Desde a juventude, o poeta Marcelo Mário de Melo fez da sua vida o campo do política. Passou oito anos preso na luta contra o regime militar e chegou a perder 27 amigos assassinado, torturados e desaparecidos por conta da ditadura. A esperança de um mundo mais justo faz parte do seu cotidiano. Até por isso, na sua trajetória de quase 40 anos como escritor, a poesia e a militância nunca estiveram muito distantes: se misturam e se recriam.
Marcelo apresenta nesta quarta (12), a partir das 19h, no Porto Digital, o seu novo livro de poesia: Dicionário Poético Militante (NEP e MMM Produtos Culturais). A obra, como o nome indica, é um catálogo poético – um deles, o poema Bandeiras, vai ser lançado como pôster também, com ilustração de Anacleto Elói. O volume traz, com diversas homenagens a amigos e colegas de luta, um pequeno recorte da “literavida” do autor, como ele gosta de chamar.
“Para mim, não existem coisas poéticas e não poéticas. Existe o olhar poético ou não poético sobre as coisas. A poesia não estranha nada que a vida conhece. Tudo que você vivencia pode ser um poema. O que é estranho é o artificioso, o que não tem conexão com a vida”, conta Marcelo, que tem outros 28 livros organizados, entre peças, obra infantis, contos, poemas e manifestos poéticos. “A poesia e política se misturam quando elas saem do imediatismo, têm uma visão crítica dos caminhos e observam o processo histórico.”
Ao longo do livro, o autor vai destacando as semelhanças e os conflitos da junção entre militância e literatura. “Mas política e poesia/ alargam a vida da gente”, escreve. Em outro momento, ao citar bombas, traz sua utopia: “Eu quero uma bomba diferente/ que exploda o coração de toda gente”. Também reflete sobre os percalços e descaminhos da militância de esquerda. “O dogma é construir a ponte/ bem antes de o rio ter nascido”, ironiza.