Conheça a trajetória de MC Bin Laden, o autor do hit 'Tá Tranquilo, Tá Favorável'

Funkeiro paulista fez a cabeça de Neymar, Lucas Lucco e renomados DJs internacionais. Com 28 milhões de views no YouTube, ele promete vir ao Recife
GGabriel Albuquerque
Publicado em 01/03/2016 às 8:35
Funkeiro paulista fez a cabeça de Neymar, Lucas Lucco e renomados DJs internacionais. Com 28 milhões de views no YouTube, ele promete vir ao Recife Foto: Foto: Divulgação


A essa altura da história, é praticamente impossível não ter ouvido por aí o bordão “tá tranquilo, tá favorável”. A música do MC Bin Laden, postada no YouTube em novembro do ano passado, já passou a marca das 28 milhões de visualizações e virou meme na internet. O hit também chegou às celebridades. Neymar comemorou um gol no Campeonato Espanhol fazendo “o sinal da Hang Loose, o famoso sinal do Ronaldinho”. O sertanejo Lucas Lucco juntou-se ao MC e lançou no programa Fantástico, da TV Globo, uma nova versão da música. Até mesmo Mick Jagger, no show dos Rolling Stones no Rio de Janeiro, chegou a mandar um “tá favorável”, em referência à letra do funk, antes de cantar Hunky Tonk Women.

Mas se engana quem pensa que Bin Laden surgiu agora, do nada, impulsionado por dinheiro de gravadora. Com 22 anos de idade, Jefferson Cristian dos Santos (seu nome de batismo) já canta funk há nove. Ele começou sob o nome artístico de MC Jeeh 2K nas rodas de MCs e nos fluxos (bailes de rua armados com som automotivo) da favela da Vila Progresso, Zona Leste de São Paulo, onde nasceu. Virou o MC Bin Laden em 2014, quando assinou contrato com a pequena produtora KL e tinha como música de divulgação Bin Laden Não Morreu.

Desde o começo, o cantor segue o caminho aposto do tripé dinheiro, mulheres e fama do funk ostentação. “Eu queria misturar o (funk) proibidão com um lance mais teatral”, explica em entrevista por telefone. Ele define seu show como Baile do Afeganistão, onde conta com os dançarinos chamados de Iraquianos. Todos tem o cabelo divido em duas cores, que segundo Bin Laden representam o equilíbrio.

Os vídeos para as músicas normalmente são filmados na pequena casa-estúdio da KL, no meio da rua, ou até no ônibus e postados no YouTube ou diretamente no Facebook. Nada muito produzido – a exceção é o clipe de 25 minutos da mesma Bin Laden Não Morreu. O som é frenético e explosivo como filmes de ação hollywoodianos. Falam de perseguições, pilotar motos na velocidade máxima, cheirar lança-perfume, fumar maconha ou mesmo temas aleatórios, caso de Passinho do Faraó (“Tumba/ Tumba/ Tumba/ O faraó saiu da tumba”) e Tipo Camelo no Iraque ("Aaah!/ Tipo camelo no Iraque/ Invés de tomar água tá tomando Johnny Walker”). Tudo é levado com um espécie de humor nonsense e aberrante e um senso de diversão irresistível. Mas, evangélico, ele adverte que não canta mais sobre drogas. “Eu cantava porque era moda. Eu vivia isso, via as pessoas usando onde nasci. Mas não quer dizer que você tem que ser assim”, opina.

“Eu sou meio louco e as pessoas gostam de minha loucura”, brinca Bin Laden

Como no funk de modo geral, as batidas são parte fundamental nas músicas de Bin Laden. Erguidas a partir de sons guturais, as bases criadas em parceria com o Mano DJ são quebradas, inusitadas e, de certo modo, experimentais – vide Bala Love e Sem Querer Pisei no Cachorro, que usa o som de um cachorro chorando para criar seu ritmo. Os timbres e a sensação de espacialidade remetem ao trap americano, deixando de lado aquela sonoridade do Miami Bass presente no estilo tamborzão dos anos 1990. Ao mesmo tempo, utiliza sons de marcha de moto, gritos, tiros e explosões, provenientes das vertentes do proibidão e do funk apologia.

Sob esse pano de fundo, Bin Laden canta com um tom e cadência que acentuam um rap mal-encarado – como em 12 Calibre e Telefone no Grampo. Transita então pelas bordas do funk e do rap. “Sempre ouvi e gosto de tudo. Gospel, rap, samba, às vezes pop. Sempre curti e não consigo dizer qual é mais importante pra mim”, diz o MC. Sobre a classificação de sua música, ele afirma: “Uns chamam de funk comédia ou de funk criativo. Eu não sei botar o nome, mas é diferenciado e isso conta muito”.

