Mac DeMarco promove festejo indie em São Paulo

A turnê do músico pelo Brasil tem uma parada em Olinda, dia 28 de novembro, com um show no Clube Atlântico
Pedro Antunes/Agência Estado
Publicado em 23/11/2015 às 11:12
A turnê do músico pelo Brasil tem uma parada em Olinda, dia 28 de novembro, com um show no Clube Atlântico Foto: Cole Brown/Divulgação


Era um daqueles shows que não se podia tirar os olhos do palco. Bastava se virar para conversar com o amigo, sair para comprar cerveja ou ir ao banheiro e talvez você perdesse alguma maluquice protagonizada por Mac DeMarco, canadense responsável por encerrar as atividades da segunda edição do Balaclava Fest, simpático festival indie realizado na noite deste sábado (21/11), na igualmente simpática Audio Club, em São Paulo. 

DeMarco parece não conseguir ficar quieto quando está sobre o palco. Nem muito tempo no mesmo lugar. Ainda bem, aliás. Dinâmico, ele conversa, pula e anda de um lado para o outro, enquanto um público devoto aplaude cada nova invencionice do performer. Sequer parece que ele está em meio a uma intensiva turnê pelo Brasil, iniciada na sexta-feira (20/11), quando ele se apresentou no festival Se Rasgum, em Belém do Pará.

Depois de São Paulo, ele viaja pelo País para tocar no Rio de Janeiro (dia 22/11), Curitiba (26/11), Porto Alegre (25/11), Recife (28/11) e Brasília (29/11). Aos 25 anos, DeMarco está cheio de fôlego - nem mesmo os cigarros, fumados um atrás do outro fora do palco, parecem comprometer o pique do rapaz. 

A escolha de figurino do canadense, um macacão com estampa militar, é adequada. O rapaz é indie até a raiz dos cabelos, desta vez bem aparados, diferentemente da última passagem por aqui, no ano passado, quando exibiu uma juba armada em dois shows no Sesc Belenzinho, também em São Paulo. 

 

Mac ?

Um vídeo publicado por Balaclava Records (@balaclavarecords) em Nov 21, 2015 às 7:13 PST

 

POPULARIDADE

DeMarco constrói, aos poucos, uma popularidade invejável. A casa não estava cheia como já se viu em outros shows ou festivais realizados por ali, é verdade, mas havia uma concorrência desleal no roteiro de shows da cidade naquele sábado. Para aqueles com gostos mais melancólicos, Morrissey tocava no Citibank Hall. Já os fãs de brasilidade, a dica imperdível era Gal Costa apresentando canções do com seu belo álbum Estratosférica no Tom Brasil.

O canadense ficou com a fatia "indies dos indies" paulistanos. Sua esquisitice sonora, as guitarras deslizantes e a voz preguiçosa vêm aos poucos de encontro ao pop, a cada novo disco lançado, mas ainda está distante de ser algo palatável e fácil para ouvidos acostumados ao som radiofônico. 

No palco, tudo soa mais orgânico e roqueiro do que nos álbuns, aliás. A banda de apoio de DeMarco, formada por Andrew Charles White (guitarra), Pierce McGarry (baixo), Joe McMurray (bateria) e Jon Lent (teclado), é a grande responsável por isso. O quarteto segura a onda seja nas baladas, como a vagarosa Another One, canção que dá nome ao minidisco que DeMarco lançou neste ano, quanto em um pesadíssimo cover do Metallica - sim, houve espaço para uma versão indie-encontra-metal de Enter Sandman, já no bis, já às 2 horas da manhã. 

A primeira edição do Balaclava Fest, festival criado pelo selo Balaclava Records e pela produtora Brain Productions, foi realizada em abril deste ano, com duas noites, encabeçadas pelo veterano Mac McCaughan (músico do grupo Superchunk em projeto solo) e pela cool The Shivas.

Desta vez, centrado em apenas uma noite, o festival levou seis horas de música para a Audio Club. Aproveitou-se da estrutura do local para preparar dois palcos, assim como no Popload Festival, hospedado lá em outubro. No salão principal, passaram DeMarco e as brasileiras Mahmed e Terno Rei. Já o chamado Clubinho, lugar mais intimista, apropriado para DJ sets, recebeu Jovem Palerosi, Nuven e um show enxuto da banda Séculos Apaixonados. 

Mahmed, banda instrumental de Natal, deu início aos shows principais do festival. Sem vocais, o grupo soube criar uma atmosfera contemplativa. O público, que ainda chegava, era hipnotizado pela dança entre guitarra, sintetizadores e baixo. Assim como os potiguares, o Terno Rei produziu no palco canções viajantes, vagarosas, como pequenas viagens oníricas guiadas pelos cinco ali no palco.

A curadoria acertou em reunir, no mesmo palco, diferentes cores de um mesmo dream pop. Era possível ver um bom punhado de rapazes com o figurino indie - com camisa estampada de manga longa, guardada dentro da calça curta o suficiente para exibir as meias - dançando de olhos fechados, simplesmente aceitando a viagem proposta sonora de Mahmed e Terno Rei. 

Era, contudo, a insanidade de DeMarco que todos esperavam ali. E o rapaz, que recentemente se mudou para o subúrbio de Nova York e revelou seu endereço para que os fãs pudessem visitá-lo e tomar uma xícara de café, não decepciona no palco. É bem-vinda a transformação do canadense ao longo dos seus discos. Desde o jocoso Rock and Roll Night Club (2012) até Another One (2015), o músico se lapidou. Passou a compor no teclado, não mais com a guitarra, e a mudança alterou todo o epicentro de suas canções de amor. 

É curioso que, por trás daquele sorriso fácil - inconfundível, graças ao seu diastema -, e canções marcadas pela leveza, estejam letras tão melancólicas. Não que DeMarco e seu público se deixem levar por isso. Ele pula no palco, eles pulam a sua frente. E, em dado momento, o canadense escalou o camarote do lado direito como Eddie Vedder na juventude e se arremessou no plateia, sem cerimônia. Era piscar ou olhar para o lado e, pronto, DeMarco já estava perdido na multidão. 

 

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