Ivete Sangalo e Criolo comandam bailão de soul brasileiro para Tim Maia

A cantora Ivete Sangalo é uma danada. Se deixar, ela toma conta do pedaço e deixa sua estrela brilhar sozinha. Na avant-première para convidados do Nivea Viva Tim Maia, no Vivo Rio, quarta à noite, a rainha do axé quase faz da apresentação um show particular. O comedido rapper paulista Criolo aceitou o papel de coadjuvante, com elegância, embora mostrasse todo o seu talento. Talvez tenha sido melhor assim. Suas participações foram intensas e marcantes, valorizando cada canção e dueto com a carismática baiana. 

Com um repertório de 28 canções pinçado da fase áurea de Tim Maia – anos 1970 até meados dos anos 1980. Estão presentes no show todos os grandes sucessos de Tim Maia. As músicas de baile black music (Vale tudo, Do leme ao pontal, Sossego, Acende o farol`) às baladas românticas que varia de melodramaticidade e o teor da dose de açúcar, indo de belas canções a outras de gostos duvidosos (Me de motivo, Leva, Um dia de domingo, Lábios de mel, O que me importa, Telefone). Mostra a ousadia de Tim Maia ao revisitar a música nordestina (Coroné Antonio Bento e Canário do reino) e as viagens dele na época de Racional (Imunização racional)

A grande noite de soul brasileiro começou no maior pique com a superbanda comandada por Daniel Ganjaman, também diretor musical, mostrando logo a que veio e Ivete Sangalo cantando Não quero dinheiro, colocando um caco na letra: “Por que eu te amo/ Eu te quero Tim”, entoou, no lugar de dizer “Eu te quero bem”.

Em seguida veio Gostava tanto de você, Você e Azul da cor do mar, com a primeira das muitas declarações de amor de por Tim Maia. O público já começava a se inquietar com o show particular de Ivete à espera de Criolo, quando ele entrou para cantar Primavera e Chocolate, tendo ao fundo um belo cenário psicodélico de led. E aí veio a surpresa: o rapper sumiu para a rainha do axé comandar o show, emplacando seis canções – Imunização racional (Que beleza), Bom senso, Réu confesso, Telefone, Não vou ficar e O que me importa. Cantora de axé acostumada a levantar a multidão em trios elétricos, Ivete se empolga tanto que, numa canção romântica como essa última, ela interpreta sem transparecer a devida emoção melodramática.

Criolo volta no clima romântico de Lamento para o primeiro grande momento dos dois juntos. O show vira um bailão de black music com Sossego e o medley Do leme ao pontal e Eu e você, você e eu. Foi a senha para o público, até então comportado, se levantar para dançar, incluindo Carmelo Maia, o filho e herdeiro de Tim. 

O rapper permaneceu para cantar Ela partiu, Eu amo você (dedicada aos pais dele, que faziam aniversário de casamento) e o forró transformado em rockão Coroné Antonio Bento, tendo no telão uma montagens com imagens do filme Baile perfumado (Lírio Ferreira e Paulo Caldas). O Nordeste revisitado por Tim também estava presente em Canário do reino. Para baixar a temperatura, veio um set romântico, com os cantores se alternando Leva (Ivete), Me dê motivo (Criolo), Um dia de domingo (Criolo e Ivete Sangalo) e Lábios de mel (Ivete).

A partir daí, o baile volta a se animar, rumo ao finale: O descobridor dos sete mares (Ivete), Acende o farol e o bis de Não quero dinheiro (os dois). Eles voltariam ainda para cantar Vale tudo e o medley Sossego/ Do Leme ao Pontal.

Antes da abertura, o jornalista, crítico musical, produtor, escritor Nelson Mota gastou todos os seus superlativos para elogia o amigo Tim Maia, de quem escreveu a mais completa biógrafa. Para isso, chegou a cometer deslizes e a dizer que jamais alguém tinha criticado a qualidade das músicas de Tim Maia. E foi cariocamente irônico ao falar da vida desregrada e do temperamento do síndico.

O show Nivea Viva Tim Maia mudou de lugar no Recife. Foi transferido do Parque Dona Lindu, onde foram realizadas as três primeiras edições, para a Praia do Pina e ocorre no dia 26 deste mês, às 16h30.

A estreia da turnê será em Porto Alegre (31/4) e passa ainda por Salvador (24/5), Fortaleza (31/5, pela primeira vez), Brasília (14/6), Rio de Janeiro (21/6) e São Paulo (28/6).

A primeira edição do projeto teve como homenageada a cantora Elis Regina, num show com a sua filha Maria Rita, em 2012. No ano seguinte, A bossa nova de Tom Jobim ganhou uma nova interpretação através de Vanessa da Mata. E no ano passado, o projeto celebrou o samba, com Alcione, Diogo Nogueira, Martinho da Vila e Roberta Sá

O jornalista viajou a convite do Nivea Viva Tim Maia