LOLLAPALOOZA

As batidas e misturas contagiantes da música de Bin Laden conquistaram também artistas de fora do Brasil. Ano passado, a cantora islandesa Björk discotecou numa balada em Nova York a música Sabe Que Dia é Hoje?, do MC 7Belo e MC Brinquedo, parceiro de Bin Laden em diversas músicas e clipes. No mesmo ano, O DJ Skrillex incluiu a música Haha Bololo na playlist Skrillex Select, espaço onde ele recomenda faixas que tem ouvido e também fez um remix, que incluiu em seu setlist.

O grupo Major Lazer, dos produtores Switch e Diplo, também gravou uma versão da mesma música. Para completar, no Lollapalooza de 2015, fizeram um medley de funk que, além de Bololo, tinha Passinho do Volante (“Ah Lelek, lek lek”), Beijinho no Ombro, entre outros funks. 

Na edição deste ano, o Lollapalooza Brasil tem em seu lineup Jack Ü, projeto de Diplo e Skrillex. Espera-se que Bin Laden faça uma participação especial no show, mas nada está confirmado ainda. “Eles são meus parceiros. Vou ver o show deles, mas não sei ainda se vou cantar”, diz Bin Laden, que promete uma passagem pelo Recife em breve.

O produtor carioca Omulu também remixou algumas faixas de Bin Laden, como Passinho do Faraó e Tá Traquilo, Tá Favorável. Essas versões, tanto nacionais quanto grigas, geram um debate polêmico sobre apropriação cultural.

Omulu, numa entrevista ao JC em outubro do ano passado, quando tocou no Coquetel Molotov, opinou: "Isso já aconteceu no passado com o samba e o jazz nas mãos de artistas como Vinicius de Moraes e Baden Powell e acho que só ajudou a fortalecer o samba e a música brasileira". "Quem acredita em  higienização ou apropriação cultural tem que compreender que a música naturalmente utiliza um tipo de processo darwinista pra evoluir, assim como a linguagem e a cultura, ela se replica, varia, se recombina e é selecionada. Isso sempre existiu mas mas era um processo muito lento e com a globalização e ainda a explosão da internet essa transformação está completamente fora de controle. Não só o funk, mas toda a música contemporânea mundial está se misturando muito rapidamente", diz o músico. 

Ao vir ao Brasil gravar com Bin Laden, Diplo, em entrevista ao site Thump, também comentou a questão. "Eu trabalho com todo mundo. As pessoas esperavam que eu ainda estivesse na Flórida? Fazendo música country ou miami bass? Eu sempre fui atraído pela fusão de culturas, eu cresci vendo isso. Por exemplo, eu conheci o Zegon em 2003 e ele também já misturava música aqui do Brasil com hip hop. O próprio baile funk começou misturando samba com Miami bass. Tudo é uma questão de paixão pela música. Eu acho que hoje todos pertencemos a um só grupo. Uma geração que faz música sem nenhuma regra. E além disso, precisamos vender nossa música pra fazer dinheiro. A gente tem filhos, pensão pra pagar, isso custa caro pra p****!"

Bin Laden promete novas bombas sonoras

O mais interessante em MC Bin Laden é sua espontaneidade e esquisitice assumida. A parceria com Lucas Lucco em um clipe para a Rede Globo com celebridades como Luciano Hulk, Anitta, Thiaguinho, Sabrina Satto etc, no entanto, transformou tudo em plástico, sem gosto e sem força. O funkeiro, no entanto, pensa diferente. 

“Primeiro, eu dou glória a Deus por tudo que vem acontecendo. Eu vejo meu som abrindo portas pro funk. A gente vê que o funk ainda não tem aquele palco, aquela atenção toda que os outros estilos musicais têm. É só um camarim e uma balada. Agora, o funk já consegue se abrir e abranger mais pessoas, sendo o principal fator disso tudo quando o nosso som roda mundo afora. Conquistar o público, conseguir cantar pra mais de 10 mil pessoas, conseguir atingir outras pessoas... Eu só vejo isso com bons olhos”, afirma.

Com o êxito de sua carreira, o cantor agora sustenta a sua família com o dinheiro do funk. Além disso, deixou a Zona Leste e foi morar no bairro Jardim Maria Estela, na Zona Sul de SP, mais próximo do estúdio da KL, no Jardim Botucatu.

Confiante, Bin Laden não teme nem um pouco ficar preso ao sucesso de Tá Tranquilo, Tá Favorável e ser esquecido depois disso. “Acho que é o contrário. Eu já tenho uma história, não é uma coisa só de agora. Já tinha muitos acessos no YouTube antes de ir no programa (Encontro) da Fátima Bernardes. Eu já apareci no meio da música e ver onde a gente pode chegar me faz acreditar que pode vir até mais sucesso”, analisa. “Eu sou meio louco e as pessoas gostam de minha loucura”, brinca ele.

Apesar de não confirmar nada, Bin Laden diz que planeja realizar shows junto com o amigo Lucas Lucco. Além disso, para dar continuidade ao bom momento, ele está gravando um mega medley e mais quatro novas músicas, que também ganharão clipes. “Agora vai ser bomba atrás de bomba”, promete.

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