A origem do movimento cartonero é quase didática: nasceu em 2003 em uma Argentina mergulhada em uma crise econômica pelas mãos do escritor Washington Cucurto. A ideia dele foi produzir livros acessíveis, baratos e artesanais, praticando preceitos da economia solidária. Assim, para produzir as capas em papelão dos livros, o autor e o editor se juntavam com os catadores urbanos. Já como movimento estabelecido, as editoras cartoneras foram se espalhando por diversos pontos do mundo – e Pernambuco se tornou um do locais que mais abraçou a filosofia de produção.
Até por isso, não haveria um lugar melhor para sediar o primeiro encontro de grande porte do assunto do que o Estado. De 1º até 23 de setembro, o Festival Internacional Cartonera vai organizar oficinas, debates e lançamentos no Recife e em outras cidades do Estado. Para os interessados, as inscrições gratuitas para as 14 oficinas e 2 minicursos estão abertas até este sábado (25) no site www.nospos.com.br.
Com curadoria e produção de Alexandre Melo, da Nós Pós, o evento vai trazer o criador do movimento, Washington Cucurto, para a abertura da programação de mesas, entre 21 e 23 de setembro. Ainda participam, entre mais de 30 nomes, as editoras Idália Morejón Arnaiz (Cuba), Olga Sotomayor (Chile) e Lúcia Rosa (São Paulo). Além disso, o evento vai contar com a Feira Internacional Cartonera nos dias 22 e 23 de setembro e o lançamento da Antologia Nós Cartonera, criada durante o próprio festival.
Para o produtor, o movimento cartonero “é o mais expressivo exemplo das transformações culturais e sociais neste século na América Latina”. “É um movimento que engloba diversos aspectos de uma sociedade madura e evoluída: é solidário, sustentável, democrático, acessível; também fortemente político (mas não partidário) e filosófico. Bota abaixo diversos modelos sociais ultrapassados e decadentes, mas persistentes, como a meritocracia e capitalismo”, explica Alexandre.
Com as oficinas, Alexandre explica, a ideia é fomentar atividades em espaços descentralizados da Região Metropolitana, incentivando novos autores e selos editorais. “O método artesanal é sistematizado, de fácil ensino, usa ferramentas acessíveis e pode ser copiado e replicado por qualquer pessoa. Isso é sustentabilidade em essência: mostrar onde conseguir as sementes (e evitar agrotóxicos), ensinar a plantar e cuidar, colher, vender a baixo custo e permitir que qualquer pessoa possa empreender; e quanto mais gente empreendendo, melhor. Pois não falta sementes nem bocas”, define o curador.
Nos dias 10 e 11 de setembro, acontece a oficina Cartonerismo para Jovens, ministrada pelo Coletivo Tear, em Garanhuns. Dia 13, Idália Morejón Arnaiz comanda um curso em São Paulo, dentro da USP. Em Lagoa dos Gatos, Patrícia Vasconcellos vai trabalhar com as comunidades quilombolas do Cavuco e Pau Ferrado com o intuito de criar um selo editorial no local. No dia 17, Philippe Wollney comanda a Publique-se ou Pereça, em Goiana. Patrícia Cruz Lima, Fred Caju, Washington Cucurto e Olga Sotomayor, entre outros, ainda comandam cursos até o final do evento. Informações sobre as atividades também estão disponíveis no site da Nós Pós.