No fundo do poço de Vanusa, há uma mola. "Vou até o fundo. Quando bato lá, 'vrá', volto feito um caminhão", diz a cantora, imitando com as mãos a propulsão do objeto. "E ninguém me segura."
Aos 68 anos, ela acaba de lançar "Vanusa Santos Flores", o primeiro álbum de inéditas em 20 anos, produzido por Zeca Baleiro.
Fala sobre o trabalho com a seriedade de quem trata este como o CD de sua vida. O retorno após ter se internado em uma clínica psiquiátrica, por vontade própria, para tratar de uma depressão. Vanusa caiu em desgraça quando errou a letra do hino nacional, em 2009, durante uma sessão na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Reclusa, recebeu uma ligação de Baleiro propondo um novo projeto ainda na clínica. Topou. A ideia, que de início a deixou receosa, acabou ajudando em sua recuperação. "Estou retomando ritmo, o corpo voltando a se acostumar", afirma a cantora. "É a volta da mola."
"Para que servem os sentimentos, de dor, mágoa, traição? Para que se tornem música, para que se leve às pessoas esse sentimento", conta Vanusa, que assina duas canções do repertório - "A Traição" e "Tapete da Sala".
O álbum também tem composições de Angela Ro Ro, Zé Ramalho e "Esperando Aviões", do mineiro Vander Lee, uma de suas favoritas.
Em seu retorno, porém, Vanusa ainda enfrenta alguns percalços. Em junho, ela cancelou de última hora uma apresentação na Virada Cultural - um dueto com Martinha, para homenagear a Jovem Guarda.
"Minha pressão caiu muito, comecei a sentir dores no peito", ela explica. Nervosismo e medo de subir ao palco se misturaram ao sintomas de labirintite, de que sofre, naquela manhã. "Tenho que segurar a ansiedade, levar as coisas com mais calma. E é isso o que estou fazendo."
Ainda com ressalvas para sair em turnê, a cantora reservou um agrado para fãs. Cortou uma mecha do cabelo loiro, "20 macinhos", para distribuir entre duas dezenas de fãs, autores dos melhores posts nas redes sociais com a hashtag #LoucurapelaVanusa.