Valsinha para Naná, em solo de trompete do autor, o Maestro Forró, foi com esta música que começou a entrevista coletiva que o percussionista Naná Vasconcelos, e a equipe médica que está cuidando dele, concederam neste sábado (12), numa unidade da Unimed, nos Coelhos. Naná entrou na sala cumprimentando a todos (estavam lá também alguns parentes dele). Mais magro, com uma bandana na cabeça, “Mas não porque os cabelos estão caindo, minha mulher e minha me deram para usar na apresentação que vou fazer em Maceió”, garantiu Naná, que neste sábado foi liberado pelos médicos para ir para casa.
No entanto, o tratamento continua por mais alguns dias, explicou a oncologista Penélope Araújo: “Naná está sendo tratado com a tecnologia extremamente avançada. Porém só depois deste tratamento é que vamos fazer uma avaliação do seu quadro”, explicou a médica. Ao lado da mulher, Patrícia, Naná diz que continua sua vida normal. Dentro de alguns dias, recebe o músico Egberto Gismonti, com quem inicia um novo projeto, e ainda este mês volta aos palcos, para participar de um festival em Maceió: “Acho que tenho condições para isto. Não vou fazer muito esforço, toco durante apenas 25 minutos”.
O músico, de 71 anos, considerado um dos mais importantes percussionistas do mundo, um dos poucos brasileiros cujo nome faz parte do mapa genealógico do jazz, está internado desde o dia 18 de agosto, quando se constatou, em exames de rotina, um tumor localmente avançado no pulmão esquerdo: “Não estava sentindo nada, quando vim pegar os exames, a médica me disse que eu iria ficar internado. Até agora está 1 a 0 pra mim, porque me programei para entrar na situação. Não senti os efeitos do tratamento, não tive náuseas, continuo me alimentando normalmente, fazendo música. Só não estou escrevendo um livro, porque não sou escritor”, comentou o músico. Os médicos elogiaram a forma como ele está enfrentando a doença, para ele um exemplo para pessoas em situação semelhante: “Ele desmitifica a doença, acho importante que ele fale isso para a sociedade, que está enfrentando a situação de forma tão positiva”.
A coletiva teve mais música, de um violonista, com o percussionista Sérgio Bacalhau, que mora na França, numa canção suingada, que citava Naná e o movimento mangue, e do coral Voz Nagô, que participa da abertura do Carnaval com Naná e os batuqueiros das nações de maracatu. Um trio de moças que cantou o maracatu Nação Nagô, e Macumba be be, de Villa-Lobos, um dos autores preferidos de Naná Vasconcelos. O último trabalho do músico foi lançado esta semana, o disco Café no Bule, dividido com o maranhense Zeca Baleiro e o paulista Paulo Lepetit (Selo Sesc).