livro, mas lá me reencontrei com a literatura, os espaços e a linguagem […] Foi uma experiência de intimidade com o livro, o povo e a paisagem”.

Além do reencontro com a literatura, Julia relata a partilha e a cumplicidade com as outras pessoas que fazem a caminhada, além da experiência íntima que viveu. “Outro encontro muito importante, é o encontro consigo mesmo. É uma experiência transformadora”, disse, contando sobre as intervenções culturais que vivenciou durante a caminhada.

O projeto Caminho do Sertão é colaborativo e conta com patrocínio da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, várias parcerias e uma campanha de financiamento coletivo, para quem quiser contribuir.

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